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A "Nobreza da Terra" e os Mascates

Os senhores de engenho consideravam o movimento que lideravam para a expulsão dos holandeses como uma Restauração - à semelhança da Restauração que devolvera a independência ao Reino português em 1640. Por essa razão, auto-denominavam-se "restauradores". A partir da segunda metade do século XVII, os senhores de engenho, descendentes desses homens, reivindicaram o estatuto de uma "nobreza da terra". A restauração tornou-se a bandeira das suas reivindicações junto à Coroa portuguesa. Isso significava distinguir, claramente, aqueles que à custa de "sangue, vidas e fazendas", enfrentaram os holandeses na luta pela restituição da capitania de Pernambuco à Coroa, dos que chegaram depois para aproveitar-se da nova situação.

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Na segunda metade do século XVII, em Pernambuco, havia uma nítida disputa de poder entre os habitantes de Olinda, ricos senhores de engenho, e os moradores de Recife, comerciantes portugueses. Os senhores de engenho consideravam-se "nobres", os grandes aliados da Coroa portuguesa e, por conta disso, queriam ser tratados com distinção.

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Entretanto, "com a ascensão de Dom João V ao trono português, em 1706, a Coroa abandonou sua política de benevolência para com a "nobreza da terra", tratando de cortar-lhe as asas e de aliar-se ao comércio reinól, numa reversão de alianças", segundo o historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello.

Não podendo mais contar com o apoio prestigioso da Coroa, os senhores de engenho de Olinda tentaram através da sua Câmara Municipal, uma ação contra os comerciantes portugueses de Recife, aos quais chamavam de forma depreciativa de mascates. Conseguiram bloquear, contra a vontade dos governadores e até mesmo contra uma decisão da Metrópole, a entrada dos recifenses na Câmara Municipal de Olinda.

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Em 1710, buscando contornar a situação, o rei Dom João V elevou o povoado do Recife à condição de vila, com uma Câmara Municipal que passou a ser controlada pelos comerciantes portugueses. Deixou a de Olinda à "nobreza da terra" e aos descendentes dos restauradores. Dessa forma conseguiu esvaziar, progressivamente, o antigo poder dos vereadores olindenses. "Na segunda metade do século XVIII, a Câmara de Olinda, reduzida à gestão acanhada de uma cidade decrépita, conferia mais honra do que poder", recorda o historiador pernambucano.

Para complicar ainda mais essa disputa, no final do século XVII e início do XVIII, houve uma grande queda do preço do açúcar, e os senhores de engenho viram suas fortunas encolher. Passaram a pedir empréstimo aos comerciantes, os mascates, que lhes cobravam altos juros. Enquanto aqueles ficavam mais pobres, esses tornavam-se cada vez mais ricos, ganhando maior "status" na sociedade.

Esses dois fatores acirraram a disputa, estimulando ódios e provocações entre os dois grupos, culminando com a chamada Guerra dos Mascates, ainda em 1710. O governo português interveio na disputa para acabar com os conflitos, garantindo apoio à causa dos comerciantes portugueses. Em 1711 Recife tornou-se a capital da capitania de Pernambuco, caracterizando a decadência de Olinda e o começo do fim da época áurea dos grandes senhores de engenho do Nordeste.

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