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A construção da confiança entre escola e família na E.M. Rivadávia Manoel Pinto
17 Maio 2017 | Por Márcia Pimentel
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A E.M. Rivadávia Manoel Pinto, em Pedra de Guaratiba. Foto Alberto Jacob Filho, 2017, MultiRio

Há quem acredite que certas estruturas e culturas familiares são responsáveis pelo baixo rendimento de vários alunos e escolas. Mas a experiência da E.M. Rivadávia Manoel Pinto (10ª CRE), em Pedra de Guaratiba, desestabiliza crenças como essa. É uma das unidades da Rede Municipal que sempre contabiliza boas notas nas avaliações do IDE-Rio e Ideb, muito embora enfrente alguns desafios para conseguir a participação dos pais.

A semente do bom desempenho vem desde a inauguração, em 2012, quando Suely Pontes – na época diretora do Ciep 1º de Maio, que também brilhava nas provas Rio e Brasil – foi convocada para dirigir a escola. A empreitada não durou muito porque, um ano depois, ela foi chamada para coordenar o programa Escolas do Amanhã, da Secretaria Municipal de Educação (SME). Em seu lugar assumiu Viviany Cecy Elias, que trabalhava lá há poucos meses, mas era a única professora da unidade com curso de especialização em gestão.

Como, então, uma novata conseguiu melhorar ainda mais o padrão de desempenho de uma escola encravada em um dos bairros de mais baixo IDH do Rio de Janeiro? Segundo Viviany, a adaptação à cultura da comunidade foi um dos pontos fundamentais. Isso porque a esmagadora maioria da clientela da E.M. Rivadávia Manoel Pinto é oriunda do Nordeste e do interior de Minas Gerais. Além de ter hábitos distintos dos cariocas, domina pouco a língua escrita (muitos responsáveis sequer sabem assinar o próprio nome) e desconhece as práticas escolares, já que, em grande parte dos casos, os membros da família nunca frequentaram aulas regulares.

“Nas outras escolas onde havia trabalhado, a comunicação com os pais era normalmente feita por meio de circulares. Aqui, isso não funciona. Se vamos promover algum evento, como a festa de Dia das Mães, precisamos falar verbalmente com as famílias, seja na hora da saída, quando vêm pegar as crianças, ou por telefone”, explica. Essa cultura oral também era comum entre os alunos. Muitos tinham dificuldade de copiar e de escrever, muito embora já soubessem ler.

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A diretora Viviany Cecy na hora da saída: momento de construir um contato mais afetivo com os alunos e os responsáveis. Foto Alberto Jacob Filho, 2017, MultiRio

Se, de um lado, a diretora teve que se adaptar à cultura das famílias, de outro, estas também tiveram que se adaptar à cultura da escola. De acordo com Viviany, os responsáveis da comunidade não trazem, em suas histórias de vida, o conhecimento de como funciona uma instituição de ensino. Quando alunos têm faltas prolongadas, por exemplo, a Direção telefona para saber o motivo da ausência e, não raro, ouve justificativas como: “Ele não gosta de acordar cedo”, “Ela está cuidando do irmão mais novo”, “Ele está tomando remédio”... Se não fazem o dever é “porque eles não gostam”.

Diante de tais argumentos, a diretora, então, não titubeia em interferir: “Falo que, se o aluno não gosta de acordar cedo, é preciso criar nele um novo hábito; que não é papel de criança tomar conta de outra; que o aluno pode tomar remédio na escola... Enfim, tenho que ensinar aos pais as práticas de uma instituição de ensino e mostrar que a família tem responsabilidade em relação à frequência, aos estudos dos filhos, a colocá-los para fazer o dever de casa”.

Paralelamente às cobranças aos pais, a diretora criou outra estratégia: a de estar sempre no portão na hora da entrada e da saída, a fim de também construir uma relação calorosa e pessoal com eles. “Aqui, o que vale é o afeto, a palavra dita e não a escrita”, diz. E é assim – endurecendo sem perder a ternura – que a confiança mútua vai sendo construída, até que, em algum momento, a parceria família-escola se consolida.

O trabalho pedagógico

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Nina, professora fixa do 3º ano. Foto Jacob Alberto Filho, 2017, MultiRio

Segundo a professora de Artes Ana Carolina, que dá aula em todas as turmas da E.M. Rivadávia Manoel Pinto, o foco do trabalho da escola é sempre o aluno. “Temos que cuidar da aprendizagem deles”, diz. Mas como, no dia a dia, a unidade opera para concretizar a tarefa de que todos aprendam? Uma das estratégias que deram certo foi construir equipes fixas de trabalho por série.

“Aqui não costumamos mudar o ano em que o professor ensina. Temos, por exemplo, sete turmas de 2º ano. Os professores dessas turmas são sempre os mesmos e formam uma equipe. A partir dos descritores da SME e de nossas orientações, eles traçaram um planejamento. Isso inclui fazer as provas de nossos simulados semanais, que são as mesmas para todas as classes. A partir delas, vemos quais alunos precisam de reforço, quais conteúdos têm que ser reexplicados...”, conta Viviany.

Ainda de acordo com ela, essa forma de trabalho é interessante porque, se um professor falta, sabe-se qual assunto seria dado naquele dia, de forma que a diretora, a adjunta ou outro profissional da equipe possa cobrir a ausência.

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Trabalho das turmas da professora Ulyssia sobre o Menino Poti, livro de Ana Maria Machado a partir do qual os alunos estão sendo alfabetizados este ano. Foto Alberto Jacob Filho, 2017, MultiRio

A escola também tem um método bastante organizado de alfabetizar e ensinar a Língua Portuguesa, partindo sempre do texto, depois indo para a palavra e, por fim, para a sílaba.

Este ano, por sugestão de um projeto da Sala de Leitura, o ponto de partida de todas as turmas é a história narrada por alguns dos livros da escritora Ana Maria Machado. Cada professor escolhe uma obra de sua preferência, desde que seja adequada à etapa de aprendizagem de sua turma.

Para a diretora Viviany Cecy, o segredo do sucesso do trabalho pedagógico e da gestão da escola também reside na postura de buscar sempre uma solução para as demandas que surgem no dia a dia: “Os problemas de ontem podem não ser os mesmos de hoje. A forma de resolvê-los também. Tínhamos uma coordenadora pedagógica, não temos mais. Cada ano é diferente. Então, precisamos encontrar um jeito de fazer as coisas acontecerem com os braços que temos”.

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