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Mapa francês da Baía de Guanabara, com identificação das fortalezas da cidade. Água-forte de 1764 (Crédito: Jacques Nicolas Bellin)

O governo de Portugal entendia, e muito bem, a importância e o significado do Rio de Janeiro na economia política do Estado. A cidade, por onde escoavam os metais e as pedras preciosas, chamava a atenção de outros reinos, sendo uma espécie de garantia do poder português no cenário de articulações e de conflitos que pontuavam a Europa Ocidental durante o século XVIII.

Documentos da época registravam a possibilidade de a França estabelecer um vice-reino no Brasil, com perspectiva duradoura. Seria um projeto bem diferente das invasões francesas de Duclerc, em 1710, e de Duguay-Trouin, em 1711, quando este corsário agiu como dono da cidade até o dia em que zarpou daqui. Suas embarcações continham o que obteve por meio dos saques praticados e do resgate que exigiu para devolver o Rio de Janeiro ao controle dos portugueses.

Tais notícias circulavam nos palácios da Europa, ameaçando e causando intranquilidade. O governo português idealizou projetos visando defender, inibir e vigiar, impedindo qualquer possível manifestação daqueles que considerava inimigos do rei. A possibilidade de reviver o conflito e a destruição imposta por invasores era inconcebível. Pensar em defender as terras da possessão americana ia além de erguer muralhas aqui e fortificações acolá: significava prosseguir povoando, fundando vilas e cidades. Essa política urbanizadora de controle administrativo avançou especialmente no Rio de Janeiro, durante toda a segunda metade do século XVIII.

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O Paço dos Governadores, atualmente denominado Paço Imperial, em guache do início do século XIX (Crédito: Franz Josef Frühbeck)

Modificações importantes aconteceram na cidade, que, segundo o professor Roberto Conduro, era “ainda um lugar de guerra; mas não apenas este lugar. Sua vocação expansionista (...) não vai se moldar somente a partir de sua função portuária estratégica, mas através da superposição e conexão de funções diversas e espaços respectivos”. Entre as intervenções envolvendo funções e espaços importantes, durante a administração do último capitão-mor do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade (1757-1817), estão obras importantes de urbanização. Por exemplo: a Alfândega da cidade (diante do crescimento comercial no século XVIII); a edificação do novo Paço dos Governadores; a ampliação de prédios ligados à defesa da cidade; a reconstrução da Fortaleza da Ilha das Cobras; e a edificação, em 1743, da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, onde funcionam, hoje, serviços do Exército brasileiro. Cada vez mais se acentuava o protagonismo e a capitalidade da cidade, aumentando a entrada e a saída de pessoas, de mercadorias diversas e de cativos.