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Épico e drama na telona
05 Janeiro 2010 | Por Carolina Bessa
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CanudoscartazfilmeEuclides da Cunha, inspirou uma série de produções audiovisuais sobre sua vida e obra. Um dos mais conhecidos filmes, Guerra de Canudos, do diretor Sérgio Rezende, ganhou as telas e conquistou o público. Cinema e literatura sempre andaram de mãos dadas. Não é raro ver na telona adaptações de livros clássicos ou mesmo best-sellers. Tanto que um dos nossos grandes escritores, Euclides da Cunha, inspirou uma série de produções audiovisuais sobre sua vida e obra. Um dos mais conhecidos filmes, Guerra de Canudos, do diretor Sérgio Rezende, ganhou as telas e conquistou o público. Além deste, há uma gama de documentários que procuram refazer os caminhos de Antônio Conselheiro, líder de Canudos, ou desvendar um pouco da tragédia que se abateu sobre a família de Euclides, assassinado pelo amante de sua esposa.

Segundo o diretor Sérgio Rezende, a concepção de Guerra de Canudos, uma história de ficção que conta como foi o conflito no fim do século XIX, misturando personagens ficcionais e reais, partiu do livro Os Sertões. “Foi a fonte de minha inspiração e do desejo de fazer o filme. Li muitos outros livros sobre o assunto, escritos na época ou bem depois, muitos deles bem interessantes, mas sem a grandeza incrível da obra de Euclides”, afirma o diretor.

Algumas referências da obra euclidiana podem ser notadas na história concebida por Rezende. A narrativa parte da história da família Lucena, que segue Antônio Conselheiro. Apenas a filha mais velha, Luiza, interpretada por Cláudia Abreu, se recusa a continuar a peregrinação. O filme tem como desfecho a guerra que dizimou a população do Arraial de Canudos e culminou com a morte do seu líder, interpretado por José Wilker. Na avaliação de Rezende, a família Lucena, que é ficcional, costura dramaticamente o filme e tem traços dos sertanejos descritos no livro de Euclides. Ele usou, inclusive, Zé Lucena, o chefe da família, na cena final da guerra, como sendo um dos poucos resistentes dentro da última trincheira.

Misturando ficção e documentário, o diretor Noilton Nunes preferiu levar para o cinema a vida de Euclides da Cunha, retratando o escritor da infância à fase adulta. Seu filme A Paz é Dourada tem estreia prevista para março deste ano. Uma das cenas mais tocantes da história, de acordo com Nunes, é a da morte da mãe do escritor, que se deu quando ele tinha apenas 3 anos de idade. Por ser um filme rodado há anos e reeditado com novas cenas, a primeira imagem que se vê na tela é a do ator Grande Otelo, que interpreta um escravo da fazenda em que Euclides morou nos primeiros anos de vida.

Assim como Rezende, o diretor de A Paz é Dourada teve como inspiração a obra de Euclides da Cunha. Ao se debruçar sobre os escritos do autor fluminense, Nunes optou por enfatizar em seu filme a parte ecológica e social do tema de Os Sertões. “Se tivéssemos ouvido o que ele (Euclides da Cunha) falava, o problema da seca poderia ter sido amenizado. Melhorariam as condições de vida da região”, diz acreditar Nunes.

Em Guerra de Canudos, o diretor optou por um olhar mais político na sua abordagem. Segundo Rezende, o que mais interessou foi falar do choque brutal entre o Brasil litorâneo e o dos sertões e da incompreensão recíproca entre esses dois segmentos do mesmo país naquele momento histórico.

A leitura de Os Sertões foi determinante para que os pensamentos do escritor, de alguma forma, repercutissem nas narrativas cinematográficas. Para Sérgio Rezende, a frase célebre euclidiana “acima de tudo o sertanejo é um forte” foi representada pela tenacidade com que o povo de Canudos resistiu a quatro investidas das tropas do Exército, muito mais equipadas e numericamente superiores. Já no caso do filme de Noilton Nunes, as falas saem diretamente da boca do escritor biografado e prometem ser o ponto alto, especialmente quando ele menciona a célebre expressão sobre a “imbecilidade triunfante”, referindo-se àqueles que subjugam o povo. Enquanto a frase é proferida, na tela aparecem as imagens de vários presidentes do Brasil, como uma forma de crítica à política nacional.

O chamado Cinema Novo, da década de 1960, também deu sua contribuição ao se inspirar na obra de Euclides da Cunha. Diretor de grande expressão da época, Glauber Rocha procurou falar do sertanejo e das míseras condições sociais de quem vive assolado pela seca em Deus e o Diabo na Terra do Sol. O filme, hoje uma preciosidade do cinema nacional, conta, de forma pouco convencional, a história do sertanejo Manoel e de sua mulher Rosa, que têm uma vida sofrida no interior do país, acometida pela seca da região. Depois de uma disputa por gado, o homem mata um coronel e foge com a mulher, juntando-se a um grupo religioso liderado por um santo, que lutava contra os latifundiários e buscava o paraíso.

Filmes sobre o tema

Euclides da Cunha, de Humberto Mauro, documentário de 14 minutos, 1944. A trajetória do escritor, evocando a época em que viveu, sobretudo a Guerra de Canudos.

Um Sino Dobra em Canudos, de Carlos Gaspar, documentário, 1962. Gravado totalmente em Canudos, registra depoimento de José Ciríaco (Tizé), remanescente da Canudos conselheirista.

Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, ficção, 1964. Miséria e messianismo são os dois temas centrais do filme, elementos importantes também em Canudos, com a dureza da vida do sertanejo e o estilo de pregação do líder Conselheiro.

canudos2O Sertão do Conselheiro, de Luis Celso Campinho, documentário de 10 minutos, 1984. Evocação dos caminhos percorridos por Glauber Rocha em Monte Santo e Cocorobó, Serra de Canudos, Bahia, quando filmava Deus e o Diabo na Terra do Sol.

Os Caminhos de Antônio Conselheiro, de Ana Roland, documentário, 1987. Trata da memória e das lembranças da Guerra de Canudos.

A Paz é Dourada, de Noilton Nunes, ficção, 1989. O filme conta a vida de Euclides da Cunha desde a infância até a fase adulta. Como foi rodada há 20 anos, a produção tem a presença do ator Grande Otelo, já falecido. O próprio processo de realização cinematográfica foi então incorporado ao filme, tornando-se um dos fios condutores da narrativa.

República de Canudos, de Pola Ribeiro e Jorge Felippi, documentário, 1989. Ganhador de vários prêmios em festivais de vídeos. Narra a trajetória da luta de libertação das comunidades organizadas do sertão da Bahia.

Paixão e Guerra no Sertão de Canudos, de Antônio Olavo, documentário, 1993. Conta a epopeia sertaneja de Canudos, no percurso de 180 cidades e povoados de Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bahia. O vídeo reúne raros depoimentos de parentes de Conselheiro, contemporâneos da guerra, filhos de líderes guerrilheiros, historiadores, religiosos e militares.

A Matadeira, de Jorge Furtado, ficção, 1994. Conta o massacre de Canudos tendo como mote um canhão inglês, apelidado pelos sertanejos de “A matadeira” e que foi transportado por 20 juntas de boi através do sertão para disparar um único tiro.

Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, ficção, 1997. No contexto da Guerra de Canudos, aparece a história de uma família, seguidora de Antônio Conselheiro. Pais e irmãos seguem sua peregrinação, mas Luiza, a filha mais velha, se recusa a continuar. A família tenta resistir aos conflitos em Canudos.

O Arraial, de Otto Guerra e Adalgiza Luz, animação, 1997. Tem proximidade com as imagens da literatura de cordel. No sertão da Bahia, no final do século XIX, centenas de famílias foram para o Arraial Santo de Belo Monte de Canudos, atraídas pelas promessas de Antônio Conselheiro.

 
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