Aline de Azeredo L. Guedes é professora na rede de ensino da Prefeitura do Rio desde 2015. É graduada em Português e Literaturas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), especialista em Ensino de Língua Portuguesa pelo Colégio Pedro II e atualmente é mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com linha de atuação em Estudos de Linguagem e Práticas Sociais.
Rose Monteiro da Silva Cézar é professora na rede de ensino da Prefeitura do Rio desde 2011. Tem graduação em Português e Italiano pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestrado em Didattica d`italiano come lingua straniera pela Università Ca` Foscari Venezia.
O projeto Pequenos Escritores tem por objetivo principal promover a ressignificação do universo da escrita. Na sua dinâmica, os alunos são inseridos em uma didática do texto que não prevê somente uma nota atribuída ao final do bimestre, mas também o espaço percorrido pelos alunos após as etapas de produção textual.
Por terem ciência de que as produções em sala de aula estarão disponíveis para a comunidade, os alunos se sentem verdadeiramente motivados a participar do processo de criação e não veem a tarefa de escrita e revisão do próprio texto como algo enfadonho.
Quando seus textos ganham visibilidade para além da sala de aula, observamos como o trabalho com a escrita criativa pode trazer mudança de comportamento, promovendo autonomia. E isso se reflete invariavelmente na autoestima dos alunos.
Dentre as 10 competências gerais estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), figuram como eixos relevantes o exercício do protagonismo, através da autoria na vida pessoal e coletiva, e a participação em práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
Dentro deste viés, implementamos em nossa escola o projeto Pequenos Escritores, cuja abrangência prevê a produção de textos elaborados por alunos dos anos finais do Ensino Fundamental, que são compartilhados com a comunidade escolar em evento de culminância dos trabalhos.
Consta, como habilidade indicada pela BNCC (EF69LP51), em todos os anos finais do Ensino Fundamental, o trabalho com o fazer textual, em que estão previstas as etapas de planejamento, revisão e reescrita. Sendo assim, a escrita deve ser vista como ato de construção, em que seu processo de aprimoramento ocorre de modo contínuo.
Para desenvolver proficiência na escrita e contribuir para a segurança linguística dos alunos, concebemos o ensino da prática textual como um meio processual, em que estão previstos os seguintes passos: planejamento, produção, revisão e refacção – sendo imperativo, portanto, perceber o evento de escritura como uma construção.
A metodologia do trabalho feito em sala de aula contou com as seguintes etapas: círculos de leitura voltados para a temática da infância e para o gênero textual poema (alguns autores abordados em sala: Pedro Bandeira, Ruth Rocha, Roseana Murray, Jose Paulo Paes, Manoel de Barros, dentre outros); bingo de rimas e jogos coletivos e oficinas de poesia de onde surgiram as primeiras versões dos textos.
A prática da produção e da refacção textual em sala, prevendo o engajamento dos alunos nos processos de planejamento, escrita, revisão/reescrita, contribuiu para um trabalho colaborativo, fazendo com que os alunos percebessem a atividade escrita como atividade processual e pudessem ainda encontrar motivação para aprimorar os próprios textos, uma vez que estes seriam expostos em evento de culminância da Feira Literária que ocorre todos os anos, com o lançamento de um livro de poemas.
O trabalho com práticas de linguagem em sala de aula deve ser aquele que se propõe a oferecer ao aluno maior agenciamento sobre seu fazer textual. Nesse sentido, o professor será a figura que vai, de modo dialógico, discutir os caminhos possíveis para que o aluno compreenda o processo de revisão e refacção de seu texto como uma tarefa importante em seu projeto de dizer.
Por fim, o trabalho desenvolvido contemplou as seguintes habilidades propostas pela Rede em todos os anos finais do Ensino Fundamental:
O projeto Pequenos Escritores trouxe um impacto positivo para a dinâmica da sala de aula pois, ao exercitar a prática da escrita criativa, tivemos uma ressignificação de como o aluno encara a tarefa da produção textual.
Anteriormente, a mentalidade dos alunos perante a tarefa de produção escrita seguia o seguinte raciocínio: cumprir objetivos de aspectos gramaticais e alcançar os objetivos discursivos propostos pelo professor, para assim conseguir uma boa nota, encerrando-se nela sua relação com a tarefa de escrever textos.
Com o desenvolvimento do nosso projeto, os alunos se mostraram engajados e dispostos a participar da Feira Literária promovida pela escola. Isto se deve ao fato de estarem expostos a práticas que valorizam a autoria e o exercício da criatividade, com trabalhos que podem ser compartilhados com alunos da escola ou até mesmo com a comunidade escolar. Ou seja, escrever deixou de ser uma tarefa meramente avaliativa para se tornar uma oportunidade de desenvolver o protagonismo.