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O Bill Aberdeen

Neste clima, após o término do último tratado assinado entre os dois países (março de 1845), o Governo da Inglaterra, "farto" de esperar pelo cumprimento dos acordos, decretou, em agosto desse ano, o Bill Aberdeen. Este ato, que recebeu o nome de Lord Aberdeen, então Ministro das Relações Exteriores do Governo britânico, concedia ao Almirantado inglês o direito de aprisionar navios negreiros, mesmo em águas territoriais brasileiras, e de julgar seus comandantes. O ato foi alvo de inúmeros ataques, inclusive na Inglaterra, onde alguns criticavam por pretender, dessa forma tornar-se "guardiã moral do mundo". No Brasil o Bill Aberdeen, entendido por muitos como uma represália da Inglaterra, provocou pânico entre os traficantes e proprietários de escravos e de terras. A conseqüência mais imediata foi o significativo, e paradoxal, aumento na quantidade e no preço dos escravos importados.

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Pelos dados fornecidos por Caio Prado, em 1846 este número chegara a 50324, e, em 1848, a um total de 60 mil cativos desembarcados nos portos do Brasil. Cientes deste crescimento, os escaleres armados de bandeira inglesa perseguiam implacavelmente as embarcações suspeitas de conduzir escravos que seriam comercializados nas províncias do Império. A Marinha britânica invadia em águas territoriais do Brasil, ameaçando inclusive bloquear os portos principais. Alguns incidentes - como a troca de tiros no Paraná entre uma embarcação inglesa e a guarnição do Forte de Paranaguá - agravaram mais ainda a situação.

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Muitos daqueles que formavam o grupo dos conservadores, quando da decretação do Bill Aberdeen, culpavam os liberais de terem se submetido à coação inglesa. Os antigos desentendimentos entre luzias e saquaremas inseriam o ato (...) "no contexto do jogo interpartidário", no dizer da historiadora Paula Belguelman. Os saquaremas não se restringiam a culpar os luzias pela decretação do Bill Aberdeen. Procuravam encaminhar a questão por outros caminhos destacando dois pontos: que o tráfico negreiro deveria ter fim, e que tal decisão deveria caber ao Governo do Império, como forma de preservar a soberania nacional e garantir a segurança interna. Apesar de os saquaremas assumirem que "não existiria Império no Brasil sem escravidão", entendiam que ela estava condenada. Por isto mesmo desejavam estendê-la o mais possível.

A escalada britânica nos portos do Brasil prosseguia, enquanto o Governo de D. Pedro II, pressionado por problemas na região do Prata, necessitava do auxílio da Inglaterra. A situação chegou a tal ponto que, em março de 1850, o Primeiro Ministro inglês Guilherme Gladstone ameaçara o Brasil de fazer cumprir os tratados à "ponta da espada, pela guerra até o extermínio."

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    A Extinção do Tráfico. Lei Eusébio de Queirós e Lei Nabuco de Araújo