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Embora por lá circulassem pessoas de diversos lugares, o uso de chapéus com grandes abas era típico das Minas Gerais. À direita, de poncho azul, um gaúcho. Ao seu lado, um paulista. Aquarela sobre papel (18,5 x 27,7 cm) de Jean-Baptiste Debret. Domínio público, Museus Castro Maya

O grande fluxo de pessoas na região das minas produzia uma estrutura social diferenciada. Dela faziam parte os setores mais ricos da população, chamados "grandes" da sociedade – mineradores, fazendeiros, comerciantes e altos funcionários, encarregados da administração das Minas e indicados diretamente pela metrópole.

Compunham o contingente médio, em atividades profissionais diversas, os donos de vendas, mascates, artesãos (como alfaiates, carpinteiros, sapateiros) e tropeiros. E, ainda, pequenos roceiros que, em terrenos reduzidos, entregavam-se à agricultura de subsistência. Plantavam roças de milho, feijão, mandioca, algumas hortaliças e árvores frutíferas. Também faziam parte deste grupo os faiscadores – indivíduos nômades que mineravam por conta própria. Deslocavam-se conforme o esgotamento dos veios de ouro. No final do século XVIII, essa camada social foi acrescida de elementos ligados aos núcleos de criação de gado leiteiro, dando início à produção do queijo de Minas. Incluíam-se também nessa camada intermediária os padres seculares. Na colônia, poucos membros do clero ocupavam altos cargos como, por exemplo, o de bispo. Este morava na única cidade da capitania: Mariana.

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Festa da Rainha, manifestação cultural das camadas mais populares da sociedade mineradora. Litografia (46 x 59 cm) de Johann Baptist von Spix, 1823-1831. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Por outro lado, crescia na capitania real o número de indivíduos sujeitos às ocupações incertas. Vivendo na pobreza, na promiscuidade e muitas vezes no crime, não tinham posição definida na sociedade mineradora. Esta camada causava constante inquietação aos governantes. Ela era geralmente composta por homens livres: alguns brancos, mestiços ou escravos que haviam conseguido alforria.

O Estado, percebendo a necessidade de agir junto a essa população incapaz de prover seu próprio sustento, associou a repressão à "utilidade". O encargo que eventualmente representava transformava-se, através do castigo, em trabalhos diversos e, consequentemente, em "utilidade".

Esta população, entendida como de "vadios", recrutada à força ou em troca de alimento, foi utilizada em tarefas que não podiam ser executadas pelos escravos, necessários ao trabalho da empresa mineradora. Era frequente a ocupação destes que eram vistos como desclassificados sociais na construção de obras públicas, como presídios, Casa de Câmara, entre outras. Também compuseram corpos de guarda e de polícia privada dos "grandes" da sociedade mineradora, ou ainda empregavam-se como capitães do mato. Em outras situações, como na disputa pela posse da Colônia do Sacramento, participaram dos grupos militares que guardavam as fronteiras do Sul.

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O trabalho mais pesado era feito pelos escravos. Gravura de Carlos Julião, último quarto do século XVIII. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Os escravos, ali como de resto em toda a colônia, representavam a força de trabalho sobre a qual repousava a vida econômica da real capitania das Minas Gerais. Vivendo mal alimentados, sujeitos a castigos e atos violentos, constituíam a parcela mais numerosa da população daquela região.

Isso gerava uma constante preocupação para as autoridades, já que, apesar da repressão cruel, não eram raras as tentativas de levantes escravos e a formação de quilombos, como o do Ambrósio e o Quilombo Grande. A destruição de ambos, em 1746 e 1759 respectivamente, não impediu que ocorressem outras fugas e a formação de novos quilombos.