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Educação emocional ameniza efeitos da violência
05 Maio 2017 | Por Sandra Machado
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Qualquer escola que funcione em uma região marcada pela violência precisa de reforços. Felizmente, eles existem na forma de metodologias de Educação Emocional que vêm sendo aplicadas, com êxito, no Brasil e no mundo. Iniciada em 2007 com o nome de Rede de Proteção ao Educando, uma estrutura de trabalho multiprofissional presta apoio às escolas municipais do Rio de Janeiro: é o Proinape, ou Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas, mantido pelo Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (Niap).

Propositalmente, não existe um projeto predefinido. “Ele é construído junto com a equipe da escola. Chamamos essa escuta de diagnóstico, porque envolve vários segmentos – a Direção, os professores e os alunos, de acordo com a necessidade de cada caso. Partimos de um documento norteador de ações para desenvolver um projeto específico”, explica Marina Sodré, que integra o grupo da 2ª CRE, se referindo ao time de psicólogos, assistentes sociais e professores, todos servidores da Secretaria de Educação, Esportes e Lazer (SMEEL) – o que considera um dos diferenciais do trabalho, além do fato de não haver um modelo único de atendimento, o que permite uma participação maior dos envolvidos.

“Esse olhar interdisciplinar é fundamental, porque não existem respostas simples. Mesmo a Psicologia é um saber que precisa de diferentes perspectivas.” De acordo com a psicóloga, mestre em Saúde Coletiva e doutora em Psicanálise, atualmente as convocações mais comuns têm sido para intervir em escolas com aumento do índice de evasão e de infrequência. “A questão das áreas de risco já foi mais explícita”, conta Marina, lembrando que o Serviço Social é que estabelece o diálogo com outros interlocutores, como juizados e Conselho Tutelar. Algumas situações são bastante complexas, como as encontradas nas escolas que recebem muitos alunos moradores de abrigos. “Às vezes, o aluno tem dificuldade de aprendizado anterior, e o problema disciplinar é mais um reflexo do que uma causa. A gente vai fazendo leituras, a partir do seu histórico e também da escola, vendo como pode ajudar na mediação.”

Além do Proinape, a SMEEL autoriza a realização de dois outros programas voltados para o atendimento às crianças: o Uerê-Mello e o Amigos do Zippy. “Falar de emoções com elas não é um caminho simples”, afirma Katia Rios, do Niap, ressaltando que essa discussão já deveria estar na pauta dos cursos de formação em Pedagogia.

Aula de alfabetização emocional

Amigos do Zippy é um programa que começou no Rio de Janeiro em 2010, a partir de uma parceria entre a SMEEL e a Associação pela Saúde Emocional de Crianças (Asec). Ele oferece capacitação para os educadores e todo o material a ser utilizado nas aulas estruturadas: apostilas metodológicas, ilustrações que dão vida às histórias, moldes, pôsteres e até mesmo guias para os pais. A técnica foca o aprendizado de lidar com dificuldades de forma crescente, das mais simples às mais complexas, como a perda de um ente querido. “O professor aprende a criar um clima emocionalmente saudável ou clima emocionalmente seguro, como chamamos, no qual se investe na compreensão mais do que na repreensão”, explica Tania Paris, fundadora da Asec, a qual presidiu até o ano passado, e da qual, atualmente, é diretora técnica.

logozippyEm risco de descontinuidade por falta de patrocínio – até 2016, um banco privado financiava o programa –, o Amigos do Zippy já beneficiou mais de uma centena de escolas da Rede Municipal de Ensino. “Durante esses anos, o programa chegou a 103 unidades no Rio, 412 professores e mais de 18 mil alunos. Isso é um patrimônio da cidade porque a capacitação do professor fica para sempre”, ressalta Tania. Subvencionado por um laboratório farmacêutico, desde a origem o programa esteve sob a responsabilidade do Befrienders International, com sede em Londres, que é o equivalente do Centro de Valorização da Vida (CVV) em escala global. Hoje, o Zippy está presente em 30 países.

 

A pedagogia Uerê-Mello

Implementada na Rede Municipal de Ensino desde 2009, a metodologia foi desenvolvida por Yvonne Bezerra de Mello, coordenadora executiva do Projeto Uerê, uma escola-modelo que atende a mais de 400 crianças por ano no Complexo da Maré, em complementação ao ensino formal. “Tudo começou quando falei com a então secretária de Educação, Claudia Costin, sobre a necessidade especial das unidades em zonas de risco – as Escolas do Amanhã. Combinamos que eu aplicaria a pedagogia Uerê-Mello, a princípio, nas 20 piores. Durante sete anos, a Unesco encampou esse trabalho. Até hoje, a Secretaria permite que eu capacite os professores, porque deu muito certo”, explica Yvonne, que, dentro de poucas semanas viaja para dar treinamento a professores em campos de refugiados na Grécia e na Alemanha.

Doutora em Linguística e Filologia, Yvonne acaba de levar seu método aos professores da E.M. Atenas (9ª CRE), em Inhoaíba, e conta que, atualmente, a demanda maiorlogouere250 vem das unidades localizadas na Zona Oeste. “Eu já capacitei profissionais de 160 escolas. Não cobro nada, é dever meu. Mesmo que não usem integralmente, como é o caso da Atenas, elas adaptam partes. Entre 2008 e 2015, todos que passaram pela Escola de Formação do Professor Carioca Paulo Freire tiveram contato com o método.” Yvonne reforça a percepção de Katia Rios, do Niap, sobre a lacuna em Educação Emocional: “Professores novos saídos das universidades não têm essa área. Não há aprendizado sem emoção”.

O método Uerê muda a gestão na sala de aula. Não existe uma aula com 50 minutos de duração, mas, sim, a matéria explicada em 12, 13 minutos. O conteúdo não é alterado e existe muita interação oral. “Não tem criança copiando porque você não entende escrevendo. Tem criança se comunicando.” De acordo com Yvonne, os bloqueios cognitivos, inclusive os causados pelo contato com um ambiente violento, não afetam a inteligência. Mas, então, por que alguns não aprendem? “Não dá para uma criança de 5 anos ficar quatro horas sentada. São as leis da infância. Tem que ser uma coisa viva. Proponho a ideia de uma nova escola, que pede uma revisão a cada dois ou três anos porque, com o acesso à tecnologia, mudam as sinapses e a forma de o cérebro trabalhar. Trabalho com a neuroplasticidade“. Embora o Projeto Uerê funcione em uma área de conflito armado, a professora diz que as crianças são calmas porque têm um entendimento melhor da realidade e se sentem em um território seguro – pelo menos quatro vezes por ano, fazem treinamento de guerra para chegar aos lugares mais protegidos da escola. A formação na metodologia Uerê-Mello vai voltar a ser disponibilizada no site no segundo semestre, porque está passando por uma revisão. Quanto aos cursos presenciais, as escolas interessadas precisam fazer contato por meio da SMEEL.

 
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