As famílias se transformaram muito, seja por fatores socioculturais, econômicos ou religiosos. Se antes eram vistas em um padrão composto por pai, mãe e seus respectivos filhos, ao longo dos anos novas configurações entraram em cena: famílias monoparentais (sob responsabilidade de um só dos pais), uniões homoafetivas com filhos, paternidade ou maternidade socioafetiva, arranjos familiares que envolvem filhos de outros casamentos, entre outras. Mas, afinal, o que todas essas configurações têm em comum? Qual seria o conceito de família?
“Se pensarmos sem preconceitos, poderemos todos compreender que família é um grupo de pessoas ligadas por diversos vínculos, principalmente os afetivos, mais do que genética, história ou convenções”, afirma Alexandre Trzan, psicólogo e psicoterapeuta, membro da Diretoria do Sindicato dos Psicólogos do Rio de Janeiro (Sindpsi-RJ).
Com a intenção de incentivar a conscientização sobre questões relativas às famílias, a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1993, declarou o dia 15 de maio como o Dia Internacional da Família.
A data também promove um convite à reflexão. Por exemplo, de que maneira estimular a união familiar e minimizar os conflitos, na busca por uma convivência harmoniosa e saudável entre responsáveis e seus filhos?
“O melhor caminho para amenizar os conflitos em família é sempre o diálogo franco, aberto e respeitoso. Se há uma dica possível, é em vez de culpar ou julgar alguém, falar como se sente diante do comportamento do outro e manter diálogo e escuta abertos”, aconselha Alexandre Trzan.
“Em geral, todos os familiares querem o bem de quem está próximo. A questão é como realizar isso sem ser invasivo, autoritário e até violento. O mais importante é a manutenção de uma relação próxima, sem exigências de como o outro deve ser – o que acaba, muitas vezes, por afastá-lo. A tolerância ao sofrimento do outro, mesmo que você não entenda ou aceite o porquê desse sofrimento, é um passo fundamental”, afirma Trzan.
A proximidade familiar também deve se estender à participação na vida escolar dos filhos. Pais e responsáveis têm grande importância na relação que as crianças vão estabelecer com os estudos. “Quanto mais eles estiverem presentes e incentivarem hábitos como o da leitura, melhor será. A própria atitude dos adultos de ler, de escolher um livro com o filho para lerem juntos, conversar sobre o que foi lido também irá fomentar essa atividade na criança e, provavelmente, estreitar os laços entre a família”, comenta o psicólogo.
A família e as novas tecnologias
É recorrente e necessário o debate sobre o uso das novas tecnologias por crianças e adolescentes, os riscos envolvidos e os cuidados a ter. Por isso mesmo, é fundamental o acompanhamento e a orientação da família, que deve estar aberta para aprender com os jovens as novas linguagens que se modificam velozmente.
“A internet é um mundo novo, muitos pais ainda não sabem como lidar com isso. Acham que os filhos estão em segurança dentro do quarto, mas, ao contrário, na infância e na adolescência eles estão mais frágeis, são mais suscetíveis a serem manipulados. Isso porque, na rede, são acolhidos da forma como querem, são ouvidos. Então, é preciso que os pais acompanhem o que as crianças e adolescentes estão fazendo na internet e conversem sobre sentimentos e pessoas, sem julgar”, aconselha o psiquiatra Gabriel Bessa.
Educação para a igualdade e para o respeito
Outra discussão que tem sido frequente no âmbito familiar diz respeito à desconstrução de estereótipos de gênero que reforçam, por exemplo, a ideia de que meninas devem usar rosa e brincar de boneca, e homens, vestir azul e brincar de carrinho; que meninos devem ser fortes e não podem chorar; que meninas devem se comportar como “mocinhas” etc.
“Primeiro, cabe aos pais entender que está em jogo uma educação de valorização do respeito ao outro e de diminuição das intolerâncias. Preconceitos, piadas sobre sexualidade e discriminação precisam ser combatidos por todos, e isso não significa, de modo algum, incentivar essa ou aquela sexualidade”, ressalta Trzan.
“Deve-se acompanhar o ritmo da criança, suas dúvidas, seus estranhamentos e, junto com ela, pensar sobre o tema, sem juízo de valor, sem preconceitos, e sim com a naturalidade que for possível para deixar claro que são apenas possibilidades do existir humano. Nem melhores, nem piores, apenas modos possíveis de se viver e que devem, acima de tudo, ser respeitados.”
Fontes:
Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital. Disponível em: http://www.sbp.com.br/src/uploads/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf
http://www.un.org/
FERNANDES, Cláudio. 15 de Maio – Dia Internacional das Famílias. Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-internacional-das-familias.htm>.