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O papel da poesia na luta pela eliminação da discriminação racial
21 Março 2019 | Por Fernanda Fernandes
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A professora Simone Ricco com alunos da E.M. Nações Unidas (Foto: Alberto Jacob Filho)

Em 21 de março, são comemorados o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e o Dia Mundial da Poesia, ambos instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU). A coincidência abre espaço para que as efemérides “dialoguem” e a poesia possa ser vista como uma aliada na abordagem das relações étnico-raciais na escola. 

Essa é a visão de Simone Ricco, professora de Língua Portuguesa na E.M. Nações Unidas, em Bangu (8ª CRE), e mestre em Letras – Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. “A poesia existente nas prosas e nos poemas pode aumentar a compreensão de mensagens antirracistas. Em determinados poemas e letras de canção encontramos reflexões muito potentes sobre relações raciais e aspectos muito peculiares do racismo brasileiro”, comenta Simone, ressaltando que, em geral, textos menores são mais atraentes aos estudantes.

A docente destaca que, atualmente, há mais autoras e autores negros escrevendo e publicando. “O material produzido por eles gerou uma oferta maior de textos e livros com protagonistas, personagens e temáticas negras. Os textos trazem abordagens distanciadas de estereótipos e um cuidado em ir além da representação da figura de mulheres e homens negros, buscando mostrar subjetividades conhecidas pelos autores e dar visibilidade a fatos históricos e sujeitos negros apagados em outras narrativas”, avalia.

Nesse contexto, Simone reforça a importância de destacar para os alunos a autoria negra, a fim de mexer com o imaginário brasileiro, que pensa os autores como pessoas brancas, diferentes da maioria da população. “A partir do texto produzido pela maior parte desses autores é possível apresentar protagonistas negros aos alunos e inserir na escola várias abordagens da memória e da cultura afro-brasileiras. O currículo ganha em diversidade étnica e cultural, pois essas escritas permitem acessar temáticas ausentes ou mal desenvolvidas em antigas obras.”

Um exemplo dessa diversidade, segundo a professora, pode ser visto no Caderno Pedagógico do terceiro bimestre de 2016: A festa afro, de Silvio Costta, texto extraído do Abecedário afro de poesia (Editora Paulus). Ela cita, ainda, trabalhos que realizou com os poemas O ferro, de Luiz Silva (Cuti) – sobre a relação da sociedade com a estética negra e cabelo crespo – e Galeria, de Jenyffer Nascimento – para refletir sobre o consumismo, com turmas do 9º ano.

“Penso que um bom caminho para a apropriação do texto é a mediação da leitura. Ler para e com os alunos. Outro caminho, nem sempre viável, é exibir imagens disponíveis na internet: participações de poetas em programas, clipes feitos por poetas e vídeos de slams (encontros de poesia). Assim, a oralidade e a imagem ajudam a estimular novos leitores, pois acionam a curiosidade e estabelecem a empatia.”

A educadora enfatiza, ainda, que o trabalho com o gênero textual letra de canção é interessante para analisar o material poético presente no lazer de alguns jovens. “Algo interessante e bastante difundido nas redes sociais é o trabalho colaborativo de vários rappers no projeto Poesia Acústica”, recomenda.

Poetas negros e negras

Entre tantos nomes, Conceição Evaristo é a poeta destacada pela professora Luciana Nascimento, que comanda uma turma de 4º ano na Escola Municipal José Enrique Rodó (7ª CRE). “Essa mineira deixou sua cidade natal, Belo Horizonte, para tentar a vida no Rio de Janeiro. Foi empregada doméstica enquanto cursava a Escola Normal, conseguiu chegar à universidade pública – onde estudou Letras, fez mestrado e doutorado em Literatura – e é inspiração para nós, mulheres, sobretudo negras. Suas obras, em verso e prosa, abordam com leveza o universo de dificuldades da população marginalizada no Brasil, e atualmente é lida em diferentes países do mundo”, explica Luciana. 

Conceição Evairisto retratada em trabalho de alunos da oficina de pintura da E.M. Nações Unidas, comandado pela professora de Artes Mariana Maia (Reprodução: Alberto Jacob Filho)

“Destaco seu livro Poemas de recordação e outros movimentos, de 2008, a partir do qual sua poesia ganha maior visibilidade, para além da série Cadernos Negros, em um trabalho poético de denúncia da condição social da população negra, com um lirismo de sensibilidade e ternura cativantes”, recomenda a professora. 

Conceição Evaristo também é destacada por Simone Ricco, que acrescenta em suas indicações Nei Lopes, Cristiane Sobral e Sergio Vaz, além de jovens poetas como Mel Duarte, Ryane Leão, Meimei Bastos e Allan da Rosa. “Os autores mais jovens despertam muita empatia nos alunos pelos temas escolhidos e pela forma de abordagem. É possível sugerir a pesquisa desses autores na internet, pois muitos são facilmente encontrados em vídeos de slams e em suas páginas nas diferentes redes sociais”, sugere a professora de Língua Portuguesa.

Confira alguns autores, de diferentes épocas, cujas obras são destaque:

 
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