Na época em que predominava ali o comércio de armarinhos e tecidos, a região da Saara era conhecida como a Pequena Turquia do Rio. De acordo com os censos demográficos de 1906 e de 1920, a Freguesia do Sacramento, região que englobava a área atual da Saara, assinalava um expressivo contingente de imigrantes oriundos da chamada Grande Síria ou Turquia Asiática. Para o professor Mohammed ElHajji, da Escola de Comunicação da UFRJ, o acrônimo que dá nome ao mercado mais popular do Rio de Janeiro “erra” propositadamente para gerar a associação com o deserto do Saara, segundo maior do planeta, localizado no norte do continente africano. “O certo seria Sociedade dos Amigos da Rua da Alfândega e Adjacências.”
Com média de público diária estimada em 70 mil pessoas, a associação foi formada em 1962 por um motivo político, embora não partidário: reforçar a posição dos comerciantes locais diante da ameaça de demolição para a realização do projeto Via Diagonal, na gestão de Carlos Lacerda. As lojas, espalhadas num perímetro de 13 ruas, mantêm até hoje a posição de maior contribuinte de ICMS do Rio de Janeiro. Investida deste título, a comunidade árabe-judaica convidou o então governador do estado da Guanabara para um almoço, no qual foram apresentados argumentos irrefutáveis. Em lugar do viaduto que cortaria a área, foi criado o Viaduto da Perimetral – que está sendo demolido como parte do projeto de revitalização paisagística da Zona Portuária.
Das 1.250 lojas situadas nas cercanias da Rua da Alfândega, 300 são associadas da Saara, e há, inclusive, uma rádio comunitária, que funciona desde 1972, com dezenas de alto-falantes instalados nos postes das ruas exclusivas para pedestres. Campanhas publicitárias de forte apelo para a informalidade e para o bom humor tornaram a rádio famosa. Eventos importantes do calendário são bastante celebrados, visando a uma aproximação ainda maior com o público. Tem o Bloco de Carnaval da Saara, criado em 2008, o Arraiá da Saara e a transmissão de jogos da Copa do Mundo, com direito a comemoração na Praça do Mascate, em dias de jogos da seleção brasileira. Graças ao clima de paz, que agrega comerciantes árabes, judeus, chineses e de outras origens na mais perfeita harmonia, há quem se refira à região como Pequena ONU, em referência à Organização das Nações Unidas.
Não há melhor lugar na cidade para uma pré-produção de carnaval, seja adquirindo uma fantasia pronta ou, apenas, plumas e paetês para customizá-la. Existem inúmeros estabelecimentos, como a Casa Turuna, firme na Avenida Passos desde 1918. As marcas da presença sírio-libanesa na Saara revelam um sucesso de longa duração. Há mais de cem anos, na Rua Senhor dos Passos, fica a Charutaria Syria, onde funciona um aconchegante café, num cenário que parece ter parado no tempo. Restaurantes como o Cedro do Líbano, fundado por Narciso Mansur na década de 1940, ou o Árabe Sírio e Libanês, inaugurado por Jawad Salim Ghazi em 1965, são fiéis às receitas originais na preparação dos pratos típicos.
Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde a presença de comerciantes de origem árabe é considerável, as marcas identitárias, como o gestual e a disposição das mercadorias, diferem muito daquelas encontradas no mercadão popular, segundo explica Mohammed ElHajji. Na Saara não existem vitrines, os preços não estão indicados e, se o cliente não toma a iniciativa de barganhar, o vendedor fica desapontado. Lojas concorrentes, uma ao lado da outra, coexistem sem nenhum problema.
22/10/2018
O carioca deve boa parcela de sua identidade aos Tupinambá e Temiminó.
Rio Multicultural - reportagens
21/01/2015
Em um passeio pela Cidade Maravilhosa, é possível notar a presença e as marcas do país de Nicolau Copérnico, Frédéric Chopin e do Papa João Paulo II.
Rio Multicultural - reportagens
11/08/2014
Você sabe por que a pessoa que nasce no Rio é chamada de carioca? Confira essa e outras incontáveis influências dos primeiros habitantes da cidade em nossa cultura.
Rio Multicultural - reportagens
05/08/2014
A comunidade, presente na cidade desde a vinda da família real portuguesa, tem, hoje, mais de 10 mil imigrantes, que enriquecem a vida carioca com sua cultura milenar.
Rio Multicultural - reportagens
22/07/2014
Comércio, indústria, construção civil, medicina e política são apenas algumas das áreas em que os sírio-libaneses têm deixado sua marca na vida da cidade.
Rio Multicultural - reportagens
07/07/2014
O número de negros – escravos e livres – no Rio de Janeiro do século XIX era o maior entre as cidades das Américas.
Rio Multicultural - reportagens
24/06/2014
A cultura japonesa integra o dia a dia do cenário carioca, seja na arte, na gastronomia ou nos festejos da cidade.
Rio Multicultural - reportagens
16/06/2014
Alguns pesquisadores afirmam que a primeira partida de futebol, no Brasil, foi promovida por um escocês que trabalhava em Bangu. Na verdade, os britânicos influenciaram uma série de costumes do Rio do Janeiro.
Rio Multicultural - reportagens
10/06/2014
Agora é a Copa do Mundo que traz os alemães ao Brasil, mas essa viagem cruzando o oceano é de outros carnavais...
Rio Multicultural - reportagens
27/05/2014
Com personalidades de destaque nos mais diversos ramos de atuação, imigrantes e seus descendentes vêm influenciando a vida carioca, do comércio à cultura, há gerações.
Rio Multicultural - reportagens
06/05/2014
Os "braceros", como eram chamados, foram responsáveis pelo início da organização da massa trabalhadora na cidade do Rio de Janeiro, na virada do século XIX para o XX.
Rio Multicultural - reportagens
15/04/2014
Segundo estudos, mesmo antes da segunda metade do século XIX já havia italianos no Rio de Janeiro, a serviço da corte portuguesa.
Rio Multicultural - reportagens
01/04/2014
No início eram corsários; depois, vieram os artistas; por fim, profissionais especializados, com seus produtos chiques, ao gosto da elite brasileira. Resultado? O charme francês ainda vive entre nós.
Rio Multicultural - reportagens
17/03/2014
Aqui, começa a série Rio Multicultural sobre os diversos povos que originaram o carioca do século XXI. Africanos, indígenas e imigrantes contribuíram para a identidade cultural da cidade, mas os portugueses têm papel privilegiado, pois, após o Grito da Independência, nenhum outro fluxo migratório para a cidade foi tão intenso quanto o deles.
Rio Multicultural - reportagens
26/12/2013
O Rio de Janeiro é uma cidade multicultural. Na matéria inaugural da série sobre os imigrantes que deram origem à população carioca, conheça a primeira parada, na Ilha das Flores.
Rio Multicultural - reportagens