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Ciep Gilberto Freyre, uma escola de bambas
29 Agosto 2018 | Por Márcia Pimentel
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CGF baianas
Alunos do Ciep Gilberto Freyre têm composto a ala das baianas do projeto Escola de Bamba. Foto Alberto Jacob Filho, 2018, MultiRio

As unidades de ensino que têm um pé no samba, ou querem colocá-lo, podem começar a esquentar seus pandeiros, porque foi dado o pontapé inicial do projeto Escola de Bamba para o Carnaval 2019! O evento de abertura, que marca o início dos trabalhos com os professores e alunos da Rede Municipal, aconteceu em 15 de agosto, no Museu de Arte do Rio (MAR), e contou com a presença de diretores, coordenadores pedagógicos e docentes interessados no projeto, que culmina com o desfile da escola de samba Corações Unidos do Ciep, na Marquês de Sapucaí.

Uma das diretoras presentes, Célia Clemente, do Ciep Gilberto Freyre, em Senador Camará, é uma das maiores entusiastas do Escola de Bamba. A partir dele, tem conseguido desenvolver ricos processos pedagógicos, de descoberta de talentos, de inserção social e de aumento da autoestima entre as crianças que participam. Ela abraçou o projeto em 2007, quando ainda era diretora adjunta e, hoje, já tem até ex-aluno buscando a profissionalização no carnaval.

Jackson Moreira Ribeiro, que se prepara para o Enem, é um deles. “Minha participação, no Ciep Gilberto Freyre, foi muito importante por ter sido o meu primeiro contato com o mundo do samba”, afirma. Desde o ano passado, transformou-se no primeiro mestre-sala da Estrelinha da Mocidade e batalha para se profissionalizar na Mocidade Independente de Padre Miguel. E ele tem razões para crer que isso é possível. Afinal, a famosa porta-bandeira Selminha Sorriso, da Beija-Flor de Nilópolis, é oriunda da Corações Unidos do Ciep.

Janelas profissionalizantes

Um dos objetivos do Escola de Bamba é fornecer às unidades de ensino subsídios sobre o amplo leque de conhecimentos necessários à montagem do espetáculo de Carnaval. Por isso, oferece aos educadores oficinas relacionadas às artes e ofícios essenciais ao funcionamento de uma escola de samba, tais como cenário, figurino, coreografia, composição musical, entre outros.

CGF Jackson Ribeiro
Jackson Ribeiro a caminho da profissionalização como mestre-sala. Foto Alberto Jacob Filho, 2018, MultiRio

Foi esse viés do Escola de Bamba que fez Célia Clemente se interessar pelo projeto, lá em 2007: “Como a clientela do Ciep é oriunda de comunidades, percebi que poderia ser interessante abrir janelas de profissões não convencionais aos alunos, a fim de ampliar os horizontes deles. Até porque sempre temos crianças que desenham bem, têm vocação para a música, para a dança...”.

Pedagogia, aprendizagem e leitura

Um bom exemplo das possibilidades profissionais que se abrem vem da Oficina de Alegoria, Fantasia e Adereços. Além dos alunos terem que construir um projeto a partir de estudos sobre o enredo, aprendem a desenhar o corpo humano e a fazer o esboço da fantasia a partir dele, de suas proporções. “As crianças ficam muito encantadas e empolgadas com todo o processo. Uma delas até diz que quer ser estilista quando crescer”, comenta a professora Alessandra Carvalho. “Mais maravilhadas ainda elas ficam quando pegam o ônibus da Prefeitura rumo à Marquês de Sapucaí e têm a chance de conhecer um mundo que vai além de Senador Camará”, oberva a diretora Célia Clemente.

A transformação da teoria em prática não ocorre apenas com a Oficina de Alegoria, Fantasia e Adereços, mas também com as demais, a exemplo da Oficina de Composição de Samba-Enredo. A coordenadora pedagógica Alexandra Batista Machado afirma que, no Ciep Gilberto Freyre, o projeto Escola de Bamba é articulado com atividades da Sala de Leitura.

Além de toda a pesquisa para a compreensão do enredo, vários outros conteúdos são trabalhados. Para construir o samba, por exemplo, os alunos entram em contato com diversos tipos de texto. “Se o enredo for uma homenagem a alguém, ensinamos o que é biografia e o que ela deve conter. Também aprendem sobre as estruturas dos versos e das estrofes, as possibilidades de métrica da poesia...”, explica.

Samba campeão

CGF musicos
O professor Lucas Torres, a puxadora do samba campeão, Ana Luísa Tartaruga. José Gabriel Madeira, João Victor Lima, Marcos Vinicius Falcão e Alex Gonçalves. Foto Alberto Jacob Filho, 2018, MultiRio

No ano passado, o samba-enredo criado pelos alunos do Ciep Gilberto Freyre se sagrou campeão, na final ocorrida na sede do Cordão da Bola Preta, em que disputaram as várias escolas municipais que integram a Corações Unidos do Ciep. A canção foi elaborada durante as Oficinas de Composição de Samba-Enredo, feitas sob a orientação do professor de Educação Musical, Lucas Torres, que conta como foi o processo:

“Participei de um seminário oferecido pelo projeto Escola de Bamba em que o compositor Lucas Donato, da Império Serrano, ensinou algumas técnicas. Também passei um bom tempo ouvindo e analisando sambas. A partir daí mostrei aos alunos como se fazia refrão e os estimulei a criar frases em rima. Lancei no quadro palavras relacionadas ao enredo (100 anos do Bola Preta) e pedi que sugerissem

Foi assim que surgiu quase toda a letra e o refrão do samba campeão: “Bola Preta, meu cordão/ Todos juntos, coração/ Sempre unidos por vencer/ Vem Ciep, é só querer”. No processo, alguns alunos se destacaram, como Maria Eduarda, atualmente no 5º ano, que gosta de fazer rap. É dela toda a estrofe que vem antes do refrão: “Lapa, Carioca, Cinelândia e Central/ Cordão da Bola Preta é o Rei do Carnaval/ Foi no Rio Antigo que tudo começou/ Cem anos de vida e é pra lá que vou”.

Ana Luísa Guimarães Tartaruga foi outro destaque da oficina comandada pelo professor Lucas Torres. Com uma voz poderosa, puxou o samba na Marquês de Sapucaí, acompanhada pelos colegas José Gabriel, João Victor, Marcos Vinicius e Alex Gonçalves.

Corrente comunitária

CGF Gleice e Célia
Gleice Villardo, a mãe de aluno que há mais tempo contribui com o projeto e Célia Clemente, que abraçou o Escola de Bamba quando ainda era diretora adjunta. Foto Alberto Jacob Filho, 2018, MultiRio

A ala das baianas da Corações Unidos do Ciep vem, há anos, sendo composta pelas alunas do Gilberto Freyre. Mas não é suficiente para agregar todos os interesses e vocações. Por isso, alguns também desfilam como passistas e outros se integram às diferentes alas, durante o desfile.

Para levar a criançada para a Marquês de Sapucaí, professores, funcionários e responsáveis se unem em empreitada. Gleice Villardo, mãe de aluno mais antiga envolvida no projeto, ajuda a apertar ou alargar fantasias, a organizar os calçados... e, claro, a ficar atenta para que ninguém se perca. “Meus filhos já não estudam mais aqui, mas continuam participando do projeto. A Letícia, por exemplo, tem saído como passista e diz que quer ser rainha de bateria”, conta.

A orientadora do Peja, Vanessa Costa, neta do compositor Gil das Flores, da Beija-Flor de Nilópolis, é uma das professoras responsáveis pela saída dos alunos do Ciep Gilberto Freyre para a Marquês de Sapucaí. Mesmo tendo nascido no mundo do samba, ela diz que aprendeu muito mais com o Escola de Bamba. “Foi aqui que entendi todo o mecanismo de construção de um enredo e compreendi, de fato, a complexidade do trabalho de colocar uma escola de samba na avenida. O projeto é muito bom."

 
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