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Divergências e Crises na Constituinte de 1823

Em meio a tamanhas divergências dentro da Constituinte ocorreu o espancamento do jornalista Luís Augusto May, redator do Malagueta, periódico ligado aos democratas e responsável por críticas apimentadas aos Andradas. Publicação típica da imprensa da época e de grande repercussão, na Corte em especial, tinha como lema uma frase do filósofo francês Rousseau: "Quando se diz acerca dos negócios do Estado - o que me importa? - deve-se dizer que o Estado está perdido."

May, na publicação de 5 de junho de 1823, fez diversos ataques a José Bonifácio. A reação veio a seguir, na noite do dia 6, em forma de agressão, conforme narrada pelo próprio May: (...) "alguns homens que o tempo não permitiu contar (...) que levavam espadas (...) que eu vi."

Este episódio repercutiu bastante na Constituinte. Comentava-se que os mandantes seriam os Andradas com o conhecimento do imperador. Alguns, murmurando, chegaram até a insinuar que o próprio D. Pedro I teria participado da violenta agressão.

Em meio a tudo isso, os conflitos entre as forças políticas (Partido Português e Partido Brasileiro) prosseguiam, desarticulando a frágil unidade existente dentro da Assembléia Constituinte e enfraquecendo, por outro lado, o Ministério dos Andradas.

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Dentro do Partido Brasileiro, por exemplo, surgiam desavenças entre os Andradas e outros membros do seu grupo. Estes desacordos ocorreram desde que José Bonifácio apresentou à Assembléia uma representação sobre a escravidão no Brasil. Defendia a idéia, que despertava muita desconfiança e desagrado em inúmeros componentes do Partido Brasileiro (proprietários de escravos e de terras), da extinção gradual da escravidão. Dizia que, desta forma, surgiria uma (...) "Nação homogênea, sem o que nunca seremos verdadeiramente livres, respeitáveis e felizes."

Tantas discordâncias, acrescidas de inúmeras intrigas políticas, propiciaram a queda do Gabinete dos Andradas que, segundo o historiador Pedro Octávio Carneiro da Cunha, "acontecera sobre um terreno de acordo entre a maioria dos deputados e o monarca". A partir de então, na Constituinte - para a qual tinham sido eleitos - e no jornal O Tamoio, José Bonifácio e seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco promoveram constante oposição do governo de D. Pedro I. O escritor e jornalista Euclides da Cunha, posteriormente, comentou que os Andradas "apeando-se do poder apelam para os recursos que condenavam na véspera".

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    A Assembléia Constituinte de 1823