As mudanças profundas em nosso modo de pensar e de fazer a comunicação estão reconfigurando rapidamente quase tudo em nossa sociedade. Isso tem um forte impacto sobre os modos de se aprender e, portanto, de se ensinar. O que nos tem obrigado a redefinir as funções da educação, da comunicação e, sobretudo, das relações entre esses campos cada vez mais convergentes, ora fazendo emergir algo novo e transdisciplinar, ora colidindo e deixando ver forças antagônicas.
Dar nome a essa nova zona de convergência tem sido um problema para quem pratica e estuda essas novidades, mas aos poucos as bandeiras vão tendo cores definidas e demarcando territórios. É o caso de termos como “midiaeducação” e “educomunicação”, para citar duas das tendências de maior vigor atualmente. Seus significados vão se formando a partir da legitimação social de suas propostas e práticas. E, com o jogo ainda em aberto, seus protagonistas têm tempo e liberdade para influir na definição desses significados. Mas há diferenças em campo.
A chamada midiaeducação tem agregado pessoas e ações mais preocupadas com a educação para, pelos e com os meios. Deriva de tendências como a media education, oriunda dos países de língua inglesa nos anos 1970, por vezes marcada por preocupações com o conteúdo moral veiculado pela mídia. Ou da educación para los medios, típica dos países de língua espanhola e com ênfase na recepção ativa e crítica desses conteúdos. A partir dos anos 1990, evoluiu para uma visão que vincula o desenvolvimento da capacidade de participação do sujeito na sociedade à sua apropriação técnica e expressiva dos diferentes meios e linguagens.
Em geral mais voltada para as práticas escolares, a midiaeducação ganhou força nas discussões curriculares orientadas para a interdisciplinaridade, os projetos didáticos e os redesenhos curriculares.
Já a educomunicação apresenta-se como uma perspectiva mais abrangente, porém de delimitação social mais circunscrita cultural e academicamente. Emerge como um campo com identidade muito associada aos movimentos de esquerda na América Latina, a partir de um histórico de convergência entre comunicação e educação no meio popular, desde fins dos anos 1960 (inclusive com sustentação em Paulo Freire).
Suas bases teóricas agregam a visão de um receptor ativo e da dialogia como fator essencial da dinâmica cultural. Sua perspectiva não está tão centrada na educação escolar, mas na diversidade das interfaces sociais em que educação e comunicação se encontram. Seu foco é o desenvolvimento de ambientes interativos e propícios à pluralidade expressiva e à participação: ONGs, projetos sociais e ambientais em geral, ensino informal, entre uma variedade de práticas.
A educomunicação caracteriza-se como um paradigma muito específico na convergência comunicação-educação, fortemente identificado com o exercício e a ambientação do diálogo, da expressividade e da participação. E menos focado em aspectos tecnológicos, embora os discuta densamente. Delimita seu campo de estudo e intervenção em quatro áreas básicas: educação para a comunicação, mediação tecnológica na educação, gestão comunicativa e reflexão epistemológica. Essa delimitação, por sua vez, evidencia duas outras características diferenciais da educomunicação: a preocupação com a gestão de seus empreendimentos e o esforço concentrado na consolidação de sua base teórica.
Eduardo Monteiro é designer, mestre em Educação e realiza pesquisa de Doutorado sobre Educomunicação na ECA/USP.