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A escola e a saúde mental de crianças e adolescentes
10 Maio 2017 | Por Fernanda Fernandes
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Cuidar da saúde mental e emocional é tão importante quanto zelar pela saúde física de crianças e adolescentes. No entanto, o tema é visto como tabu pela sociedade, sobretudo em relação ao suicídio, mesmo depois de ter sido pauta dos veículos midiáticos nos últimos meses.

“Há um preconceito muito grande sobre abordar assuntos relacionados à saúde mental – como depressão, transtorno bipolar, crise de ansiedade, esquizofrenia, suicídio –, o que dificulta o acesso das pessoas a informações para lidar com possíveis problemas. É muito importante que isso seja falado nas escolas”, comenta o psiquiatra Gabriel Bessa.

A melhor maneira de a escola abordar essas questões, segundo o especialista, é dizer que elas existem e não são tão incomuns. “É preciso falar sobre suicídio, por exemplo. E isso não vai incentivar crianças e adolescentes, mas dar ferramentas para que eles aprendam a lidar com os próprios pensamentos e sentimentos. Adolescentes são mais frágeis, não estão com a identidade formada. É uma fase muito difícil e complexa, de várias mudanças, confusão hormonal e de escolhas; um mundo pela frente e o nada ao mesmo tempo. Mas, se a escola abordar o assunto, acolher essa forma de pensar, ajuda muito”, orienta o psiquiatra, ressaltando que o índice de suicídios vem aumentando no Brasil, principalmente entre mulheres na faixa de 14 a 22 anos.

Para identificar possíveis problemas ou riscos, Gabriel Bessa diz que escola e família devem estar atentas a mudanças de comportamento da criança ou do adolescente. “Se era mais ativo e perdeu a vontade de fazer atividades e sair; se tinha mais amigos e está mais isolado; se comia e dormia bem e agora não mais; se passa a faltar muitas vezes à aula. São sinais e, se perdurarem mais de duas semanas, é preciso ficar atento e procurar ajuda”, explica.

O documento Prevenção do Suicídio: Manual para Professores e Educadores, produção da Organização Mundial de Saúde (OMS) que busca orientar para o enfrentamento de situações que envolvem o risco de suicídio, reforça que “qualquer mudança súbita ou dramática que afete o desempenho, a capacidade de prestar atenção ou o comportamento de crianças ou adolescentes deve ser levado seriamente”, e também lista alguns sinais que podem ser identificados por um professor ou funcionário da escola, como: falta de interesse nas atividades habituais, declínio geral das notas, diminuição no esforço/interesse, má conduta em sala de aula, faltas não explicadas e/ou repetidas, consumo excessivo de drogas (incluindo cigarro e bebida alcóolica) e incidentes envolvendo a polícia.

Internet e tecnologias digitais: riscos e cuidados a serem tomados

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também produziu um manual de orientação que contém informações e recomendações para educadores e escolas. O documento Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital aborda questões relacionadas ao uso da internet e das tecnologias digitais e seus possíveis desdobramentos e riscos.

“O uso precoce e de longa duração de jogos online, redes sociais ou diversos aplicativos com filmes e vídeos na internet pode causar dificuldades de socialização e conexão com outras pessoas e dificuldades escolares; a dependência ou o uso problemático e interativo das mídias causa problemas mentais, aumento da ansiedade, violência, cyberbullying, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas auditivos por uso de headphones, problemas visuais, problemas posturais e lesões de esforço repetitivo (LER); problemas que envolvem a sexualidade, como maior vulnerabilidade ao grooming e sexting, incluindo pornografia, acesso facilitado às redes de pedofilia e exploração sexual online; compra e uso de drogas, pensamentos ou gestos de autoagressão e suicídio; além das “brincadeiras” ou “desafios” on-line que podem ocasionar consequências graves e até o coma por anóxia cerebral ou morte”, diz o documento publicado no final de 2016.

*Grooming: técnicas de sedução ou comportamentos sedutores nas redes sociais. Acontecem quando uma pessoa mal-intencionada ou pedófila tenta atrair uma criança ou adolescente com falsidades ou inventando histórias ou mentiras para capturar a atenção da vítima (Fonte: SBP).

*Sexting: mensagens, fotos ou vídeos de conteúdo sexual que são transmitidas como comportamentos de sedução ou atração de outra pessoa através da internet. Podem caracterizar exposição corporal de criança ou adolescente e crime de exploração sexual on-line. Frequentemente acompanham o ato de cyberbullying entre adolescentes (Fonte: SBP). 

Onde a escola pode buscar orientação e ajuda

Caso o professor ou outro funcionário identifique um aluno em situação de conflito ou vulnerabilidade, a escola deve buscar ajuda na unidade de saúde mais próxima. “O contato com essa unidade tem que ser direto. Algumas escolas ainda não exploram isso, mas estamos tentando fortalecer essa relação”, afirma Elisabete Alves, coordenadora, pela Secretaria de Educação, Esportes e Lazer – SMEEL, do Programa Saúde na Escola – PSE Carioca.

Ao mesmo tempo, segundo Elisabete, o caso deve ser encaminhado ao Núcleo de Saúde na Escola e na Creche (NSEC) da Coordenadoria Regional de Educação (CRE) correspondente, por meio de um documento que justifique o encaminhamento. “No NSEC, os casos são discutidos um a um por profissionais das áreas de Educação, Saúde e Assistência Social. Então, avaliam se há questões familiares ou escolares envolvidas, ou se é um caso de saúde mental individual”, explica.

Também é possível buscar ajuda nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), unidades especializadas em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente. O serviço é diferenciado para o público infantojuvenil (até os 17 anos de idade) através do Capsi. Lá, o tratamento pode ser feito de forma individualizada ou coletiva, em oficinas e grupos terapêuticos.

“Uma equipe multiprofissional faz o acolhimento e o plano de atendimento. Às vezes, a situação com o adolescente é mais pontual – uma briga na escola ou na família”, conta Anamaria da Costa Lambert, psicóloga, psicanalista e assessora de Infância e Adolescência da Superintendência de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Ações de promoção de saúde nas escolas

Segundo Anamaria, o trabalho integrado do PSE Carioca, por meio de parcerias entre a SMS, a SMEEL e a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), também possibilita a promoção de ações (capacitações, rodas de conversa etc) nas unidades educacionais, com a presença de profissionais de saúde para discutir determinados assuntos com a comunidade escolar, de acordo com o interesse ou demanda específica de cada local.

“Cada bairro ou região é uma pequena cidade, com situações específicas. Em Santa Cruz, por exemplo, as questões mais recorrentes são sobre drogas e violência. Quanto maior for a articulação entre escola e unidades de saúde, maior o potencial de resolução de problemas. As articulações dependem de as escolas conseguirem se abrir e terem tempo para conversar sobre isso”, afirmou.

A assessora também destacou atividades exitosas realizadas em algumas unidades e que podem ser consideradas ações de promoção da saúde mental. “Vimos muitas atividades que não eram necessariamente pedagógicas, mas que reuniam grupos de adolescentes para debater determinados assuntos e produziam diferença em toda a turma. Isso é espetacular! Também destaco a Rede de Adolescentes e Jovens Promotores da Saúde (RAP da Saúde) indo às escolas. Podemos chamar essas ações como de saúde mental porque articulam, integram. Sentar para conversar e, sobretudo, ouvir, sem julgar ou dizer o que a pessoa tem que fazer... algo que deveria ser normal, escutar o outro, mas não é. Os adolescentes precisam disso. É necessário dar espaço para que digam como são as coisas para eles. Essa conexão acontece muito com professores, como os de Educação Física, ou com a coordenação pedagógica, com inspetores – nos casos em que existem -, com quem está perto e se coloca mais próximo.”

“O tema suicídio não surge à toa. Pessoas estão desconectadas, há um distanciamento de suporte e apoio. Nem tudo se resolve com rede social virtual, e sim ao vivo”, conclui Anamaria.


Fontes:

Saúde da Criança e Adolescente na Era Digital. Disponível em: http://www.sbp.com.br/src/uploads/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf

Prevenção do Suicídio: Manual para Professores e Educadores. Disponível em: http://whqlibdoc.who.int/hq/2000/WHO_MNH_MBD_00.3_por.pdf

http://www.abp.org.br/portal/conheca-a-cartilha-para-combater-o-suicidio/

 
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