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Zona portuária: revitalizações e marcas históricas
25 Outubro 2011 | Por Márcia Pimentel
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FRANCISCO_BICALHO-representao_do_futuro-_com_legendaA revitalização da Zona Portuária tem promovido grandes mudanças nas feições e na dinâmica do Centro do Rio. Atinge diretamente o quadrilátero compreendido entre as avenidas Rio Branco, Presidente Vargas, Francisco Bicalho e Rodrigues Alves, onde estão situados os bairros da Gamboa, Santo Cristo e Saúde e os morros do Pinto, Conceição, Providência e Livramento. Apesar da delimitação geográfica do projeto de revitalização, batizado de Porto Maravilha, toda a cidade sente o impacto das obras. A construção de hotéis, edifícios residenciais e comerciais, a inauguração de novos espaços culturais, a abertura de uma avenida na antiga rota dos trens e a desmontagem de quatro quilômetros do Elevado da Perimetral, substituída por um túnel no trecho entre a Rodoviária Novo Rio e o Mosteiro de São Bento, são algumas das intervenções que modificam a paisagem da região.

PRACA_MAUA_1910_COM_LEGENDAEsta é a segunda vez que a Zona Portuária do Rio é objeto de grandes intervenções urbanísticas por parte da Prefeitura. A primeira ocorreu há cerca de cem anos, quando o prefeito Pereira Passos promoveu uma grande reforma urbana em toda a região do Centro da cidade. O aterramento de grande área da Baía de Guanabara, distanciando os ancoradouros das encostas dos morros da região, a abertura de novas avenidas como Rodrigues Alves, Francisco Bicalho e Central (atual Rio Branco), bem como a criação da Companhia das DocasMORRO_DA_PROVIDNCIA_com_legenda e da Praça Mauá, foram algumas das medidas tomadas àquela época.

A matéria-prima para o aterro da região portuária veio dos morros do Senado e do Castelo e das ilhas das Moças e dos Melões, todos derrubados durante as reformas do ex-prefeito Pereira Passos, na primeira década do século XX. Boa parte dos desabrigados pela operação de remodelação da região central da cidade – que ficou conhecida como “bota-abaixo” – encontrou abrigo nos velhos casarões coloniais da Zona Portuária, que se transformaram em cortiços. Outros ex-moradores se alojaram na encosta do Morro da Providência e acabaram por fundar a primeira favela da cidade. Foi nesse ambiente da Zona Portuária que teriam se organizado os primeiros ranchos carnavalescos e teria surgido o samba carioca, com João da Baiana, Donga e Pinxinguinha, reunidos na Pedra do Sal, no Morro da Conceição, e nas festas da Tia Ciata, na região do canal do Mangue, que também recebeu parte do fluxo da população expulsa.

De acordo com o sociólogo Alberto Silva, coordenador dos programas Cultural e Cidadão do Porto Maravilha, a Zona Portuária acabou por se isolar da área nobre do Centro do Rio, depois da abertura da Avenida Presidente Vargas, na década de 1940. O quadro de isolamento e deterioração da região se completou com a mudança na forma de transportar a carga marítima. Com o advento dos contêineres, os armazéns da Avenida Rodrigues Alves perderam a utilidade. As atividades comerciais do porto e seu movimento de carga e descarga se deslocaram para o bairro do Caju.

GALPO_FERROVIRIO_com_legendaHoje, moram na região portuária do Rio de Janeiro cerca de 28 mil pessoas, a maioria pertencente às camadas mais pobres da população. Com as obras de revitalização, a expectativa é que o número de moradores chegue à casa dos 100 mil nos próximos dez anos.

Igreja_N.S._Sade_3_com_legendaAlém da construção de novos empreendimentos residenciais, a expectativa é que os incentivos fiscais oferecidos estimulem a recuperação, para fins de moradia e comércio, do casario considerado de grande interesse arquitetônico, que não pode ser demolido, nem desfigurado.

Várias cidades do mundo já passaram pelo processo de revitalização de suas igualmente degradadas regiões portuárias. Há um relativo consenso entre os urbanistas de que alguns projetos foram mais bem sucedidos que outros. Um dos mais criticados é o de Londres. De acordo com Eduardo Nobre, professor da Faculdade de Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), os empreendimentos na capital inglesa agravaram os problemas sociais da população pobre que morava na região portuária.

Como a maioria dos empregos criados necessitava de mão de obra altamente qualificada, a porcentagem da população local empregada caiu de 35 para 13%. A região também sofreu um processo de especulação imobiliária com expulsão dos pobres – explica Nobre.

Além disso, segundo o professor, o maior empreendimento do projeto de revitalização das docklands londrinas – a construção de quase um milhão de metros quadrados de escritórios em nove blocos de oito andares mais uma torre de 50 – quebrou a então maior construtora do mundo, a Olympia & York Properties (O&Y), logo após uma violenta queda na Bolsa de Valores de Nova York, que esfriou o mercado imobiliário de salas comerciais.

Talvez seja por conta dessa experiência e para evitar indesejáveis consequências sociais que o projeto de revitalização da Zona Portuária do Rio conte com um programa de treinamento da mão de obra dos moradores da região. Há ainda o programa Morar Carioca, que faz parte do pacote olímpico e pretende levar melhor infraestrutura não só às comunidades da região portuária, mas também às favelas do Rio.

 
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