Não é natural, mas bastante comum no Brasil, que um professor seja rouco. A afirmação é de Marcia Mehta, fonoaudióloga e coordenadora do Programa de Saúde Vocal da Prefeitura do Rio de Janeiro. “Os professores acabaram se acostumando com esta realidade e acreditam que a rouquidão seja uma característica vocal adquirida ao longo da carreira”, explica a especialista. Segundo Marcia, é muito comum que professores apresentem problemas de voz devido à grande demanda vocal em sala de aula. Ela destaca, ainda, que um a cada dois professores na ativa apresenta sintomas e queixas vocais.
Mas como saber se você faz parte desse grupo? Os sintomas mais comuns, segundo a fonoaudióloga, são rouquidão, perda da voz no final da semana de trabalho, pigarro, cansaço vocal, ardência e dor na região da garganta. Se a rouquidão persistir por mais de 15 dias, é preciso buscar ajuda médica e fonoaudiológica, e repousar a voz. “O médico otorrinolaringologista faz uma avaliação das vias aéreas e do trato vocal por meio do exame de videolaringoestroboscopia, que deve ser realizado anualmente pelo profissional da voz. Já o fonoaudiólogo avalia especificamente a voz e a forma como o profissional a está usando”, explica Marcia Mehta, destacando que a perda da voz pode acontecer devido a infecções no trato respiratório, refluxo gastroesofágico, problema crônico da voz ou abuso vocal. “O diagnóstico precoce é de extrema importância para a boa recuperação do paciente.”
Dicas para cuidar da voz
No início de julho, a Secretaria Municipal de Administração (SMA) lançou a primeira edição das Pílulas de Saúde Vocal, uma série de 12 vídeos com dicas para profissionais da Educação. Com publicação quinzenal, os materiais foram gravados por fonoaudiólogas que trabalham nas Coordenadorias Regionais de Educação (CREs). Abrangem assuntos como alimentação e hidratação; abuso vocal e pigarro; e soro, pastilhas e sprays. Dois deles já foram publicados: Apresentação e Controle das Alergias.
O objetivo do projeto é ampliar a divulgação das ações de prevenção da saúde vocal dos professores da Rede Municipal, realizadas pelo Programa Saúde Vocal – uma ação conjunta da SMA com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Em entrevista ao Portal MultiRio, Marcia Mehta listou algumas dicas e informações importantes no cuidado com a voz:
1) É essencial beber goles pequenos de água, constantemente, durante o processo de fala. Ou água de coco natural, que ajuda a melhorar a resistência vocal.
2) Comer maçã e frutas cítricas auxilia na redução do pigarro, tão comum nas crises alérgicas e resfriados. Alimentar-se a cada três horas também é importantíssimo. A produção da voz requer energia e essa energia é retirada dos alimentos.
3) Não elevar o queixo enquanto estiver falando, pois isso provoca muito esforço na laringe. Evitar também escrever no quadro e ao mesmo tempo falar voltando a cabeça para os lados.
4) O ar condicionado retira a umidade do ambiente e também do nosso corpo. A dica é ter sempre por perto uma garrafinha de água, em temperatura ambiente, e soro fisiológico para hidratar as narinas.
5) Evitar o fumo. A fumaça do cigarro agride todo o sistema respiratório, principalmente as pregas vocais. Provoca irritação da mucosa e, consequentemente, o aparecimento de pigarro e tosse.
6) Consumir bebidas alcoólicas causa edema e irritação nas pregas vocais e uma leve anestesia na faringe, reduzindo a sensibilidade dessa região. As pessoas passam a falar mais alto e com mais esforço sem mesmo perceber, o que pode lesionar as pregas vocais.
7) É importante procurar um fonoaudiólogo para que ele prescreva exercícios de aquecimento personalizados para a voz, relacionados às características individuais e sua atividade profissional. Os exercícios aumentam o fluxo sanguíneo e "acordam" a musculatura, garantindo melhor desempenho e prevenindo lesões nas pregas vocais. Devem ser feitos até 15 minutos antes da atividade.
8) Dormir bem é muito importante para se produzir uma voz boa e resistente.
