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Samba e relações étnico-raciais na Educação Infantil
21 Novembro 2019 | Por Márcia Pimentel
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No Museu do Samba. Foto: Alberto Jacob Filho, 2019, MultiRio

Duas creches municipais da 1ª CRE, a Vovó Lucíola e a Homero José dos Santos, localizadas na Mangueira, têm se destacado no desenvolvimento de atividades pertinentes às relações étnico-raciais. Ambas trabalham o tema a partir dos elementos culturais presentes no repertório das crianças. E é claro que, em uma comunidade onde o samba tem raízes tão fortes, é o ritmo que puxa o fio condutor do trabalho pedagógico e faz desabrochar novos conhecimentos.

O samba, na verdade, é muito mais que isso, porque dá brio a uma comunidade que vive os mais diferentes tipos de problema – da precariedade do saneamento básico ao desemprego e à violência de uma área conflagrada. Como diz Aline Justo Machado, neta de Dona Neuma – uma das fundadoras da Estação Primeira da Mangueira – e diretora da C.M. Homero José dos Santos, “é fundamental enaltecer a cultura da comunidade para melhorar a autoestima das crianças”.

Segundo Marcelo Fernandes do Nascimento, assessor especial do Gabinete da Secretaria Municipal de Educação (SME) à frente da Primeira Infância, as relações étnico-raciais serão uma das orientações de trabalho para a Educação Infantil (EI), no próximo ano letivo. Para a responsável pela EI da 1ª CRE, Tatiana Siqueira, a perspectiva cultural é a melhor maneira de trabalhá-las na pré-escola. “O samba – seu ritmo, sua dança, sua comida – é pertença negra”, afirma.

Para celebrar o bom trabalho realizado, a 1ª CRE e o setor da Primeira Infância da SME convidaram as duas creches da Mangueira para uma atividade comum no Museu do Samba. Além de proporcionar mais uma vivência cultural para as crianças, o encontro teve o objetivo de promover um intercâmbio entre as duas unidades. Segundo Tatiana Siqueira, as experiências promovidas pela C.M. Vovó Lucíola e pela C.M. Homero José dos Santos também merecem ser disseminadas. “Quem sabe sirvam de inspiração para muitas outras práticas pedagógicas?”, especula.

Conhecendo a história

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Cartaz pintado pelas crianças, após o Baile da Alegria. Acervo da C.M. Vovó Lucíola, 2019

Durante o Baile da Alegria, evento organizado pela C.M. Vovó Lucíola no início de cada ano letivo, a diretora Luciana Ávila Brioso observou que as crianças gostavam, de forma especial, do samba do Carnaval 2019 da Mangueira. “Colocávamos outras músicas, mas sempre pediam este samba-enredo de novo. Percebi, então, que podíamos ampliar os conhecimentos deles, a partir daquela música que tanto os mobilizava”, lembra.

Várias atividades foram realizadas dentro desse espírito. Primeiro, as crianças assistiram a diversos clipes: o oficial da Estação Primeira da Mangueira, trechos de desfile, solos de mestre-sala e porta-bandeira, performance da bateria... “Elas ficavam felicíssimas quando reconheciam pessoas da comunidade nos vídeos”, conta Luciana. A alegria foi o mote para enaltecer a história do samba e contar que o ritmo foi criado pelos negros, que foram trazidos da África para o Brasil como escravos, durante o período colonial.

As crianças também tiveram a oportunidade de brincar de “ser da bateria”. Dando ênfase na musicalidade como valor civilizatório da cultura afro-brasileira, a creche apresentou-lhes os instrumentos musicais. E, junto com os pais, participaram de uma oficina de construção de tambores, chocalhos e outros instrumentos de percussão, a partir de material reciclável.

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Visitando Cartola, no museu. Foto: Alberto Jacob Filho, 2019, MultiRio

Em outra atividade, uma roda de conversa, as crianças conheceram Cartola, Nelson Cavaquinho, Dona Zica e outros sambistas da Mangueira de grande renome. “Muitas já os conheciam, outras não”, explica a diretora.  Perguntas inusitadas também surgiram durante a vivência – como, por exemplo, “de que o Cartola morreu?” – e serviram de gancho para serem introduzidos à pesquisa. Com auxílio do computador e da internet, descobriram que Cartola morreu de morte natural.
Pertencimento e autoestima

“É muito importante valorizar o patrimônio cultural do lugar onde a criança mora, para que ela cresça conhecendo sua história, sua identidade”, considera a diretora da C.M. Vovó Lucíola. A mesma opinião tem Aline Justo Machado, para quem a valorização da cultura da comunidade começa ao contar para as crianças a história do patrono da creche que dirige: Homero José dos Santos, o Mestre Tinguinha, que, em 1959, criou a Ala da Bateria, porque estava inconformado com a falta de conjunto da indumentária dos ritmistas da Estação Primeira, no momento do desfile.

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Cantando o samba-enredo de 2020 da Mangueira. Acervo da C.M. Homero José dos Santos, 2019

Este ano, a C.M. Homero José dos Santos estava trabalhando a temática da sustentabilidade com as crianças. O assunto desaguou em conversas sobre a sustentabilidade dos relacionamentos e se chegou à conclusão que seria positivo aproximar ainda mais a comunidade da creche. Foi por esse motivo que buscou a parceria do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) Adalberto Ismael de Souza, que ofereceu uma oficina de percussão ministrada por um dos mestres de bateria da Mangueira.

“Quando Mestre André chegou com o repinique e tocou uma música infantil em ritmo de samba, a turma do Berçário começou a cantar. Amaram e fizeram fila para aprender a tocar”, conta, lembrando que ele também agregou batidas de funk em outras canções do repertório da criançada.

A C.M. Homero José dos Santos sempre busca desenvolver atividades que criem nexos de pertencimento e valorizem a comunidade. Cada turma, por exemplo, teve a responsabilidade de pesquisar um tema relacionado à Mangueira: sua gastronomia, suas lendas e seus ritmos. “A parte das lendas ficou interessantíssima. Tinha árvore mal assombrada, um porco que corria atrás das pessoas na Curva da Cobra...”, diverte-se Aline.

Encantamento

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Foto: Alberto Jacob Filho, 2019, MultiRio

No Museu do Samba, localizado na Rua Visconde de Niterói, no sopé do Morro da Mangueira, as crianças – algumas acompanhadas de seus responsáveis – entraram em clima de encantamento. Fazendo trenzinho e segurando um fio de “ouro”, foram guiadas pela cobra Carmelita e pelo contador de histórias Georgie Echeverri até um portal que só se abria com uma chave mágica.

Aberta a porta da exposição, todos tiveram acesso a uma cultura maravilhosa, com elementos e imagens da ancestralidade africana e da escravidão. Também havia fantasias, que podiam ser avistadas por trás das cortinas de luz, além de muitos personagens que cantaram as músicas de uma grande estrela, Cartola, astro principal da novela das 10 da manhã. A peça, protagonizada por fantoches e encenada pelos educadores do museu, contava a sua história de amor com Dona Zica e teve a participação ativa da garotada. A visita ao museu terminou com as crianças batucando instrumentos de percussão, em ritmo de samba.

 
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