Alexandre Bersot é ilustrador e animador. Em 1984, cursou Cinema de Animação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Em 1990, participou do curso A Linguagem do Cinema como Meio Didático, realizado pelo Cineduc – Cinema e Educação. Neste mesmo ano, formou-se em Educação Artística, e trabalhou como professor concursado na Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro (1991 a 1992).
Em 1993, 1994 e 1998 ganhou, respectivamente, a menção honrosa, o 2º lugar e o Prêmio Exposição no Salão Carioca de Humor. Levou, ainda, menção honrosa na II Bienal Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (MG), em 1997. Neste mesmo ano, participou do Salão Internacional de Humor de Havana e do Salão de Humor de São Paulo. De 1997 a 1998 criou e ministrou o curso A Linguagem dos Quadrinhos como Recurso Didático, para requalificação de professores da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, no projeto Sala de Leitura. A apostila do curso, criada pelo autor, virou tema do programa Cidade Educação, produzido pela MultiRio.
Em 2002, fez a direção de arte e a animação do curta Cidadelas, baseado nos versos e ilustrações de Cacaso (poeta e músico brasileiro morto em 1987). Voltou ao Anima Mundi em 2003, com o curta História de Beber Água. Em 2004, participou do mesmo evento com o filme Pavloviana. Em 2006, participou do 14º Anima Mundi com A Última Lenda. Entre 2004 e 2005, foi professor de Desenho Animado do Curso de Artes Visuais das Faculdades Pestalozzi de Niterói (RJ).
MULTIRIO - Como tudo começou?
ALEXANDRE BERSOT - Era um sonho de criança. Via todos os desenhos animados da TV, mas foi por causa de uma propaganda de refrigerante, na qual um menino jogava futebol e marcava um gol, que fiquei com vontade de fazer desenhos animados. Acho que por isso eu me identifiquei mais, vi que os desenhos animados estavam mais próximos de mim. Ou seja, alguém também fazia isso no Brasil. Havia outras propagandas brasileiras que utilizavam animação, mas essa foi a primeira que vi colorida, acho que em 1973 ou 1974.
Em 1984, surgiu a oportunidade de fazer um curso de animação. Foi na Escola Superior de Propaganda e Marketing, com o animador argentino Felix Follonier, que desejava montar uma equipe no Rio. Mas só comecei a fazer animação mesmo em 2002, porque depois do curso não tinha onde trabalhar – no Brasil havia poucos estúdios de animação e, na verdade, eu nem sabia onde e como procurar emprego nessa área.
MULTIRIO - Quais foram suas influências e suas inspirações?
AB - Principalmente filmes do Leste Europeu, de países da antiga Cortina de Ferro. Como eu praticamente realizo apenas curtas autorais, a técnica e o estilo daqueles países influenciaram muito meu trabalho, pois eles têm uma carga expressionista muito grande e usam muito lápis de cor, carvão e pastel.
MULTIRIO - Há projetos para novos voos? Quais?
AB - Estou trabalhando numa produção coletiva chamada Conexão, adaptada de um conto russo de mesmo nome, escrito em 1937 por Danill Kharms. Ao mesmo tempo trabalho na produção de outro curta de minha autoria, chamado O Carro do Meu Pai. O primeiro tem previsão de ficar pronto em novembro deste ano; já o segundo, só no ano que vem.
MULTIRIO - Como foi sua experiência dentro de sala, como professor da Rede Estadual nos anos de 1991 e 1992?
AB - Não muito boa, para ser franco. Encontrei uma escola suja, sem água e com janelas quebradas. Meu turno era o da noite, em uma disciplina que nunca foi lá muito respeitada (até porque sempre foi muito mal ministrada): Educação Artística. A maioria dos alunos trabalhava fora. Então, eu não poderia jamais fazer "trabalhos artísticos" com esses alunos. Por isso, elaborei um minicurrículo que envolvia cinema, fotografia, histórias em quadrinhos e História da Arte, de um modo que os alunos, cansados, pudessem se interessar pelo menos um pouco pelas diferentes linguagens artísticas. Acho que funcionou. Com certeza eles puderam conhecer um pouquinho de tudo e, principalmente, diminuir um pouco seu preconceito em relação ao fazer artístico. Cheguei a organizar um cineclube na escola, junto com um professor de História que era cinéfilo.
MULTIRIO - A propósito: o cinema de animação pode favorecer a educação? Como?
AB - Sim. Usar imagens em movimento e, principalmente, em forma de cartum provoca uma empatia muito grande com as pessoas e, claro, com as crianças. É um recurso audiovisual poderoso e deveria ser mais utilizado nas escolas, como é nos cursos de inglês, por exemplo. Mas é claro que é preciso haver sempre um bom embasamento pedagógico.
MULTIRIO - O que dizer para um jovem que pensa em trabalhar com animação?
AB - Faça um curso de animação tradicional, daqueles de desenhar no papel mesmo, usando a mesa de luz e a régua de três pinos, para aprender a animar, intervalar, cobrir o lápis com a caneta. Trabalho duro, mas compensador. Dominando a animação tradicional, o jovem poderá escolher qualquer técnica que quiser.
MULTIRIO - Como está o mercado nacional de animação?
AB- Cada vez melhor. Hoje há falta de profissionais no mercado e escolas têm surgido para suprir essa demanda. Estúdios são criados e estão contratando pessoal para as diversas etapas de uma produção. Há muitas séries animadas brasileiras já consagradas e outras em desenvolvimento, a maioria delas em coprodução com o Canadá. Nossas produções não devem nada às estrangeiras, e há séries como o Peixonauta, por exemplo, que já é exibida em mais de 50 países.