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Estudo avalia benefícios da atividade física entre alunos
27 Junho 2016 | Por Sandra Machado
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(Foto: cidadeolimpica.com.br)

Há cerca de dois anos, uma equipe multidisciplinar vem realizando uma pesquisa que investiga a relação entre atividade física, alimentação balanceada e a boa saúde dos alunos da Rede Municipal de Ensino. À frente do projeto está o médico Carlos Scherr, mestre e doutor em Cardiologia e presidente da Fundação Pró-Coração (Fundacor), apoiadora do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), que recentemente apresentou os primeiros resultados em um congresso de especialistas nos Estados Unidos. 

Na primeira fase do estudo, foram coletados os dados dos alunos do Ginásio Experimental Olímpico (GEO) Juan Antonio Samaranch, em Santa Teresa, e da E.M. Figueiredo Pimentel (5ª CRE), em Turiaçu. Na segunda, do GEO Doutor Sócrates e da E.M. Deborah Mendes de Moraes (10ª CRE), ambas em Pedra de Guaratiba. Na atual fase do projeto, já foram analisados os dados de 745 crianças com média de idade de 12 anos, mas a ideia é chegar a cerca de 1.200 avaliações. A fim de facilitar a continuação da pesquisa nas turmas, a ser realizada no mês de maio de 2016, a coordenação do Projeto Saúde na Escola promoveu uma reunião no fim de abril. O objetivo era orientar os próximos participantes, que serão o GEO Félix Mielli Venerando, no Caju, e a E.M. Calouste Gulbenkian (1ª CRE), na Cidade Nova, sobre como minimizar qualquer interferência sobre a rotina escolar.

“Acreditar no projeto demanda envolver a escola. A saúde não é só ausência de doença. Precisamos entender a melhor forma de trabalhar com fatores de risco para cardiopatia”, declarou Gloria Macedo, coordenadora de Educação da Secretaria Municipal de Educação (SME). Diante de resultados suspeitos, a ação é imediata e os alunos logo são encaminhados para atendimento no INC. “Mesmo que apenas um caso tivesse sido descoberto, já seria importante”, afirmou Elisabete Alves, do Projeto Saúde na Escola, da SME, que tem intermediado toda a operação logística. 

Apresentação da representante da Fundacor aos professores envolvidos na pesquisa

Ludmila da Silva, da Fundacor, explicou que, quando há interesse, são examinados os adolescentes até os 15 anos, embora o recorte de faixa etária para a pesquisa se concentre no grupo dos 12 anos. Ao relatar sobre o trabalho realizado até agora, ela passou adiante todas as informações necessárias para a reunião com os pais que antecede os exames dos adolescentes. Triglicerídeos, colesterol total e glicose por coleta de sangue do dedo em jejum, peso, altura, circunferência abdominal, pressão arterial e ecocardiograma são os parâmetros utilizados, além de entrevista sobre atividade física e histórico familiar. Embora bastante simples, a assistente social afirmou que a maior dificuldade é vencer a desconfiança inicial dos responsáveis. “Eles dizem: meu filho se trata no posto. Mas mesmo que o pai deseje, se o aluno não quiser, ele não participa”, ressaltou, fazendo referência ao termo de consentimento, autorizado pelo adulto, e ao termo de assentimento, assinado pelo adolescente. 

“É preciso criar uma cultura familiar, já que qualquer pessoa pode ser acometida por problemas cardiovasculares. Todos nós devemos ter hábitos saudáveis”, reiterou. Até agora, foram encontrados poucos casos de cardite reumática – doença que se instala em consequência da febre reumática –, alguns casos de doença aterosclerótica – as placas de colesterol aderidas às paredes das artérias –, e diversos casos leves de prolapso da válvula mitral, geralmente um distúrbio de origem embrionária. Casos esparsos de regurgitação mitral e de dextrocardia – anomalia congênita em que o coração está voltado para o lado direito –, que poderiam se complicar sem o devido acompanhamento médico, também foram identificados. “No GEO de Guaratiba, um aluno que nem é obeso, inscrito em duas modalidades esportivas, teve que se afastar por alguns meses para tratamento, porque o problema dele já estava avançando, a ponto de começar a prejudicar até mesmo seu rendimento nas disciplinas”, explicou Ludmila. Para ela, o maior obstáculo ao encaminhamento médico dos adolescentes tem sido a dificuldade de deslocamento até o hospital, que fica na Zona Sul, no bairro de Laranjeiras.

Mesmo assim, a expectativa em relação ao projeto é a melhor possível. Karla Machado, do GEO Félix Mielli Venerando, acredita que a principal frente dessa campanha deva ser realizada junto aos responsáveis pelos adolescentes. “Fazemos um trabalho sério com a alimentação, realizamos palestras e até peças teatrais falando da nutrição saudável, mas nem sempre os bons hábitos são seguidos em casa.” Já a professora Bianca de Sales, do GEO Doutor Sócrates, julga que esteja começando aqui uma boa oportunidade de promover a saúde dos futuros atletas da escola. Patrícia Martins, coordenadora da E.M. Calouste Gulbenkian, se disse feliz em poder participar e saber que os alunos serão os maiores beneficiados. “A alimentação diferenciada dos GEOs mais os exercícios físicos já fazem a diferença. Acredito que esses dados possam inspirar outras escolas”, finalizou Ludmila. O resultado final do estudo deve ser divulgado em dezembro de 2016.

Protagonista do projeto inovador, o Dr. Scherr também concedeu uma entrevista ao Portal MultiRio, na qual forneceu mais detalhes e comentou algumas conclusões. 

(Foto: cidadeolimpica.com.br)

Portal MultiRio – Qual a origem deste estudo? 

Dr.Carlos Scherr – Alguns anos atrás, eu estava realizando uma pesquisa com crianças de escolas privadas e públicas. Tinha curiosidade de saber mais sobre a saúde cardiovascular, que começa na infância, quando a então secretária municipal de Educação, Claudia Costin, me apresentou ao modelo do Ginásio Experimental Olímpico, e eu fiquei encantado. Existe uma diferença muito grande entre praticar duas horas de atividade física todos os dias, fazendo cinco refeições balanceadas ou fazer uma hora de exercício semanal com apenas uma refeição balanceada ao dia.

PM – Como foi o desenvolvimento do trabalho?

CS – Ele envolveu estudantes de Medicina, cardiologistas, enfermeiras e assistentes sociais. Na primeira fase, durante quatro dias, com as crianças em jejum de 12 horas, foram realizados exames ecocardiográfico e laboratoriais, além do levantamento das características clínicas.

PM – O que revelam esses dados?

CS – Os dados sobre quem estuda fora do GEO são absolutamente alarmantes: 20% têm pressão arterial acima do esperado e 73% não fazem nenhuma atividade regularmente além daquela única hora semanal na escola, que não é suficiente. Essas crianças têm quatro vezes mais riscos de apresentar pressão arterial alta e duas vezes mais de ter colesterol acima da média com o passar dos anos.

PM – Como anda a relação com a balança?

CS – De forma geral, 40% estão acima do peso, seja nas escolas ou nos GEOS. Muito embora a gente acredite que, no caso das crianças dos GEOs, isso também possa ser atribuído mais à massa muscular e menos à massa gordurosa. A glicemia de todos os alunos está dentro do desejável.

PM – Algum dado específico chamou atenção no estudo?

CS – Ele vem apresentando um aspecto interessante: três vezes mais responsáveis dos alunos do GEO praticam atividade física regularmente. Esse dado indica aí uma relação. Pode ser que o incentivo e o exemplo do responsável sobre o filho exerçam alguma influência positiva. Ou, então, vice-versa: que o fato de a criança estar numa escola que privilegia os esportes e a educação física sirva de inspiração em casa. Ainda não sabemos.

 
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