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Transtorno do Espectro Autista
24 Abril 2019 | Por Larissa Altoé
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Abril é o mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista - TEA. O seminário Rio TEAMA reuniu, nos dias 3 e 4, especialistas na Fundação Cidade das Artes para disseminar a ideia de que há tratamento e que o diagnóstico precoce, assim como a inserção na sociedade, são bem-vindos e necessários. O Portal MultiRio entrevistou um dos participantes do evento, Jair Luiz de Moraes, neurologista infantil formado pela UFF e diretor da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins – Abenepi.

O Dr. Moraes já esteve em contato direto com estudantes e professores da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro entre 1977 e 2010. Nesse período, trabalhou no Hospital Salgado Filho, no Méier, onde atendia estudantes com problemas no desenvolvimento neurológico. Além de auxiliá-los, preocupava-se em orientar os profissionais da educação no desafio da inclusão em salas de aulas. “Tive a oportunidade de criar o setor de Neurologia Infantil. Tínhamos uma enfermaria com seis leitos e um setor ambulatorial, que atendia, de segunda a sexta-feira, crianças e adolescentes encaminhados de vários locais do Rio de Janeiro, muitos deles da Rede Pública Municipal de Ensino”. Nessa época, o neurologista ministrou diversos cursos de formação de professores no Instituto Helena Antipoff – IHA.

O que é autismo?

A primeira descrição de autismo foi feita em 1943 por Léo Kanner, pediatra e psiquiatra de origem austríaca, radicado nos EUA. Desde então, muito se evoluiu em relação à definição. Atualmente, o Transtorno de Espectro Autista se refere a uma disfunção neurológica que se manifesta clinicamente por um desvio nas aquisições do neurodesenvolvimento e por alterações do comportamento.

O termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) surgiu em maio de 2013 com a publicação da mais recente edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5/APA), elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria e que serve como referência mundial para transtornos mentais. Segundo o manual:

• os subtipos do TEA são eliminados;
• todas as subcategorias da condição passam a ser abrigadas em um único diagnóstico: Transtorno do Espectro Autista – TEA;
• os indivíduos passam a ser diagnosticados em um único espectro com diferentes níveis de gravidade: leve, moderado e severo;
• a Síndrome de Asperger não é mais considerada uma condição separada;
• o diagnóstico para autismo passa a ser definido em duas categorias: alteração da comunicação e interação social; e presença de comportamentos repetitivos e estereotipados.

Diagnóstico

Segundo Jair Luiz de Moraes, o diagnóstico do TEA é exclusivamente clínico, baseado em entrevista com os familiares, observação médica criteriosa e avaliação multidisciplinar, se possível, usando-

Fonte: Center of Diseases Control and Prevention – CDC, dos EUA

se escalas específicas, que permitem mensurar as condutas apresentadas de maneira a se estabelecer uma hipótese diagnóstica confiável. O neurologista acrescenta que não há exames complementares que sejam fidedignos ao diagnóstico, mas podem ser pedidos alguns exames e/ou testes laboratoriais quando necessários para afastar outras doenças que se assemelham ao TEA, tais como avaliação audiológica, oftalmológica e genética, sorologias, pesquisa para Erros Inatos do Metabolismo - EIM (distúrbios de natureza genética), neuroimagem, eletroencefalograma etc.

 


Sintomas

Há sintomas comuns às pessoas com TEA. Todos os indivíduos com o transtorno apresentam, basicamente, alteração da comunicação e interação social e presença de comportamentos repetitivos e estereotipados, além de outras características, como: não atender aos chamados prontamente; não apontar; usar pessoas como ferramentas; regressão ou atraso na linguagem; estabelecer pouco contato visual; comportamento estranho e retraído; interesses restritos; maneira de brincar pouco usual (girando objetos, enfileirando ou empilhando-os); estereotipias em geral; não sorrir; dificuldade na interação social com os iguais; preferência por brincar sozinho, isolado; habilidades especiais – leitura e escrita precoce, ouvido absoluto, excelente memória, reconhecimento precoce para números, figuras geométricas cores e letras; frequentes crises de birra; seletividade alimentar; dificuldade para mastigar; distúrbios do sono; não brincar de faz de conta; não imitar; entre outros.

“Se os profissionais da área de saúde mental, médicos, terapeutas e educadores, tivessem um olhar mais criterioso e valorizassem as queixas trazidas pelos pais, poderíamos fazer mais diagnósticos precoces. A observação de uma criança com risco para TEA em tenra idade, sem definir ou rotular, é sempre válida, pois a detecção precoce de transtornos neurocomportamentais muito nos ajuda na programação de intervenções terapêuticas, nas evoluções e no prognóstico de cada caso”, afirma o neurologista Jair Luiz de Moraes.

Tratamento

Até o momento, não há remédios específicos para tratar o transtorno, embora esta seja uma prioridade das pesquisas, com diferentes medicamentos em teste. O tratamento atualmente consiste na associação de diferentes terapias para testar e melhorar as habilidades sociais, comunicativas, adaptativas e organizacionais.

Existem várias metodologias. Uma delas é o acompanhamento multidisciplinar composto por profissionais altamente especializados em áreas específicas, que envolvem médicos (pediatra, neurologista, psiquiatra) e uma equipe terapêutica (fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional com integração sensorial, psicopedagogo, especialista em psicomotricidade e musicoterapeuta) para ajudar no desenvolvimento da criança. O tratamento inclui exercícios de comunicação funcional e espontânea; jogos para incentivar a interação com o outro; aprendizado e manutenção de novas habilidades; e o apoio a atitudes positivas para contrapor problemas de comportamento.

Há também muitas abordagens terapêuticas diferentes, como análise aplicada do comportamento (ABA) e terapias cognitivo-comportamentais. Em alguns casos, as terapias são combinadas com remédios para tratar sintomas associados, entre eles insônia, hiperatividade, agressividade, falta de atenção, ansiedade, depressão, epilepsias e comportamentos repetitivos.

Dr. Jair Luiz de Moraes ressalta que outros elementos essenciais no tratamento são o treinamento com os pais e o convívio em escola regular com proposta inclusiva. A frequência na escola regular tem o objetivo de oferecer novos estímulos, trazendo grandes benefícios no reforço de comportamentos. A indicação da melhor conduta terapêutica vai depender da intensidade do distúrbio, da idade do sujeito, e de sua adequação. A decisão deve ser sempre feita em conjunto com os pais, assegura o médico.

Causas e curas – hipóteses

Há várias pesquisas em andamento atualmente. Jair Luiz de Moraes conta que esses estudos apontam para duas hipóteses divergentes: a causa do TEA pode estar relacionada a uma base genética, hereditária, ou a uma mutação nova (que aparece somente na criança). A complexidade e a dificuldade quanto à etiologia ocorrem pelo fato de existirem centenas de genes (mais de 700) já identificados e descritos como causadores de alguns casos do transtorno.

Em relação à cura, também há várias pesquisas em andamento, mas nada ainda confirmado, apenas especulações.

Escola inclusiva

“Em nosso país, temos uma grande dificuldade quando tratamos sobre educação inclusiva. Quando se tem em sala de aula alunos com necessidades especiais, os profissionais da educação sofrem com a falta de informação e de formação, sobre o que deve ser feito ou não. Deveria haver mudanças não só curriculares, mas também nas atitudes de como lidar com uma criança autista, sendo fundamental que todos os envolvidos – família, amigos e escola – as tratem normalmente, tentando entendê-las na sua forma de ser, ajudando-as em todas as áreas que necessitem. Com o trabalho da escola em conjunto com as terapias e medicamentos possíveis, com certeza, as crianças teriam evoluções satisfatórias e muitos delas seriam inseridas na sociedade”, pondera o neurologista.

Kátia Nunes, diretora do Instituto Helena Antipoff, afirma que a criança autista ou com deficiência possui prioridade na matrícula da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro. “A política adotada pela SME é a da inclusão. Todas as crianças têm direito a frequentar a sala de aula regular. Além disso, o IHA procura dar suporte aos profissionais da educação, seja com cursos de formação presenciais ou à distância, e também dando suporte às unidades escolares para avaliação e orientação acerca de estudantes que necessitem de atendimento diferenciado”.

Número de crianças com TEA vem aumentando

O último senso de prevalência segundo dados do Center of Diseases Control and Prevention – CDC, dos EUA, mostra que o número de crianças com TEA vem aumentando (veja gráfico acima). Os dados mais recentes, de 2018, apontam um caso de autismo para cada 59 nascimentos, ainda sendo estatisticamente mais comum nos meninos, assegura Jair Luiz de Moraes. “Como no Brasil, não há estudos fidedignos de prevalência, em uma população em torno de 200 milhões, estima-se que haja cerca de 2 milhões de crianças com TEA”, conclui o neurologista.

Algumas considerações tentam justificar o aumento do número de crianças diagnosticadas com o transtorno: diferenças metodológicas adotadas entre os diversos estudos; maior conhecimento dos níveis cognitivos associados ao TEA; ampliação do conceito ao longo do tempo; maior conhecimento das condições médicas; avaliação criteriosa com um olhar preventivo.

 
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