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Atento ao conteúdo educativo da animação
23 Setembro 2013 | Por Luís Alberto Prado
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liebanhomeNatural de Buenos Aires (Argentina), Andrés Lieban cresceu em Porto Alegre (RS) e trabalha com animação no Brasil desde os 16 anos. Atualmente, é diretor da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) e possui diversos trabalhos premiados em festivais nacionais e internacionais. É diretor criativo da produtora 2DLab, responsável pela série de sucesso Meu AmigãoZão, cujo primeiro episódio foi lançado em 2010. Um dos marcos de sua carreira foi a participação de Sinai no Anima Mundi Web 2000 (hoje Anima Multi). O filme conquistou o segundo lugar em votação popular.

Em 1998, abriu o estúdio Laboratório de Desenhos, que em 2000 começou a produzir em flash para a internet. Entre seus trabalhos, destacam-se BonJour, Soda Sexo e Genoma 2020. Também foi autor de Como Surgiu a Noite?, curta-metragem basado numa lenda indígena e que foi usado para iniciar as sessões de cinema do filme Tainá 2 – A Aventura Continua. Em 2009, criou o desenho Quarto do Jobi. Conheça um pouco mais da carreira, das influências e da forma de criação de Andrés Lieban.

MULTIRIO - Como e quando você percebeu que queria trabalhar com animação?
ANDRÉS LIEBAN - Toda criança tem um espaço muito maior que o adulto para desenvolver sua criatividade. Mas, após a etapa de alfabetização e com o desenvolvimento mental que deriva daí, o lado esquerdo do cérebro (raciocínio lógico) começa a gerenciar um espaço que era totalmente ocupado pelo direito (conexões intuitivas). A partir desse momento, algumas crianças persistem com uma produção criativa ininterrupta e outras desenvolvem interesse por outras áreas humanas ou, ainda, pelas Ciências Exatas ou Biológicas. Eu sempre desenhei e enchia meus cadernos com desenhos de veículos e personagens. Isso não parou nem na alfabetização, nem na vida escolar dos antigos 1º e 2º graus. Aí, é claro, passou a chamar mais atenção. Mas foi aos 16 anos, num curso trazido por uma dupla de animadores veteranos da Argentina, em Porto Alegre, que eu tive contato com animação. Antes disso, nem passava pela minha cabeça que isso poderia ser uma opção profissional. Foi um caso de contágio imediato, não só uma identificação pessoal, mas uma rara sensação de certeza de que era para fazer aquilo que eu tinha nascido.

MULTIRIO - Quais são suas principais influências?
AL - Cinema em geral. Sou um devorador de qualquer gênero e categoria. Assisto a tudo, mesmo só para criticar. Tem sempre coisas boas e ruins para aprender o que fazer e o que não fazer. Os diretores que me chamam a atenção têm estilos bem diversos (Kubrick, Hitchcock, Woody Allen, Spielberg, Almodóvar, Tarantino, David Lynch, Disney, John Lasseter, Tim Burton, Gendy Tartakovsky, John Kricfalusi, Hayao Myiazaki). Citando títulos específicos, além de todos os filmes da Disney, o longa Cinema Paradiso e o curta Father and Daughter, de Michael Dudok De Wit (animador, diretor e ilustrador holandês), estão entre os favoritos. Também tenho muita influência dos profissionais com quem trabalhei e com quem aprendi o ofício, acima de qualquer outra. Nunca fui um grande leitor de quadrinhos. Meu herói favorito da TV era o Zorro, aquela série que começou a passar em preto e branco. E assistia a muitas séries animadas na TV.

MULTIRIO - Em mais de 20 anos de atividade, como é produzir hoje em relação ao passado?
AL - Hoje estou tendo uma visão mais panorâmica do processo de grandes produções de animação. Sinto falta de mais contato direto com a animação, como tinha antes. Mas também me divirto muito na direção de alguns desses projetos, pois a intervenção criativa é ainda maior. Do ponto de vista técnico, muita coisa mudou. Eu vivi a transição revolucionária da animação analógica para a digital. Quando comecei, animávamos no papel, finalizávamos e coloríamos os desenhos em acetato e filmávamos com uma truca de cinema. Às vezes, levava semanas para conseguir revisar um trecho animado e saber se estava bom, pois o filme de teste precisava voltar revelado do laboratório. Era impossível realizar qualquer projeto pequeno sem uma equipe mínima e uma infraestrutura cara. Hoje, um animador tem controle total sobre seu trabalho, pode realizar seu próprio curta sozinho, em qualquer lugar, em muito menos tempo e ainda exibi-lo instantaneamente para o mundo, algo ainda impensável nos anos 90. Parece ser um mundo melhor para o animador. No entanto, percebo que o conhecimento analógico teve um papel importante, a ponto de observar sérias lacunas na bagagem de alguns profissionais que começam já na esfera digital e não questionam a origem técnica das soluções trazidas mastigadas pelo software.

MULTIRIO - Como está o mercado de animação no Brasil?
AL - Em franca expansão, em especial no eixo Rio-São Paulo, mas começando a capilarizar no Sul e no Nordeste. Acredito que essa regionalização continue crescendo também, já que muitos profissionais estão vindo trabalhar por períodos determinados nas produções da Região Sudeste e devem voltar com uma grande bagagem para seus mercados locais. O segmento de produções de conteúdo (não publicitário e não institucional) passou a ser uma realidade dos últimos cinco anos para cá. Ainda não podemos chamar de uma indústria consolidada, pois ainda falta uma produção estável. Porém, vários estúdios estão com perspectivas de trabalho de médio prazo e formando e contratando novos profissionais, o caso da 2DLab. O imaginário das crianças brasileiras (e dos adultos) é dominado por heróis importados. Temos algumas exceções, como a Mônica, mas que chegou ao seu público muito mais pelos quadrinhos do que pela TV ou cinema. Estamos começando a ocupar uma fatia do mercado carente de conteúdo e com muito espaço para ser conquistado. O governo está sensível a essa necessidade e criando mecanismos que facilitem esse escoamento, impulsionados pela nova lei de cota de produção independente brasileira nas TVs por assinatura.

MULTIRIO - Há espaço para o uso da animação pelos educadores?
AL - Com certeza. A criança pode assimilar o mundo de forma muito mais eficiente e divertida se receber estímulos lúdicos. Ela se expressa por meio da brincadeira e percebe o mundo por metáforas visuais, como os contos de fada. Alguns mecanismos já são bons indicativos dessa aproximação, como a própria TV Escola; a compra, pelo Ministério da Educação (e as demais secretarias desta pasta), de conteúdos audiovisuais para distribuição na Rede Pública de Ensino, como recurso complementar; as iniciativas de mostras e festivais de cinema infantil quando procuram se aproximar das escolas; os programas educativos que trazem o cinema para a sala de aula ou levam os alunos ao cinema, promovem debates com os autores etc. Acho que a porta já foi aberta e deve haver um movimento de ocupação natural. Mas acho importante estarmos atentos ao conteúdo, em especial àquele desenvolvido com interesses educativos. As crianças, como qualquer espectador, querem boas histórias, bons personagens, querem assimilar experiências. A informação tem que vir por meio dessas histórias, no seu subtexto, sem subestimar sua inteligência e capacidade de assimilação. Se você diz à criança que ela vai aprender algo lendo um livro ou vendo um filme, pode pôr a perder todo o seu interesse. Ela precisa se divertir e, com a atenção trazida pelo entretenimento, assimilar mensagens – que, por sua vez, precisam ser formuladas de forma responsável, em especial para o público infantil.

 
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