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O Porto do Rio de Janeiro em detalhe de desenho de 1775 (Crédito: Luís Santos Vilhena/Museus Castro Maya – Iphan)

Em uma correspondência enviada em 1765 pelo governador da capitania de São Paulo para Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), Conde de Oeiras e futuro Marquês de Pombal, transpareceu o seu entusiasmo pela sede do vice-reinado. As palavras escritas por D. Antônio de Souza Botelho Mourão (1722-1789), que administrou entre 1765 e 1775 aquela capitania, ajudam a refletir o momento de centralidade vivido pela cidade. Referiu-se ao Rio de Janeiro como “a chave deste Brasil pela sua situação, pela sua capacidade, pela vizinhança que tem com os domínios de Espanha e pela dependência que desta cidade têm as Minas com o interior do país, ficando por este modo sendo uma das pedras fundamentais em que se afirma a nossa monarquia e em que [se] segura uma parte muito principal de suas forças e das suas riquezas”.

Recentemente, pesquisadores aprofundaram estudos ligados à formação e ao desenvolvimento das cidades coloniais, e o antigo registro de D. Antônio incorporou a questão. No século XV, Portugal destacou-se das demais monarquias europeias por meio de ações únicas, que colocaram o Reino na história da humanidade. Inicialmente, navegar e conquistar. Mais adiante, defender, inibir e vigiar. Povoar, fundando vilas (que poderiam ser criadas pelos donatários ou pelos governadores) e cidades (atributo exclusivo da Coroa), significava uma estratégia do governo de Portugal. Não apenas para configurar geograficamente as terras ocupadas, mas para administrar e controlar o Império Ultramarino que constituiu. 

O Rio de Janeiro, portanto, não era apenas um porto “e sede do aparelho administrativo metropolitano, meio caminho entre as fazendas e os centros de comercialização e decisão política na Metrópole”, como entende a historiadora Maria Fernanda Bicalho. A partir dos interesses de Portugal, passou a núcleo articulador da administração colonial e metropolitana, quando o poder se deslocou de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. Nesse contexto, o espaço urbano se expandiu, consolidando, no século XVIII, seu protagonismo e sua capitalidade.