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Sentimentos positivos são indispensáveis para aprendizagem
05 Maio 2017 | Por Sandra Machado
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De acordo com a Neurociência, sentimentos e emoções têm uma influência relevante na nossa capacidade de pensar, decidir e se relacionar com o outro. Já existe a comprovação científica de que as emoções positivas aumentam a flexibilidade cognitiva, capacidade de atenção e de concentração. Quando a escola cria oportunidades para enriquecer esse tipo de experiência já nas séries iniciais, os benefícios psicossociais e de aprendizagem são inúmeros, sobretudo se, dentro da família, a afetividade estiver deixando a desejar. Nos últimos anos, surgiram várias organizações dedicadas a investir na expansão da Educação Emocional. No Brasil desde 2004, a Associação pela Saúde Emocional das Crianças (Asec) representa a Partnership for Children, onde se originou o programa Amigos do Zippy. O Portal MultiRio conversou com Tania Paris, fundadora da Asec, que presidiu até 2016 e onde atualmente exerce a função de diretora técnica. Professora com formação em Ciências Exatas, Tania se especializou em Educação Emocional na Inglaterra e no Canadá.

Portal MultiRio – Como e quando se iniciou a parceria entre a Asec e a Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Lazer (SMEEL)?


Tania Paris – Em 2010, tínhamos pessoas no Rio de Janeiro que estavam encantadas com o programa, já iniciado em São Paulo, mas que não eram ligadas à Secretaria. Foi quando surgiu a oportunidade de parceria com o Instituto HSBC, que abraçou a causa e ofereceu à SMEEL o apoio, durante um ano, para experimentação em uma das Escolas do Amanhã. A partir de 2012, ao se constatar a importância do programa, houve um aumento significativo dessa ajuda, e a Secretaria deu a diretriz de expansão para as unidades que mais precisassem. Automaticamente, essas unidades saíam da relação de risco.

Como o apoio do banco era restrito, poucas escolas contavam com o Amigos do Zippy por mais de um ano, o que tinha um efeito ruim, já que todo o trabalho da Asec na capacitação dos professores poderia continuar ali com investimentos menores. Mesmo assim, um ponto ficou muito claro: houve um impacto forte na ambiência das escolas. Depois do contato com o programa, o professor evolui e muda de postura no trato com os alunos, o que promove uma interação mais acolhedora. E aprende a criar um clima emocionalmente saudável ou clima emocionalmente seguro, como chamamos, no qual se investe na compreensão mais do que na repreensão. A criança que cresce num ambiente em que é muito repreendida não está emocionalmente segura porque não tem chance de ser ela mesma. Depois do programa, muda a relação dentro da sala e a ligação com a escola, que parece um lugar mais gostoso de estar e onde há um desejo maior de permanecer. Na verdade, existem dois detalhes: um é promover esse ambiente, outro é que o Amigos do Zippy cria oportunidades de desenvolvimento.

Alunos da E.M. Haydéa Vianna Fiuza de Castro criaram um game, consolidando o aprendizado no projeto Faz Game

O programa propriamente dito tem 24 aulas e abre espaço na grade curricular para atividades lúdicas, que caracterizam a forma de ministrar as aulas. Em 2017, não teremos patrocínio porque, dois anos atrás, o banco foi vendido. E somente em razão dos excelentes resultados é que houve continuidade até 2016. Em 2014, a SMEEL fez um acordo com a Unesco para realizar uma avaliação das Escolas do Amanhã, e alguns programas foram considerados exitosos – o Amigos do Zippy era um deles; outro, o Faz Game. Juntando os dois, os alunos da Escola Municipal Haydéa Vianna Fiuza de Castro (10ª CRE), em Santa Cruz, criaram um jogo que avaliza a Educação Emocional: há uma reação instintiva e habilidosa que as crianças puseram no game. Nessa escola, todo ano mudavam os professores no curso de formação do Amigos do Zippy para que mais profissionais se capacitassem – sempre no 2º ano do Ensino Fundamental, na faixa dos 6 aos 7 anos. A Haydéa foi destaque no relatório da Unesco e estudo de caso publicado na revista da instituição. A escola parece uma “ilha de paz” no lugar onde se localiza, porque tem um clima de alegria e de sorrisos, o que impacta, também, a educação formal.

PM – Em que escolas municipais do Rio de Janeiro o programa já foi implantado?

TP – Entre 2010 e 2016, chegou a 103 escolas, 412 professores e mais de 18 mil alunos. Isso é um patrimônio da cidade, porque a capacitação do professor fica para sempre.

PM – Qual a origem do modelo Amigos do Zippy?

TP – O Amigos do Zippy começou apoiado por um laboratório farmacêutico, mas desde o início foi desenvolvido sob a responsabilidade do Befrienders International, com sede em Londres, que é o equivalente do Centro de Valorização da Vida (CVV) em escala global. Hoje o Zippy está presente em 30 países, cada um com uma particularidade. O programa parte de um modelo de saúde de largo espectro que considera fatores de proteção à primeira infância, como, por exemplo, o aleitamento materno. A ideia era criar um programa com esse contexto na saúde mental, que começasse tão cedo quanto o aleitamento. O modelo foi estudado por um grupo de especialistas, que elaborou um conjunto organizado de técnicas. Acontece que a Educação Emocional é uma disciplina nova, conceitualmente surgida em 1988. Nossa geração não tinha Educação Emocional. O programa Amigos do Zippy ordena essa disciplina e os professores pegam muita coisa para si mesmos, aprendendo que é normal ter sentimentos desagradáveis. Por isso, nossa primeira ação é cortar os adjetivos: todos os sentimentos são naturais. O adulto precisa mudar paradigmas. Começa com os professores, que ficam “zipados”.

PM – Poderia nos contar alguma particularidade da experiência em outros países?


TP – Quando o programa foi testado na Lituânia, o país estava saindo do regime comunista, e lá existia a política do filho único. As crianças não falavam, eram extremamente contidas e tinham um desenvolvimento social baixo porque só se relacionavam com adultos. Apesar da situação muito específica, o programa conseguiu promover a voz dessas crianças e contou com um apoio incrível dos pais. O Amigos do Zippy também funciona muito bem em países que passam por experiências traumáticas.

PM – Existe chance de o programa continuar?

TP – Estamos em conversação com a SMEEL, mostrando o patrimônio que já foi alcançado e analisando possibilidades. Nossa tônica é buscar outra empresa com responsabilidade social que possa nos apoiar. Na etapa atual, o investimento é muito mais baixo.

PM – Mais algum aspecto que você gostaria de destacar?

TP – Tem, sim, um único detalhe: alguns anos atrás, o MEC abriu edital para programas que não fossem de educação formal e escolheu 25 tecnologias educacionais promotoras da educação integral e integrada – entre elas, a Amigos do Zippy. Onde existe o programa, é comum que a primeira palavra que a criança consaiga ler seja justamente “Zippy”. Porque até então a professora lia, e ela, agora, quer ler sozinha. Existe uma conexão. Se a criança não está emocionalmente bem, não está inteira no processo de alfabetização, não tem autoestima suficiente para poder se sentir segura e motivada. Com o programa, ela aprende a se comunicar, treina muito essa capacidade. É recorrente o professor dizer que a criança aprende a elaborar melhor as ideias oralmente. Existe nisso uma diferença do estudo da Língua Portuguesa mais calcado na forma escrita.

O Amigos do Zippy dá a situação emocional, nomeia para a criança o que ela sente, o que o outro sente e, assim, ela chega a uma elaboração mais complexa, gosta disso e se apropria desse repertório. São feitas dramatizações, se usam cartões com desenhos e frases que resumem uma determinada situação. Em geral, o clima numa sala de aula permite entender por que a criança não está progredindo – caso esteja vivenciando uma situação de violência doméstica, por exemplo. Se você mostra apoio, isso vai se refletir no processo de alfabetização. Há quatro anos, estamos fazendo pesquisas sobre esses fatores. O Amigos do Zippy incentiva o diálogo e, com isso, a criança pede ajuda, entrando no processo de alfabetização, com o professor mais ciente do progresso dela.

 
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