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O rádio revolucionou a comunicação e a cultura, fazendo a notícia chegar em tempo real e criando mitos para as massas. Aparelho da década de 1940 (Crédito: Creative Commons)

A descoberta das ondas Hertz (sonoras) causou um enorme impacto na sociedade mundial. A partir de então, em um somatório de conhecimentos, surgiu um aparelho que se transformou em veículo capaz de vender produtos, ditar moda, mobilizar as massas e criar um elo entre o indivíduo e a coletividade – o rádio. O desenvolvimento de tal invento contou com os experimentos científicos realizados pelo estudioso alemão Heinrich Rudolph Hertz (1857-1894), que no final do século XIX observou ser possível o deslocamento de faíscas através do ar, entre dois pontos, sem a utilização de fios. Tal descoberta foi decisiva para o desenvolvimento do rádio, a partir da presença das ondas eletromagnéticas, hoje chamadas de ondas de rádio.

Considera-se que a voz humana foi transmitida pela primeira vez em dezembro de 1906, pelo engenheiro canadense Reginald Aubrey Fessenden (1866-1932), ao apresentar um concerto de Natal para os tripulantes dos navios que cruzavam o Oceano Atlântico e o Mar do Caribe. Alô!: com essa pequena palavra, oriunda da saudação inglesa hello, que saía daquelas caixas falantes, iniciava-se uma verdadeira revolução na comunicação. Começaram tempos transformadores, conduzidos por antenas e por microfones. Mitos e ídolos populares surgiram, encantando e emocionando os radiouvintes, fazendo sonhar, chorar e sorrir.

A primeira transmissão no Brasil aconteceu em 7 de setembro de 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência – um discurso do presidente Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa (1865-1942), utilizando transmissores instalados no alto do Morro do Corcovado, na cidade do Rio de Janeiro. Alguns receptores de rádio foram importados de uma empresa norte-americana, especialmente para aquele momento. Muitas pessoas custaram a acreditar que era possível alguém falar em um local e ser ouvido, em tempo real, em outro.

No Brasil, as experiências com a radiodifusão prosseguiriam até que, em 20 de abril de 1923, surgiu, por iniciativa do professor Edgar Roquette-Pinto (1884-1954), a primeira estação radiofônica no país: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. No momento da inauguração, aquele que ficaria conhecido como o pai do rádio brasileiro declarou, com otimismo: “Que incrível meio será o rádio para transformar um homem em poucos minutos, se o empregarem com alma e coração!”.

Até os primeiros anos da década de 1930, existiam 21 emissoras de rádio instaladas no Brasil, veiculando uma programação composta por músicas eruditas e textos considerados instrutivos. Mudanças aconteceram durante o governo provisório de Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954), por meio do Decreto-Lei de 1º de março de 1932, que autorizou a introdução de mensagens comerciais em 10% da programação. Com a inclusão dessa novidade, as estações passaram a apresentar programas de variedades, abrindo caminho para que esse meio de comunicação se transformasse em um fenômeno social. Patrocinados por empresas, como laboratórios fabricantes de purgantes, surgiram programas para todos os gostos.

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Mário Lago (à esquerda) e outros atores interpretando seus personagens em radionovela transmitida pela Rádio Nacional na década de 1950 (Crédito: Arquivo Nacional)

O speaker (locutor) desempenhava um papel significativo nas emissoras. A revista Carioca publicou, em 1936, que o “speaker é indiscutivelmente, a alma da estação de rádio (...). Ele é o que tem a mais espinhosa missão no rádio. Dele dependem o êxito da música, do artista, do compositor, enfim, da estação de rádio”. Essa observação confirma que da narração e da emoção do locutor depende a trasformação do pensamento e do comportamento dos radiouvintes. Segundo a professora Keila Grinberg, “como bem disse o historiador britânico Eric Hobsbawm, o rádio ‘trazia o mundo à sua sala’’’.