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Cem anos da Revolução Russa
06 Novembro 2017 | Por Sandra Machado
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Camponeses reivindicavam acesso à propriedade fundiária e operários pleiteavam melhores condições de trabalho (Fonte: peoplesworld.com)

À exceção das duas guerras mundiais, poucos eventos políticos da história recente foram transpostos para a literatura, o cinema e o teatro com o mesmo grau de dramaticidade que a Revolução Russa. Marco divisório que deu origem ao período da Guerra Fria (1945-1991), a tomada de poder pelo proletariado, em 1917, foi resultado da luta de operários e camponeses por condições de vida dignas, num contexto de crise agravada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A ascensão do partido bolchevique ao governo culminou com a criação, cinco anos mais tarde, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que durante décadas rivalizou com os Estados Unidos na corrida armamentista e na conquista do espaço. 

Embora o registro de 25 de outubro seja considerado como efeméride, a data se refere ao calendário juliano, adotado pelos russos até 1918, quando foi substituído pelo calendário gregoriano. De acordo com este último, as comemorações do centenário acontecem no dia 7 de novembro. Para além das datas, no entanto, o principal é estimular o debate em torno do tema, que integra a grade curricular, conforme explica Roberto Anunciação Antunes, coordenador de História na Gerência de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação (SME). Graduado em Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense, o professor tem especialização em História pela Fundação Getulio Vargas. 

Com Lênin, em 1917, os bolcheviques pretendiam estabelecer a soberania do proletariado. Mas, a partir de 1922, Stálin propiciou o fortalecimento de uma burocracia estatal privilegiada (Fonte: militaryhistorytours.com)

“A Revolução Russa é um importante componente curricular do 9º ano, por se tratar de um momento histórico de profundas transformações não só na Rússia, liderada por Lênin, mas também pelas consequências em todo o mundo, sobretudo nas relações políticas e econômicas, relacionadas ao trabalho. Assim, nosso aluno, que estuda a evolução do capitalismo e o liberalismo, conhece outro sistema econômico que também marcou o século XX, gerando, inclusive, a bipolaridade pós-Segunda Grande Guerra.” 

Por estar diretamente relacionada à fragilidade da condição humana frente à concentração de poder, comum a tantas sociedades de ontem e de hoje, a Revolução Russa estimula a tomada de consciência entre os alunos. “Em geral, as turmas compreendem bem quando abordamos em sala as relações de trabalho, que, sendo injustas em muitos casos, levam à exploração extrema do homem pelo homem. Assim, muitos alunos de comunidades carentes e de áreas com baixo índice de desenvolvimento humano entendem mais facilmente esse conteúdo e os conflitos que levaram a esse evento histórico. Muitas vezes realizamos júris simulados nos quais a questão é abordada, favorecendo a aprendizagem. Também fazemos isso com outros conteúdos, como Revolução Francesa e Inconfidência Mineira.”

Produção artística pode auxiliar a realização de debates 

Os dez dias que abalaram o mundo, de John Reed, inaugurou um novo estilo jornalístico (Fonte: saraiva.com.br)

Existe uma farta oferta de livros, filmes e peças teatrais que abordam a Revolução Russa. A começar pelos artistas que viveram diretamente aquele momento histórico. O escritor Vladimir Maiakovsky ficou conhecido como “o poeta da revolução” e, além de poemas, fazia também cartazes de propaganda do regime. Sergei Eisenstein foi coautor do roteiro e dirigiu o épico O encouraçado Potemkin, de 1925, que retrata uma revolta real de marinheiros ocorrida em 1905 e que já prenunciava a revolução. Autor do romance Doutor Jivago, publicado no ano anterior, Boris Pasternak ganhou o Nobel de Literatura em 1957. Proibido na União Soviética por mais de três décadas, o livro ganhou sua versão audiovisual em 1965. Estrelado por Omar Shariff, o filme do cineasta britânico David Lean foi o vencedor de cinco estatuetas do Oscar, inclusive melhor trilha sonora, que levou também o Grammy em 1967. 

Mas foi o norte-americano John Reed quem deixou o relato mais minucioso sobre o evento histórico, no livro-reportagem Os dez dias que abalaram o mundo, publicado em 1919. A narrativa é recheada de detalhes pelo seu contato direto com líderes como Lênin e Trotski, mas, por pouco, não se perdeu: na volta aos Estados Unidos, Reed teve seus manuscritos confiscados e, depois, devolvidos. Temendo perder o material novamente, o jornalista escreveu as cerca de 500 páginas em menos de dois meses. A história rendeu ao seu compatriota, o ator e diretor Warren Beatty, o Oscar de 1982 pelo filme Reds, que é uma adaptação do livro.

Até os dias de hoje, a obra de John Reed continua inspirando espetáculos, como a montagem da Companhia Ensaio Aberto do clássico da literatura. Com direção de Luiz Fernando Lobo, a peça teve sua primeira temporada no Armazém da Utopia, na Zona Portuária, de 14 a 30 de outubro, e contou com imagens de arquivo de época projetadas em telas gigantes.

Fonte:

PIRES, Francisco Quinteiro. A história revista e interpretada por várias vertentes. O Estado de S. Paulo, 18/11/2007.

 
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