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Bondes, meio de transporte cuja implantação na cidade teve o Barão de Mauá como um dos pioneiros, passam em frente à Fábrica de Gás, às margens do Canal do Mangue (Crédito: Coleção Dunlop)

A cidade do Rio de Janeiro alcançou um total de 522 mil habitantes em 1890. A vida política estava na capital do Império. Mas não apenas ela: também as diversões da época (teatros, cafés, confeitarias) e um número significativo de investimentos, como os feitos nas áreas dos transportes, da iluminação e do embelezamento da cidade. Nesse contexto de profundas transformações, possibilitadas especialmente pelo uso da energia a vapor, a figura de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Barão de Mauá, projetou-se, tendo sido ele o responsável por promover mudanças que causaram forte impacto no Brasil. Entre as suas inúmeras iniciativas, estão a implantação das companhias de iluminação a gás, do sistema de esgotos, de bondes e de ferrovias.

Principal importador até então, com olhar empreendedor, decidiu investir recursos, antes usados na compra de escravos (somando-os a outros oriundos de capitais ingleses), na construção de um estaleiro e de uma fundição (ferro e bronze). Dessas forjas, saíram mais de 70 navios, assim como outros produtos, dando início ao desenvolvimento industrial do país. Mauá foi o responsável pela construção do telégrafo submarino (fazendo contato com a Europa) e criação do Banco Mauá McGregor & Cia. (associado aos ingleses), com filiais espalhadas por vários cantos do mundo.

A construção de ferrovias se relacionava à alta nos preços do café. Era uma necessidade diante do aumento das vendas no mercado internacional, a partir de 1845. O trem de carga conduzia, diretamente até o Porto do Rio de Janeiro, as mercadorias a serem exportadas. Diante desse cenário, Irineu Evangelista construiu o trajeto ferroviário de 14 quilômetros interligando o Porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à Estação Fragoso, na raiz da Serra da Estrela (Petrópolis). Contando com a presença de D. Pedro II, a inauguração aconteceu em 30 de abril de 1854, quando sua alteza real, como expressão de reconhecimento, concedeu ao construtor o título de Barão de Mauá. Posteriormente, a locomotiva que realizou o percurso foi apelidada de Baroneza – uma referência à esposa do barão.

A década de 1850 ficou conhecida como a Era da Estrada de Ferro – empreendimento que simbolizava, naquele contexto, segundo a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, “o avanço e o progresso das nações”. Na última década do século XIX, a malha ferroviária conduzia a população do Rio de Janeiro para além da Cidade Velha, favorecendo o surgimento, ao longo dos trilhos e em torno das estações, de novos bairros: as freguesias suburbanas.

A música O Trenzinho do Caipira, do compositor e maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1953), traduz em sons o ruído das locomotivas, e os versos contam a história de um tempo:

“Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo mar
Cantando pela serra o luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar, no ar....