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Mulheres na ciência
29 Setembro 2014 | Por Sandra Machado
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maryamA despeito das expectativas sociais sobre o papel feminino, as mulheres vêm contribuindo, num percurso ascendente, para o desenvolvimento científico mundial e se destacando em premiações que, até bem pouco tempo atrás, só eram recebidas por homens. Em 2014, pela primeira vez, uma distinção criada há 78 anos pela União Internacional de Matemática foi parar em mãos femininas. A iraniana Maryam Mirzakhani recebeu a Medalha Fields, como prêmio pelos estudos realizados na Universidade de Stanford. Há poucos meses, Duília de Mello ganhou o prêmio Diáspora Brasil, concedido a cientistas brasileiros que se destacam no exterior, graças à atuação dela, há mais de dez anos, como astrofísica no Goddard Space Flight Center, da Nasa – agência norte-americana que desenvolve programas de exploração espacial. Casos como esses reforçam uma ideia: a opção pela carreira científica precisa ser incentivada, desde cedo, também entre as meninas.

A melhor maneira de fazer isso, segundo quem entende do assunto, é gerar vivências. Andrea Thompson Da Poian, professora associada do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e editora da revista Ciência Hoje, é uma grande entusiasta da popularização da ciência. Chefe do Laboratório de Bioquímica de Vírus, onde vem pesquisando a base de doenças como a dengue e a artrite viral, a cientista já perdeu a conta de quantos cursos tem dado pelo Brasil afora, não apenas para o público-alvo dos professores.

“Realizo cursos totalmente baseados nas perguntas das crianças, à medida que elas vão surgindo.” Para a pesquisadora, qualquer tentativa de desestigmatização da figura do cientista vale a pena. “Percebo que, fora do meio científico, a reação das pessoas diante de uma mulher cientista ainda é de espanto. Uma vez, recebi até pedido de autógrafo de um grupo de alunos na faixa dos 10 anos.” Mês que vem, Andrea embarca para Alter do Chão, no interior do Pará, disposta a “inocular” a paixão pela ciência numa escola com cerca de 200 alunos.

andrea1A professora acredita que a maior qualidade de um candidato a cientista seja a curiosidade. “Sempre me agradou a ideia de entender a natureza. Gosto de aprender coisas novas”, explica, lembrando que não consegue imaginar outro trabalho no qual tivesse mais liberdade e satisfação, embora o grau de dedicação demandada seja grande. “Viajo o mundo inteiro, conheço outros cientistas e outras culturas, seja nos congressos ou nas próprias interações das pesquisas. Quanto mais ampliada nossa visão de mundo, maior a capacidade de ver um problema sob vários ângulos.” Além de não identificar qualquer preconceito contra as mulheres entre os pesquisadores homens, Andrea sinaliza que, pelo menos no seu campo de estudo, está acontecendo um fenômeno interessante.

“Dou aula no curso de graduação e, de uma turma com 38 alunos, 36 são mulheres. No meu laboratório, entre os dez alunos da pós-graduação, nove são mulheres. O que existia, mas já está mudando, é uma prevalência de homens nos cargos de liderança.” Com 25 anos de atuação na Biologia, ramo em que sempre verificou um público predominantemente feminino, Andrea admite haver um equilíbrio entre homens e mulheres no setor da Química, além de uma vantagem numérica masculina especificamente na Física.

Entre a carreira e a maternidade

Mas há quem pense diferente. De acordo com a economista Hildete Pereira de Mello, pesquisadora da UFF e da UFRJ, atualmente, metade das bolsas de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são concedidas a mulheres, embora entre as bolsas mais avançadas esse percentual caia para apenas 23,5%. Para ela, o fenômeno tem origens na cultura e começa durante a infância, com a diferença dos brinquedos tradicionalmente apresentados a meninos e meninas, que geram estímulos distintos de curiosidade entre um grupo e o outro. Na idade adulta, as atribuições da maternidade também demandam das mulheres uma maior dedicação a casa e à família.

Mayana reloadO que nunca foi visto como um problema por Mayana Zatz, mãe de dois filhos e autoridade em pesquisas com células-tronco. Professora de Genética Humana e Médica no Instituto de Biociências da USP e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano, ela é fundadora e presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular. “Como as mulheres pensam diferente dos homens, os dois se complementam”, afirma Mayana, em depoimento para o livro Mulheres Cientistas nas Américas, publicado pela Rede Interamericana de Academias de Ciências. “A intuição feminina é um diferencial importante na busca pelo conhecimento.”

Desde a infância, a bióloga e geneticista gostava de ler biografias de cientistas famosos, como Louis Pasteur e Madame Curie. No seu entender, os maiores obstáculos para a realização de pesquisas no Brasil estão relacionados à dificuldade de importar materiais, além do excesso de burocracia. Mesmo assim, ela aconselha: “As mulheres precisam lutar por aquilo em que acreditam, questionar, não ter medo de receber um não como resposta, não desistir de uma ideia antes de testá-la. E não abrir mão da maternidade em prol de uma carreira científica. É possível conciliar as duas coisas”.

Para estimular a discussão sobre a participação feminina na carreira científica, a Fundação Planetário realizou, no dia 25 de setembro, o evento Mulheres na Ciência, em parceria com o Consulado Geral dos Estados Unidos, a Secretaria Municipal de Educação (SME), a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM-Rio), o Ministério de Ciência e Tecnologia, a Secretaria Especial das Mulheres da Presidência da República e a MultiRio. Compareceram ao evento Helena Bomeny, Secretária da SME, e Ana Rocha, Secretária da SPM-Rio. A diretora de Mídia e Educação da MultiRio, Marinete D’Angelo, foi uma das palestrantes. O evento contou, ainda, com a participação de Zainab Nagin Cox, engenheira da Nasa, que fez o seu relato pessoal e de motivação sobre o tema.

 
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