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Os dinossauros brasileiros mais antigos do mundo
05 Março 2021 | Por Márcia Pimentel
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O titanossauro, da família dos saurópodes, viveu cerca de 90 milhões de anos depois dos primeiros dinossauros. Réplica do Museu dos Dinossauros de Peirópolis. Foto: André Lopes Borges, Wiki Commons

Difícil encontrar uma pessoa que não se fascine pelos dinossauros, como os supervorazes tiranossauros, ou como os  titanossauros, do grupo dos saurópodes, aqueles de pescoço longo, cabeça miúda e corpo gigante, que andavam sobre quatro patas e podiam chegar a 40 metros de comprimento.

Esses animais pré-históricos, que a indústria cultural eternizou em nosso imaginário, habitaram os períodos Jurássico e Cretáceo, mas os registros mais antigos e primitivos de dinossauros pertencem a um período anterior, o Triássico, e foram achados no Brasil e na Argentina.

Você sabe como eram esses primeiros dinossauros? Primeiro, vamos entender o contexto em que surgiram.

No tempo da Pangeia

Todos os dinossauros viveram na Era Mesozoica (de 251 a 65 milhões de anos atrás, quando foram extintos). Para quem ainda não sabe, as eras e os períodos geológicos são caracterizados por suas formas de vida específicas, pelos eventos geológicos e pela maneira como os continentes e os oceanos se distribuem pela Terra.

No vídeo A aurora dos dinossauros, o paleontólogo Felipe Pinheiro, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explica que o Mesozoico é dividido em três períodos e se inicia após a extinção em massa ocorrida no fim da Era Paleozoica (de 542 a 251 milhões anos), quando desapareceu mais de 90% da vida marinha e mais de 70% da vida terrestre do planeta.

Períodos da Era Mesozoica:
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Pangeia, o supercontinente. Imagem: Kieff, Wiki Commons
Triássico - de 250 a 208 milhões de anos
Jurássico - de 208 a 145 milhões de anos
Cretáceo - de 145 a 65 milhões de anos

O paleontólogo também explica que o período mais antigo do Mesozoico, o Triássico, se iniciou com a recuperação da vida no oceano e na Pangeia, o supercontinente que existia naquele tempo, quando Américas, África, Europa, Ásia, Austrália e Antártida estavam todas unidas em um único bloco de terra. "É nesse período que são criadas as raízes de toda a fauna moderna e da maioria dos vertebrados", diz.

No fim do período Triássico, inicia-se o fenômeno conhecido como Deriva Continental em que a Pangeia começa, lentamente, a se subdividir para formar dois continentes: Laurásia, ao norte, e Gondwana, ao sul.

Carnívoros de ontem

Os dinossauros mais antigos que se tem registro datam de cerca de 235 a 225 milhões de anos e viveram em uma área da Pangeia que hoje corresponde a um território que se estende da porção central do Rio Grande do Sul ao norte da Argentina.  Existem cerca de 100 sítios paleontológicos nessa região, onde cidades inteiras estão localizadas sobre rochas triássicas. 

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Concepção artística do Buriolestes em publicação do Journal of Anatomy. Frame do vídeo Buriolestes: o caçador gaúcho

Em live sobre os dinossauros mais antigos do Brasil, Rodrigo Müller, pesquisador do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa-UFSM), disse que eles tinham pescoço pequeno e eram bípedes, carnívoros e pequenos, quando comparados à maioria dos que existiram nos períodos Jurássico e Cretáceo. Com cerca de 1,5 metro de comprimento, o Buriolestes schultzi  e o Saturnalia tupiniquim são exemplos clássicos de dinossauros triássicos.

Maiores que eles eram o Staurikosaurus pricei  e o Gnathovorax cabreirai, que mediam entre 2 e 3 metros, e cujos fósseis, são datados de cerca de 227 e 230 milhões de anos, respectivamente. No caso do Gnathovorax, seu esqueleto é um dos mais antigos e preservados já encontrados no mundo, revelando que era um predador feroz:  tinha mandíbulas poderosas, dentes pontiagudos e serrilhados, além de garras longas nos dedos das mãos, que ajudavam a capturar as presas.

Herbívoros do amanhã

O pesquisador do Cappa Rodrigo Müller explica, na live, que criaturas tão antigas como as do Triássico são difíceis de serem reconhecidas. Para classificá-las, recorrem a técnicas filogenéticas, que possibilitam a análise de seu grau de afinidade com animais de períodos posteriores. Por mais incrível que pareça, a maioria dos dinossauros triássicos de que se tem registro (bípedes, carnívoros, pequenos e de pescoço curto) dará origem aos saurópodes (quadrúpedes, herbívoros, enormes e de pescoço super longo) do Jurássico e Cretáceo.

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Macrocollum: o dinossauro de pescoço longo mais antigo do mundo. Ilustração do paleoartista Márcio L. Castro, Wiki Commons

"Um é o oposto do outro, mas é isso o que parece ocorrer na linha de evolução", observa. E não é apenas a Filogenia que afirma a origem comum de dinossauros com características tão distintas. Fósseis confirmam isso. Segundo Rodrigo Müller, o Pampadromaeus barberanai, dinossauro brasileiro cujo fóssil tem cerca de 228 milhões de anos, começa a mostrar relações com os animais herbívoros, pois seus dentes não são tão recurvados quanto os dos dinossuros classificados como carnívoros, indicando uma mudança na dieta alimentar. Provavelmente, ele era onívoro, ou seja, comia plantas e pequenos animais e insetos.

O Macrocollum itaquii sugere ainda mais a relação dos saurópodes com os dinossuros carnívoros do Triássico. É o primeiro dinossauro de pescoço longo  registrado em todo o mundo. Seu fóssil foi encontrado no município de Agudo (RS) e o animal viveu há cerca de 225 milhões de anos.  Conforme Rodrigo Müller, o Macrocollum revela como o alongamento das vértebras do pescoço foi uma estratégia evolutiva para que tivessem acesso mais fácil à vegetação alta.

Predadores e corredores
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O feroz Gnathovorax. Frame da live Os dinossauros mais antigos do Brasil

O Gnathovorax cabreirai e o  Staurikosaurus pricei não pertencem à linhagem primitiva dos saurópodes, mas dos terópodes, grupo em que o tiranossauro rex também está classificado.

Embora muitos milhões de anos o separem, o Gnathovorax tinha em  comum com o tiranossauro o fato de ambos serem os mais vorazes de seu tempo e ocuparem o topo da cadeia alimentar.

O Pampadromaeus barberanai, que tinha pouco mais de 1,2 metro de comprimento, é classificado como saurópode, mas compartilha aspectos com os terópodes, conforme informações contidas na Sala de Imprensa da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

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O leve e corredor Pampadromaeus. Foto: Gabriel Mello, Ulbra, divulgação

Como tinha ossos leves e pneumautizados, característicos das aves, o Pampadromaeus é descrito como um dinossauro corredor. Por tais características, paleoartistas da Ulbra o recriaram com penas primitivas sobre o corpo.


Paleontologia do Brasil em alta

A Paleontologia é a ciência que pesquisa a história da vida na Terra através de vestígios preservados de seres vivos, tanto de animais e como de vegetais. Não a confunda (como muitos fazem) com a Arqueologia, que estuda, especificamente, as culturas humanas no decorrer da história da humanidade.

Graças às descobertas recentes sobre os dinossauros do período Triássico, o Brasil tem chamado a atenção internacional da área de Paleontologia. Não só  porque é, junto com a Argentina, berçário dos primeiros dinossauros do planeta, mas também por ter paleontólogos capazes de achar fósseis, descrevê-los e confirmar (ou não) hipóteses sobre o surgimento e a evolução desses animais.

A Sociedade Brasileira de Paleontologia foi fundada em 1958, instituindo o código de ética da profissão e o dia do palentólogo: 7 de março, em alusão à data de sua fundação naquele ano.

Você curte dinossauros e quer saber ainda mais sobre eles? Então assista ao vídeo No mundo dos dinossauros!

 
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