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Desinformação: capítulo importante na educação para as mídias
29 Novembro 2019 | Por Larissa Altoé
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“As mídias sociais estão sendo usadas por partidos políticos e agências governamentais para espalhar propaganda, poluindo o ecossistema digital de informações e suprimindo a liberdade de expressão e imprensa”, concluíram os pesquisadores Philip N. Howard e Samantha Bradshaw, no relatório Desinformação global – inventário da manipulação organizada das mídias sociais no mundo em 2019, publicado em setembro pelo Internet Institute, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

Segundo os pesquisadores, o uso da propaganda computacional para moldar atitudes públicas por meio das mídias sociais tornou-se majoritário, ficando no passado o tempo que essa atitude incluía poucos atores sociais. “Em um ambiente com altos volumes de informação e limitados níveis de atenção e confiança do usuário, as ferramentas e técnicas de propaganda computacional estão se tornando uma parte comum de campanhas digitais e diplomacia pública”, afirmam eles.

Philip e Samantha afirmam que a propaganda computacional tornou-se parte integrante da esfera pública digital. “Essas técnicas continuarão a evoluir com as novas tecnologias – inteligência artificial, realidade virtual e internet das coisas, que têm poder para remodelar fundamentalmente a sociedade e a política”.

Os pesquisadores lembram que “propaganda computacional é um sintoma de antigos desafios da democracia e é importante que as soluções levem em consideração esses desafios sistêmicos. Uma democracia forte requer acesso à informação de alta qualidade e habilidade cidadã para, em conjunto, debater, discutir, deliberar, compreender o lugar do outro, e fazer concessões”. Os pesquisadores perguntam: “as plataformas de mídias sociais estão criando um espaço público para deliberações públicas e democráticas? Ou estão amplificando conteúdo que mantém os cidadãos plugados, desinformados e raivosos?”

O inventário de Oxford joga luz e traz informações úteis para professores que tenham o objetivo de pôr em prática as competências gerais preconizadas pela Base Nacional Comum Curricular – BNCC – em sua introdução, especialmente a de número 5: “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”.

Conheça o relatório

Por três anos, Philip e Samantha pesquisaram as tropas cibernéticas, que, na definição dos profissionais, são membros de governos ou partidos políticos envolvidos na manipulação da opinião pública on-line em todo o mundo. No início do levantamento, em 2017, encontraram 28 países com esse tipo de atividade; em 2018, esse número cresceu para 48; e, em 2019, constataram o fenômeno em 70 nações.

São elas: Angola, Argentina, Armênia, Austrália, Áustria, Azerbaijão, Bahrein, Bósnia & Herzegovina, Brasil, Camboja, China, Colômbia, Croácia, Cuba, República Checa, Equador, Egito, Eritreia, Etiópia, Geórgia, Alemanha, Grécia, Honduras, Guatemala, Hungria, Índia, Indonésia, Irã, Israel, Itália, Cazaquistão, Quênia, Quirguistão, Macedônia, Malásia, Malta, México, Moldávia, Mianmar, Holanda, Nigéria, Coreia do Norte, Paquistão, Filipinas, Polônia, Catar, Rússia, Ruanda, Arábia Saudita, Sérvia, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Sri Lanka, Suécia, Síria, Taiwan, Tajiquistão, Tailândia, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Estados Unidos, Uzbequistão, Venezuela, Vietnã e Zimbábue.

Segundo o inventário, Facebook é a principal plataforma para a atividade de tropas cibernéticas no mundo, seguido, na ordem, pelo Twitter, YouTube, WhatsApp e Instagram.

Uma característica importante da organização das campanhas manipuladas em todo o mundo é que as tropas cibernéticas frequentemente trabalham em conjunto com indústrias privadas, organizações da sociedade civil, subculturas da internet, grupos de jovens, coletivos de hackers, movimentos extremistas, influenciadores de mídias sociais e voluntários que ideologicamente suportam a causa.

Apesar de não haver nada novo sobre propaganda, as facilidades fornecidas pelas redes sociais tecnológicas – algoritmo, automação e big data – mudam a escala, o escopo e a precisão de como a informação é transmitida na era digital.

Os pesquisadores ingleses rastrearam a prevalência de três tipos de contas falsas usadas pelas tropas cibernéticas para espalhar propaganda: robô, humana e ciborgue. As mais comuns são as duas primeiras. Contas-robô são altamente automatizadas, feitas para imitar comportamentos humanos on-line. São frequentemente usadas para amplificar narrativas ou sufocar dissidência política. Philip e Samantha encontraram evidências de contas-robô sendo usadas em 50 dos 70 países pesquisados. Ainda mais comuns são as contas geridas por humanos sem automação. A conta mantida por humanos apenas engajam postando comentários, tweets ou mensagens privadas individuais. Foram encontradas em 60 países, do total pesquisado.

Os tipos de mensagem para engajar usuários on-line são as seguintes: divulgação de propaganda pró-governo ou pró-partido; ataque à oposição ou campanhas de difamação; distração dos debates ou críticas de temas importantes; criação de divisão e polarização; supressão da participação por meio de ataques pessoais ou assédio. As estratégias de comunicação são a desinformação, as mensagens em massa, a segmentação, a trolagem, a difamação e o assédio.

Estratégia mais comum é a desinformação

Segundo os pesquisadores ingleses, a criação de desinformação ou manipulação midiática é a estratégia mais comum. Em 52 países, dos 70 pesquisados, tropas cibernéticas criaram conteúdo como memes, vídeos, websites de notícias falsas ou manipularam mídias para enganar usuários. “Trolagem e remoção de contas ou posts podem acontecer ao lado da violência no mundo real, causando um profundo e amedrontador efeito na expressão dos direitos humanos fundamentais”, asseguram Philip e Samantha.

Na pesquisa de Oxford há uma escala para mostrar a capacidade das tropas cibernéticas. A escala vai de 1 (mínimo de capacidade) a 4 (máximo de capacidade). O nível 1 é formado por equipes recentes ou que trabalham de forma intermitente. Caso, por exemplo, da Argentina, na América Latina. O segundo nível engloba equipes pequenas, ativas apenas próximo às eleições, como a Colômbia, por exemplo.

O Brasil possui tropas com três pontos nessa escala, assim como Cuba, Guatemala e México (entre os países latino americanos) e o próprio Reino Unido (onde a pesquisa foi desenvolvida). As equipes de nível 3 possuem membros trabalhando em tempo integral para controlar permanentemente a informação que circula em seus territórios.

Equipes com nível máximo (4) são encontradas na China, Egito, Irã, Israel, Mianmar, Rússia, Arábia Saudita, Síria, Emirados Árabes, Venezuela, Vietnã e Estados Unidos. Isso significa que grande número de pessoas e muito equipamento são dedicados à guerra psicológica ou de informação dentro e fora de seus territórios de forma permanente.

A MultiRio considera a educação para as mídias fundamental na escola contemporânea e oferece alguns produtos que podem ajudar os professores a lidar com o tema em sala de aula, como o game Caô Digital e reportagens sobre fake news, algoritmo, deep fake e fotos adulteradas.

Método da pesquisa de Oxford

Philip Howard e Samantha Bradshaw reuniram documentos públicos sobre o tema por meio de pesquisa on-line. Para atestar a qualidade das publicações, selecionaram aqueles provenientes de organizações jornalísticas profissionais, de organizações profissionais menores e também de blogs de especialistas. Pesquisadores assistentes reuniram literatura secundária para o contexto de cada país. Finalmente, consultaram pesquisadores locais, o que permitiu uma revisão por pares, assim como comentários sobre as reportagens e literatura secundária utilizadas.

 
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