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O Paço dos Governadores, hoje Paço Imperial, uma das grandes obras do século XVIII. Água-tinta de 1825 (Crédito: John Mawe/In: Travels in the Gold and Diamonds Districts of Brazil)

Após a transferência da sede do vice-reinado, as administrações se empenharam em transformar o cenário urbano do Rio de Janeiro. À medida que avançavam os anos no século XVIII, tempos delicados para a economia do Reino e seus domínios ultramarinos, a cidade, tida como fundamental para Portugal, ganhou uma dinâmica urbana diferente. Gradativamente, mudavam suas características e funções. O espaço urbano se alterava, conjugado com o aumento da população, que ora se fixava, ora circulava, ora visitava...

Aqui e mais ali, surgiam moradias. Algumas com o térreo chamado de lógea. Casas rurais e chácaras, desmembradas e loteadas, eram incorporadas ao tecido urbano. Com iluminação natural deficiente e as vigas, que sustentavam o telhado, expostas, as moradias tinham paredes brancas pintadas com cal e piso de tábuas largas, em madeira bem grossa, nem sempre ajustadas de maneira uniforme. O espaço para receber as visitas era, eventualmente, um pouco maior que o dos outros aposentos, embora quase sem mobiliário.

As construções não possuíam numeração, sendo identificadas pelo nome de seu proprietário, pela sua localização ou pelo comércio que nelas se praticava. Segundo o escritor Luiz Edmundo, as esquinas e as casas utilizavam referências como “canto do João da Guitarra, canto do Tabaqueiro, ou canto do Manoel da Lagarta. Endereços registram: defronte do Arsenal (...), defronte das bancas de Peixe”. Outras faziam clara referência às funções bélicas e defensivas vivenciadas pela população da cidade: Beco da Batalha, do Calabouço, do Quartel, dos Tambores. Documentos que tratam da arquitetura desse século mostram projetos de arruamento, de construções para o uso civil, de praças. A arquitetura militar cuidava das fortificações e de tudo que se relacionava às práticas bélicas.

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A torre da Igreja de Nossa Senhora do Desterro e o Aqueduto da Carioca, inaugurado em 1750 para melhorar o sistema de abastecimento de água da cidade (Crédito: Carlos G. N. Pereira/Iplan)

O vice-rei D. Luís de Vasconcelos e Sousa, administrador de 1779 a 1790, priorizou a questão hídrica, voltando-se para a distribuição de água potável por meio dos chafarizes, como o da Pirâmide, localizado no Largo do Carmo, à beira do cais (atual Praça Quinze de Novembro). A obra é do Mestre Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813), famoso artista da época.

Saneamento e aterro, como o realizado na Lagoa do Boqueirão da Ajuda, local insalubre onde eram lançados os dejetos da população, fizeram surgir o Passeio Público (primeiro parque urbano, também projetado por Valentim e finalizado em 1786).

O Conde de Rezende (1744-1819) deu início à iluminação pública da cidade, à base de óleo de baleia. Entre as obras, houve a abertura ou o alinhamento de vias (ainda sem calçamento), como Lavradio, Inválidos e Rezende. Com a finalidade de proteger o Rio de Janeiro – no contexto do projeto da construção da muralha que não seguiu em frente –, foi erguida a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição. Mantida a preocupação em defender o acesso à Baía de Guanabara, outras fortalezas foram melhoradas, como a da Ilha das Cobras, a de São João e a de Tamandaré da Lage.

Percorrer o Rio de Janeiro nas memórias desse espaço urbano do século XVIII, ou deixando o olhar deslizar no século XXI, pode ser uma maneira de desvendar ou de apreciar a cidade: ruas, praças e largos com suas histórias. Passado e presente entremeados. Futuro.