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A região central em fotografia de 1895. Ao fundo, os morros do Castelo e de Santo Antônio. Mais à frente, à direita, o Campo de Santana (Crédito: Marc Ferrez/In: Fotografia do Século XIX, Editora Capivara)

O calendário, nos anos 50 do século XIX, registrava que o mundo prosseguia girando na sucessão dos dias e das noites. Para alguns, o tempo parecia cada vez mais veloz, quando contabilizavam benefícios e regalias que pareciam não ter fim. Para outros, possivelmente, o tempo passava arrastado, em meio às dificuldades e desventuras. O Império do Brasil, naquele período, vivia uma fase de melhoramentos materiais importantes, resultado da interação de fatores favoráveis diversos. Novas chances de negócios lucrativos foram abertas, com recursos obtidos, por exemplo, pela expansão cafeeira (e consequente exportação) e pelos efeitos da tarifa conhecida como Alves Branco, de 1844, por meio da qual os produtos importados tiveram aumento nas suas taxas. A extinção do tráfico negreiro, em 1850, trouxe como consequência uma grande quantidade de recursos antes utilizados na comercialização da mão de obra escrava africana. Quase que do dia para a noite, surgiram outras oportunidades de negócios lucrativos.

Devido ao encarecimento das importações, produtos como velas, sabão e tecidos começaram a ser elaborados no Império. Era vantajoso produzir tais produtos, de grande consumo pela população daquela época. Investiu-se muito na estrutura do país. Bancos, caixas econômicas e companhias de seguro, entre outros estabelecimentos, se instalaram na corte tropical.

A boa sociedade do Rio de Janeiro admirava as mudanças que estavam acontecendo. A popularidade de D. Pedro II (1825-1891) cresceu diante das medidas que objetivavam mudar a fisionomia do país. Por onde passava, Sua Majestade era cercada de forma calorosa – em clara demonstração de “visibilidade da realeza”, conforme afirma a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz –, reinando em um país que então caminhava para o que se considerava modernidade.

A corte do Rio de Janeiro organizava concorridos bailes, e a moda europeia sempre estava presente. Naquele momento, havia motivo para festejar; o comércio, por exemplo, impulsionado por ventos favoráveis, promovia um crescimento da economia do Império. As plantações do chamado ouro verde espalhavam-se, a partir das encostas da Serra da Carioca, rendendo lucros para fazendeiros e comissários de café. A cidade, particularmente desde a Abertura dos Portos determinada pelo regente D. João (1767-1826), ligara-se mais estreitamente à dinâmica do mundo atlântico, o europeu em especial. O contato entre os dois mundos prosseguiu, quando da vinda de viajantes europeus ou da Missão Artística Francesa. Vistos como heróis civilizadores, portavam “em suas bagagens, repletas de maravilhas, a poção capaz de efetuar o encantamento que elevaria a cidade tropical ao status de uma corte dentro dos padrões europeus”, segundo palavras do historiador Carlos Eduardo Sarmento.

Esse esforço para atualizar e civilizar tinha como objeto fundamental o Rio de Janeiro. Nesse sentido, caracterizava-se a vinculação da cidade a um universo cultural eminentemente europeu. Foi a partir do seu espaço urbano que aconteceram esforços no sentido de civilizar e modernizar a nação. Com o tempo, consolidou-se uma cultura cosmopolita que se estendeu para além das fronteiras físicas da capital imperial.