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Corredor Cultural também teve origem na literatura
27 Janeiro 2015 | Por Sandra Machado
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rachel300A implantação do Corredor Cultural, marco do olhar contemporâneo voltado à preservação do patrimônio arquitetônico carioca, foi um evento feliz, muito em razão do empenho de uma mulher que sempre enxergou os clássicos literários como base de sustentação de seu amor pelo Rio. Rachel Jardim, hoje com 88 anos, fala com ternura sobre suas caminhadas pelo Centro, ao lado do arquiteto Augusto Ivan de Freitas Pinheiro, autor do projeto. “Nunca fui uma funcionária burocrática. Eu ia para a Praça Quinze ou para a Saara, de loja em loja, convidar os comerciantes, que ficavam honradíssimos em poderem participar.”

Memórias do começo

Rachel era servidora no Departamento de Comunicação Social da Secretaria Municipal de Urbanismo durante a gestão de Israel Klabin (1979-1980). Um dia, foi convocada pelo principal assessor do prefeito com uma instrução bastante específica: “O secretário Matheus Schneider me deu a tarefa de ouvir os arquitetos e entender a proposta deles, para poder explicar mais tarde. Ele sabia que existia um aspecto cultural importantíssimo por trás da ideia do Corredor Cultural”. O próximo passo foi a convocação do escritor Rubem Fonseca, na época à frente da Secretaria de Educação e Cultura, e de mais um grupo de intelectuais para uma Câmara Técnica, já descrita no decreto de criação do Corredor Cultural como sendo formada por escritores. Rachel foi nomeada presidente.

Durante três meses, logo prorrogados por mais três, os envolvidos percorriam o centro da cidade e se reuniam para trocar impressões. “O Israel Klabin não conhecia o Real Gabinete Português de Leitura e também ficou perplexo com a Saara. Para ele, aquilo tudo parecia uma grande aula prática de história”, relembra. Com a saída de Matheus Schneider, o projeto foi transferido para a Fundação Rio, órgão recém-criado pela Prefeitura. “Lançamos o projeto do Corredor Cultural em pleno Bar Luiz, ponto de encontro de escritores e jornalistas, o que facilitou dar visibilidade ao projeto.”

Nascida em Minas Gerais, Rachel Jardim vê um quê de predestinação relacionando seu lugar de origem à sua carreira. “Mineiro acredita muito em patrimônio. Não foi por acaso que acabei trabalhando com isso.” Além de ter realizado uma farta produção de textos sobre o assunto ao longo da vida, foi também a primeira diretora do Departamento Geral de Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Educação, depois subordinado à Secretaria Municipal de Cultura. “Aí comecei a dirigir uma equipe de arquitetos para a criação das Apacs.” Quando se reuniam, Rachel sempre lia trechos dos livros em que Machado de Assis descreve o Rio de Janeiro do seu tempo. E, também, alguns de Marcel Proust – autor que conhece a fundo – nos quais ele recria o que há de mais essencial na alma de uma cidade: a ambiência.

penhoarUma carioca mineira

A família de Juiz de Fora se transferiu para a Cidade Maravilhosa há mais ou menos 70 anos. Depois de cursar Direito na PUC-Rio, que estava iniciando as atividades, Rachel Jardim estreou como escritora em 1973, lançando uma mistura de memória e ficção chamada Os Anos 40 – e que foi muito bem recebida pela crítica. No futuro, viria a publicar, também, livros de contos (Cheiros e Ruídos, A Cristaleira Invisível), um diário (Vazio Pleno) e romances (O Inventário das Cinzas, O Penhoar Chinês). Este último teve, inclusive, edições em duas editoras: primeiro pela Funalfa – Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage, responsável pela política cultural do município de Juiz de Fora – e depois pela José Olympio. Nele, o personagem irmão da protagonista foi declaradamente inspirado no amigo Augusto Ivan.

O livro mais recente se chama Num Reino à Beira do Rio e é outra obra bastante original. Um caderno poético, com textos selecionados pelo escritor Murilo Mendes para cortejar a mãe de Rachel, Maria Luisa, foi ilustrado com delicadas aquarelas feitas pela musa inspiradora e é composto, também, por uma análise literária do poeta, editor e ensaísta Alexei Bueno. Outros trabalhos foram publicados em antologias, como o belo Rua do Lavradio, redigidos em formato de peça teatral ou de roteiros televisivos. Também são de Rachel os textos publicados na coleção de postais Olhos de Ver, que destacavam as belezas das ruas e paisagens cariocas, durante o processo de constituição do Corredor Cultural, nos anos 1980, e que se tornaram artigos disputados, até hoje, por colecionadores. A escritora condensa o essencial de sua produção em poucas palavras: “O tempo é um personagem importante dos meus livros. Os mineiros têm uma obsessão por esse tema, assim como pelo tema da morte e da eternidade”.

Formação acima da média

Na segunda metade da década de 1950, quando Negrão de Lima ocupou a prefeitura do então Distrito Federal, Rachel foi selecionada pelo cônsul da Holanda para um curso de formação em administração municipal realizado no exterior, do qual participaram ministros, deputados e outras autoridades de diversos países. Ao longo de um ano, ela estudou in loco os modelos adotados na Alemanha, Inglaterra, Suécia e Holanda. Em 1965, quando ocupava a direção do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM), mais uma vez investiu em qualificação, ao pedir licença da função para fazer um curso de especialização em museus na cidade de Nova York. Mesmo com todos os investimentos profissionais, a escritora ainda encontrou tempo para ser a bem-sucedida mãe do músico Bernardo e de Ana Teresa, professora e especialista em indumentária.

 
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