Quando, em 2012, a professora de Artes Cênicas Aurora de Moura se interessou por um curso sobre cineclube, promovido pela Prefeitura para os seus professores, não fazia ideia do que vinha pela frente. Embora a Escola Municipal Engenheiro João Thomé (8ª CRE) não dispusesse de material para filmar e editar um projeto de cinema, a professora Aurora não desanimou. Em vez disso, providenciou alguns ajustes à proposta inicial. “Perguntei aos grupos do 9º ano quem gostaria de fazer uma fotonovela – e uma das turmas se interessou.” A partir da Jornada do Herói, que é um esquema para escrever roteiros de cinema e novelas desenvolvido por Joseph Campbell, foi proposto o tema “a coragem de ser bom”. Depois de assistir a alguns filmes, os alunos foram divididos em grupos e, ao fim do processo, produziram cinco roteiros que geraram as fotos e as subsequentes edições.
A radionovela foi a novidade de 2013. A partir da proposta de trabalho sobre o corpo e suas escritas, no 8º e no 9º anos, a voz se tornou o objeto de estudo do segundo bimestre. Com um detalhe que fez toda a diferença, como destaca Aurora: “Contar e ouvir histórias é uma herança dos nossos antepassados que foi relegada à TV“. Ciente da importância e do prazer desta atividade, ela encomendou aos alunos que pesquisassem contos de terror, e cada um teve que contar o seu numa grande roda. “Eles se sentiram amedrontados diante da possibilidade de contar algo diante do grupo. Afinal, falar ao outro e ser ouvido é algo que o Facebook não ensina.” Na fase seguinte, foram ouvidas radionovelas e feitas experimentações com a garotada, que não teve nenhuma dificuldade para imitar as vozes de suas personagens infantis preferidas, do tipo Bob Esponja. O próximo passo foi escrever os roteiros, que acabaram revelando quem tem inclinação para a radiodramaturgia.
Na opinião da professora Aurora, toda a movimentação com as caracterizações para as fotonovelas mexeu especialmente com a autoestima dos alunos. “Foi bonito demais vê-los na produção das fotos. Eles se sentiam importantes, fazendo algo – não só para a nota, mas por prazer.“ Cada linguagem específica gerou resultados diferentes. Nas fotonovelas, os alunos enfatizaram o concreto, como as comunidades e as drogas. Já nas radionovelas, além da liberdade de criar os sons, ousaram embarcar em viagens por mundos que eles mesmos construíram. A repercussão das apresentações na escola não poderia ter sido melhor.
“Um retorno muito positivo dos colegas das outras disciplinas apontou para a mudança na qualidade da postura dos alunos depois das aulas de Artes Cênicas”, explica Aurora, lembrando que a participação de cada indivíduo no projeto coletivo funcionou como uma espécie de analogia com a vida. “Se um falha, a equipe sofre; se todos se dedicam, todos ganham.” Os alunos tiveram um ganho na habilidade para formular perguntas em sala de aula e aumentaram seu nível de concentração. Houve um feedback de incentivo, no momento em que os professores começaram a doar sapatos, fantasias, cabides e até um guarda-roupa para os figurinos usados nas fotonovelas.