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Vacinas contra a Covid-19 e as dúvidas sobre a forma mais eficaz de imunização
15 Julho 2020 | Por Márcia Pimentel
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VC interno
Cientistas de todo o mundo correm para encontrar uma vacina contra a Covid-19. Flickr, cc

O mundo já passou da casa de meio milhão de mortos por Covid-19, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mas a ciência ainda compreendeu, completamente, como o novo coronavírus age no organismo e como o corpo reage ao invasor. Sabe-se que o SARS-CoV-2 se conecta à proteína do gene ACE-2, presente na superfície de várias células, para promover infecções que podem atingir diferentes órgãos, como pulmão, rins, intestino e cérebro, entre outros. Sabe-se ainda que os pacientes que desenvolvem a Covid-19 de forma mais grave sofrem um intenso processo inflamatório aliado a uma resposta imunológica descontrolada (chamada de tempestade de citocina), que acaba lesionando os tecidos, podendo promover sérias sequelas, como a retirada dos intestinos, só para citar um entre os possíveis exemplos. Nesse cenário, as vacinas se tornaram a esperança para o indivíduo se proteger de um mal que pode ser letal. Algumas delas já estão em fase de testes, mas cientistas ainda têm dúvidas sobre quais respostas imunes elas deveriam produzir no corpo.

Segundo a OMS, mais de 130 pesquisas para produção de vacina contra a Covid-19, envolvendo cerca de 200 grupos de cientistas de todo o mundo, estão em andamento. Entre elas, duas são desenvolvidas por brasileiros. Uma é encabeçada pelo Instituto do Coração e pela USP e a outra por um consórcio de instituições (entre elas o Instituto Butantã, a Unifesp e a UFMG) liderado pela Fiocruz de Minas Gerais. Em todo o mundo, apenas 13 pesquisas encontram-se em fase adiantada de estudo, entre elas, as duas que estão em teste em voluntários brasileiros: a AZD 1222, que até pouco tempo tinha o nome de ChAdOx1-1 e que é mais conhecida como vacina de Oxford (por estar sendo criada pela universidade inglesa de mesmo nome) e a CoronaVac do laboratório privado chinês Sinovac Biotech. Desenvolvidas a partir de metodologias diferentes, ambas buscam induzir a produção de anticorpos pelo organismo. Mas uma das perguntas que os pesquisadores se fazem hoje é: qual tipo de resposta imune é a mais eficaz contra o Sars-CoV-2?

Sistema imunológico

Segundo publicação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, o corpo é capaz de produzir alguns tipos de resposta imune. A produção de anticorpos, denominada resposta humoral, é realizada a partir dos linfócitos B, por células encontradas no plasma sanguíneo. Também chamados de imunoglobulinas, os anticorpos circulam no sangue e em outros fluidos corporais. O organismo também é capaz de produzir outras respostas imunes, entre elas a chamada resposta celular, que é produzida a partir dos linfócitos T e tem várias funções imunológicas. Uma delas é a proteção específica das células invadidas por agentes virais e bacterianos.

Em entrevista recente ao G1, a microbiologista Natália Pasternak, pesquisadora-colaboradora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto de Ciências Biológicas da USP, explicou que, quando o novo coronavírus entra no organismo, os linfócitos B são acionados, iniciando a produção de anticorpos. No entanto, esses anticorpos não têm sido produzidos por algumas pessoas infectadas, que apresentam apenas sintomas leves, ou são assintomáticas. O que se detectou, de acordo com a microbiologista, foram linfócitos T dando combate ao SARS-Cov-2. Ou seja, mesmo sem os anticorpos produzidos a partir dos linfócitos B, a alta quantidade de linfócitos T nas células infectadas supriam a necessidade imunológica do organismo.

Testes e indagações

Essa constatação leva, pelo menos, a três indagações: Os testes que diagnosticam a Covid-19 utilizam metodologia correta? Por que algumas pessoas infectadas, assintomáticas ou com sintomas leves, não produzem a resposta imune do tipo humoral, mas sim a resposta celular? Por qual caminho uma vacina eficiente deve caminhar? A resposta para a primeira pergunta, de acordo com a microbiologista, é que os testes que verificam apenas os anticorpos presentes no plasma, produzidos a partir dos linfócitos B, não são bons marcadores para se detectar a prevalência da doença na população.  No caso da segunda pergunta, uma das hipóteses dos cientistas é a da imunidade cruzada. Ela ocorreria com pessoas que, no decorrer de suas vidas, já tiveram contato com outro coronavírus (sete já foram detectados), de forma que seus linfócitos T, já teriam uma memória de combate a essa classe de invasor. Isso reforçaria a ideia de que eles seriam os mais eficientes na derrota dos coronavírus. Em relação aos caminhos que uma vacina eficiente deve percorrer, vários grupos de cientistas de todo o mundo já estão voltando suas atenções às células T.

CV corona
O Sars-CoV-2: o que, realmente, inibe sua reprodução? Foto do novo coronavírus tirada por laboratório americano, Flickr, cc

Os pesquisadores brasileiros do Instituto do Coração/USP, por exemplo, que desenvolvem uma vacina nacional contra a Covid-19, chegaram a três formulações, já testadas em camundongos, que estimulam os linfócitos B a produzirem anticorpos capazes de neutralizar a entrada do vírus nas células. Mas, segundo informativo da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), esses mesmos pesquisadores já começaram a desenvolver outras formulações. Uma delas induz os linfócitos T a destruírem as células invadidas pelo vírus e uma outra estimula as células B e T a produzirem vários tipos de resposta imune. Uma das dificuldades dos cientistas é encontrar a dosagem correta dos componentes das vacinas, para que não haja efeitos colaterais nocivos à saúde.

Muito recentemente, a revista Science publicou um artigo do Scripps Research Institute, localizado na Califórnia (EUA), descrevendo que, após estudar 294 anticorpos contra o Sars-Cov-2, encontrou um gene, o IGHV3-53, que seria efetivo contra a Covid-19, na maior parte dos casos. Esse gene inibiria as proteínas spike, aquelas que formam a coroa de espinhos do coronavírus e que são utilizadas para ele se acoplar às células humanas. Os pesquisadores que fizeram o estudo acreditam que a descoberta pode facilitar a criação de uma vacina realmente efetiva.

Várias vacinas começarão a entrar na fase do último teste, em pouco tempo. As de Oxford e do Sinovac estão em etapa mais adiantada. Mas, para serem envasadas e distribuídas, precisam passar na terceira e última fase de testes, que está sendo feita entre os voluntários brasileiros. Agora, é aguardar os resultados e a publicação dos artigos científicos referentes aos testes. Se tudo der certo, ou seja, se produzirem efeito positivo em mais de 70% das pessoas testadas, a expectativa é que as duas vacinas só comecem a ser aplicadas em massa, no primeiro semestre de 2021. Isso não significa que logo estarão à disposição de todos.

Os acordos assinados entre os brasileiros e a Universidade de Oxford e o laboratório Sinovac, para a realização da última fase dos testes, envolvem o repasse da tecnologia das vacinas para sua produção, no Brasil, pela Fiocruz e pelo Butantã, respectivamente.  A capacidade de produção ainda é limitada diante dos mais de sete bilhões de indivíduos do planeta. A ideia é que aqueles que compõem os grupos de maior risco (como os idosos e os que trabalham com pacientes infectados) sejam os primeiros a serem vacinados. Enquanto uma vacina não chegar à maioria da população, a forma mais eficiente de não ser infectado pelo coronavírus é continuar lavando sempre as mãos, usar máscara e álcool gel, evitar aglomerações e higienizar tudo que chega em casa. 

 
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