Tal proposta tem como objetivo contextualizar o bullying através de uma perspectiva multimodal da educação, onde o método científico infantil assume o principal viés do processo. Colocando a criança como protagonista de seus saberes ao vivenciarem brincadeiras, jogos, experimentos e musicalização envolvendo a mesma temática (bullying). Foi utilizado a abordagem dialética, observacional, descritiva, exploratória e qualitativa, concentrando-se em cinco etapas: observação, questionamento, formulação de hipóteses, realização de experimentos e conclusão, respeitando assim, os direitos de aprendizagem garantidos na base nacional comum curricular.
A busca constante por diversificar a educação no cotidiano, assume aqui uma metodologia de investigar. Tal proposta possibilita o despertar do senso crítico nas crianças, desenvolvendo autonomia e a capacidade de tomar decisões. Portanto, ensinar ciência é construir o aprendizado sobre o mundo em suas reais dimensões.
Na dinâmica escolar, as crianças eram envolvidas constantemente por empasses na disputa de brinquedos, ordem de chegada e também nas demais questões envolvendo direitos e respeito nas regras de convivência em sociedade. Palavras de aspereza, xingamentos, conflitos físicos, se desdobravam sob o olhar do bullying. Assim o tema surgiu, no chão da escola, onde o protagonismo infantil nos deu pistas para as demais etapas, as quais partiram da mediação de leitura da história "O Segredo de Lila Liloca", de Lúcia Guimarães, editora Volante.
1. Observação: Inúmeras vezes as crianças eram envolvidas e também presenciavam às questões supracitadas em diferentes momentos no cotidiano escolar. Os permanentes conflitos geravam tristeza, medo e desconforto emocional entre os mesmos.
2. Questionamento: As crianças se perguntavam: "Será que gritar, falar mal, xingar, empurrar e bater, não faz o amigo sofrer? Será que causa tristeza no coração do amigo?"
3. Formulação de hipótese: E na tentativa de elaborar uma resposta para explicar como o bullying afeta o corpo e a alma dos amigos envolvidos, surgiu a necessidade de contextualizar essas formulações em um processo investigativo.
4. Realização de Experimento:
Experiência do som: As crianças ao gritarem bem pertinho do sal em cima do plástico, perceberam o quanto o tal assume desenhos diferentes e analisaram como eles se movem. Imediatamente fizeram a associação com o impacto físico dos gritos dentro do nosso corpo (órgãos/fisiologia).
Experiência do Arroz: Colocamos a mesma quantidade de arroz cozido em dois potes de vidro iguais. O primeiro pote, em que as crianças marcaram com uma narrativa gráfica de uma carinha feliz, recebeu palavras de amor, elogios, frases positivas, enquanto o segundo pote, marcado com uma narrativa gráfica de carinha triste, recebeu palavras de aspereza, xingamentos e frases negativas.
5. Conclusão: Após as crianças vivenciarem as seguintes abordagens na sequência pedagógica: mediação de leitura, musicalização, jogos e brincadeiras, experimentos científicos, bem como os registros no caderno das Crianças Cientistas (nome dado pelos alunos através de uma votação para escolher o título). A mensuração foi aferida uma vez por mês, onde as crianças fizeram a observação dos potes e relatavam oralmente para a professora regente, a qual escrevia as características físicas dos dois potes, bem como o registro fotográfico.
Percebeu-se que o arroz cujo recebeu palavras boas permaneceu com as suas características físicas praticamente inalteradas, enquanto o arroz o qual recebeu palavras negativas, teve as suas características físicas completamente transformadas: apodreceu, apresentando núcleos de bolor e na base água com chorume.
Todo o processo dialoga com a linha mater da história "O Segredo de Lila Liloca" e está registrado no arquivo PDF de apresentação anexado.
Desdobrando a etapa 5 do método científico infantil descrito no Relato da Prática, as crianças chegaram à conclusão que o bullying impactou diretamente o arroz, deixando-o podre, e assim, correlacionaram os saberes advindos desta experiência científica com os mesmos impactos que o corpo humano sofre com a negatividade das palavras e ações.
Percebeu-se uma mudança positiva no comportamento nas crianças quanto às questões supracitadas na primeira etapa do Relato da Prática. Todo o processo vivido reverberou em saberes onde a auto regulação das emoções tornou-se evidente nas crianças. E quando surgem conflitos, não revidam mais, ao invés disso falam: "Tem certeza? Pensa bem, vai acabar virando um arroz podre!".
Tal abordagem está relacionada intrinsicamente ao PPP da escola: "GENTILEZA GERA GENTILEZA". Pois para um mundo melhor, uma sociedade mais justa e com mais equidade, as palavras positivas corroboram a intenção de vivermos em um ambiente harmônico e solidário.
Leitura e Escrita na Educação Infantil: do compromisso à prática / CEIPI-Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Educação, 2024
Currículo Carioca / Educação Infantil / CEIPI-Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Educação, 2024
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OLIVEIRA, Marta Kohi de, Lev Vygostsky. Disponível ( Online) em : https://docplayer.com.br/338121-Lev-vygotsky-marta-kohi-de-oliveira-text-e-apresentacao.htmi