Com a profusão e o impacto das redes sociais no cotidiano, jovens têm repensado a forma como se expõem e interagem on-line, buscando estratégias para preservarem sua privacidade. Um exemplo disso é a crescente popularização dos chamados “DIX”.
O que é DIX e para que serve?
DIX é uma sigla informal para perfis privados e alternativos, criados principalmente por adolescentes e jovens adultos, em redes sociais, como Instagram e TikTok.
Os DIX são espaços íntimos nos quais as pessoas se sentem mais livres para expressar opiniões, desabafar ou compartilhar momentos particulares com um grupo restrito de amigos. Nesses perfis, geralmente com nomes codificados e poucos seguidores, jovens compartilham conteúdos longe dos olhares de parentes, colegas de escola ou trabalho, professores e conhecidos.
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Digitalmente | A busca por likes
A realidade do cenário digital
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, 93% das crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos são usuários de internet. Destes, 98% a utilizam pelo celular e mais de 97% acessam de casa.
Quanto ao uso de redes sociais e aplicativos de mensagens, 83% possuem perfis em plataformas digitais, sendo 69% no WhatsApp, 63% no Instagram, 45% no TikTok e 42% no YouTube. Com o recorte de idade dos 13 aos 17 anos, 90% de adolescentes brasileiros usam redes sociais e 95% enviam mensagens instantâneas.
Para Grazielle Bragança, Gerente de Pesquisa, Metodologia e Conteúdo, na Diretoria de Mídia e Educação da MultiRio, um dos pontos centrais sobre o uso de redes sociais por crianças e adolescentes é a hiperexposição, além dos impactos na saúde mental.
“Em um ambiente digital que estimula o “mostrar tudo, o tempo todo”, a criação de perfis alternativos — como os ‘DIX’ — pode ser vista como uma tentativa de preservar certa privacidade. Ainda que essas práticas levantem debates sobre autonomia, controles parentais e das plataformas.” (Grazielle Bragança)
O papel da educação midiática
Em um contexto de educação midiática, o surgimento e uso dos DIX podem refletir um movimento de autorregulação e curadoria da própria presença digital. Podem indicar que os jovens estão mais atentos aos riscos da exposição, aos efeitos de comentários mal interpretados e à lógica de vigilância constante nas redes sociais.
No entanto, esse movimento também levanta questões importantes. A busca por privacidade pode gerar uma falsa sensação de segurança. Mesmo nestes espaços privados, conteúdos compartilhados podem vazar, expondo comentários, fotos e vídeos de jovens na internet. Além disso, a exclusividade do grupo pode incentivar comportamentos de risco, como comentários nocivos, cyberbullying e desinformação.
Na série Digitalmente, a assistente social Taíza Ramos define cyberbullying:
“Cyberbullying é uma violência digital que ocorre entre pares. Essa violência se dá em redes sociais digitais. E ela tem a intenção de agredir, de humilhar, de constranger uma pessoa ou um determinado grupo. E causa impactos a saúde psicológica dos indivíduos. [...] Quando há o compartilhamento de imagens, por exemplo de prints de telas, de conversas, sem o consentimento daquelas pessoas que estavam envolvidas naquela comunicação.”
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Digitalmente | Privacidade e segurança – Ameaça virtual
Para 77% dos responsáveis que participaram da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, sua criança ou adolescente utiliza a internet com segurança. No entanto, apenas 31% do total de usuários de internet de 11 a 17 anos que passaram por situações ofensivas ou discriminatórias contaram para seus responsáveis.
Nesse cenário de possibilidades e riscos das mídias digitais, a educação midiática se torna fundamental, especialmente no ambiente escolar. Famílias e docentes precisam lidar com esse universo de forma cuidadosa, crítica e construtiva, sem invadir o espaço de jovens, mas também sem negligenciar seus papeis.
“O enfrentamento desses desafios exige formação crítica e contínua. A Educação Midiática cumpre papel estratégico nesse processo, ao ajudar jovens a entenderem o funcionamento das redes e refletirem sobre suas escolhas para construírem relações mais conscientes e seguras com o mundo digital.” (Grazielle Bragança)
Educar é acompanhar e orientar
Os DIX representam uma estratégia dos jovens para ter autenticidade e preservar sua privacidade em um ambiente digital cada vez mais invasivo. Eles estão aprendendo a construir identidades digitais múltiplas e a buscar formas de se proteger. No entanto, é essencial que essas buscas sejam acompanhadas de uma educação midiática eficaz, que oriente adolescentes a compreender os riscos e a utilizar as tecnologias de forma responsável.
Em tempos de hiperconectividade, educar para a mídia não significa apenas ensinar a usar ferramentas digitais, mas formar sujeitos capazes de tomar decisões conscientes, proteger sua intimidade e participar ativamente de uma sociedade digital plural e informada. Somente assim será possível garantir que jovens possam navegar no ambiente digital com segurança.
Conheça:
Coletânea Internet Segura
Dicas práticas para familiares e professores
1. Evite o julgamento imediato:
Perfis privados não significam que seu filho ou filha, aluno ou aluna, está fazendo algo errado. É essencial manter o diálogo aberto e escutar sem preconceitos.
2. Fale sobre riscos e direitos digitais:
Mesmo em perfis privados, o conteúdo pode ser copiado, printado e compartilhado. Explique que não existe 100% de privacidade on-line. Ensine sobre vazamento de dados, reputação digital e como isso pode afetar a vida acadêmica e profissional no futuro.
3. Reforce o papel da confiança:
Impor vigilância total pode quebrar a confiança e incentivar ainda mais o segredo. Em vez disso, crie um ambiente de escuta e apoio, onde o jovem se sinta confortável para compartilhar seus dilemas.
4. Incentive a educação midiática:
Professores podem propor debates sobre privacidade, fake news, influência dos algoritmos, entre outros. Em casa, pais e mães também podem abordar esses assuntos de maneira leve, usando séries, vídeos ou reportagens como ponto de partida.
5. Dê o exemplo:
Pais, mães e professores também estão nas redes sociais, e inclusive muitas vezes se colocam de forma inapropriada ou expõem crianças e adolescentes sem consentimento. Mostrar consciência do que se posta, respeitar a privacidade dos filhos e dos alunos, e praticar o pensamento crítico são atitudes que educam mais do que qualquer discurso.
Recursos para apoiar familiares e professores
A MultiRio oferece uma variedade de conteúdos que podem auxiliar na educação midiática de crianças, adolescentes e adultos. Disponibilizados na plataforma Multi.rio em diversos formatos, como vídeos, e-books, jogos, podcasts e reportagens, estes conteúdos podem ser acessados gratuitamente por professores, estudantes, suas famílias e qualquer pessoa interessada no tema.
Alguns conteúdos que você vai encontrar:
E Agora? Um Rolé Digital - Narrativas digitais interativas que tratam de temas relacionados à proteção de dados pessoais, privacidade, cyberbullying, fraude digital e golpes.
Digitalmente - Duas temporadas e um e-book para incentivar o desenvolvimento de práticas inovadoras em cultura digital, que propiciem à comunidade escolar o acesso e a apropriação crítica de conteúdos de mídias digitais.
Fontes:
Cetic.br - TIC Kids Online Brasil
Tic Kids 2024: Crianças usam mais a internet pelo próprio celular | Portal Luneta
'Dix': perfis privados no Instagram são vistos como 'espaço sagrado' por jovens, dizem especialistas | Tecnologia | G1
DIX: por que adolescentes estão se refugiando em perfis secundários no Instagram? | O TEMPO