O rosto pintado de branco, os olhos contornados de preto e a boca exageradamente desenhada ressaltam as expressões faciais. As mãos enluvadas se movimentam em gestos mágicos, transmitindo mensagens e comunicando-se, sem palavras, com o público. Não há quem não preste atenção naquela imagem.
Os atores da mímica se fazem presentes em nossas vidas, brincando com os fatos do cotidiano e chamando a atenção para o que, muitas vezes, não percebemos: os sentimentos de alegria ou tristeza, a raiva, a dor, o absurdo e o ridículo de certos comportamentos, tentando corporificar a vida em sua plenitude.
Essa arte do gesto está nos teatros, nos parques, nas praças de alimentação dos shoppings, nos sinais de trânsito. Ela procura retratar a ação, o movimento da vida e é considerada um dos meios mais antigos de autoexpressão, sendo a base da comunicação do homem pré-histórico, que, em seus ritos, incorporava gestos e sons.
Na Grécia Antiga e em Roma, a mímica era um recurso usado em sátiras e comédias como forma de interpretação dramática. A arte da mímica, na Idade Média, foi preservada por atores que se deslocavam percorrendo cidades e apresentando espetáculos teatrais e circenses, principalmente em praças e mercados.
No século XVI, as companhias italianas da chamada commedia dell’arte exibiam uma concepção teatral característica, incluindo várias formas de representação – o gesto mímico, a dança, a acrobacia –, intensificadas pela presença plástica das máscaras, que determinavam papéis para os atores, conduzindo pensamentos e sentimentos através da ação.
Marceau, Chaplin e Luís de Lima
O trabalho dos mímicos tornou-se extremamente popular por apresentar temáticas contemporâneas, com forte caráter crítico, e estabelecer fácil comunicação com as plateias. Essa manifestação artística chegou ao século XX, quando vários artistas destacaram- se individualmente, como o brilhante ator francês da mímica Marcel Marceau, criador do personagem Bip, adaptado do pierrô da commedia dell’arte.
A arte da mímica construiu também seu espaço no cinema mudo, no qual surgiu a figura de Carlitos, interpretada brilhantemente por Charles Chaplin, que expressava, com humor e romantismo, a ansiedade dos tempos modernos.
Na década de 1950, essa técnica teatral chegou ao Brasil com o português Luís de Lima, ator, tradutor, diretor, mímico e professor. Ele influenciou toda uma geração de artistas direcionados ao estudo e à representação da sutil linguagem da mímica, tais como: Ricardo Bandeira, Juarez Machado, Denise Stoklos, Jiddu Saldanha, Luís Louis e Josué Machado
A mímica nos permite viver experiências de descoberta e redescoberta das coisas do mundo, por meio da interpretação do gesto, presente também na habilidade dos desenhistas, dos pintores e dos escultores, nos movimentos dos bailarinos, na interpretação dos músicos e dos cantores e na atuação de muitos atores, como humoristas e palhaços.
O palhaço também é um mímico?
Nos circos europeus, o palhaço sempre usou mais a mímica do que a palavra para estabelecer a comunicação com as plateias. O trabalho itinerante circense, por lugares e culturas diferentes, tinha na arte do gesto uma aliada, quebrando a barreira dos idiomas.
As imagens brincantes dos personagens do circo nos remetem a um mundo de magia, no qual a alegria dos palhaços, a flexibilidade dos acrobatas e o mistério que envolve os mágicos prescindem da palavra em favor do gesto e da música.
O circo contemporâneo inclui aspectos tradicionais e novidades tecnológicas. Os espetáculos do internacional Cirque du Soleil e dos grupos brasileiros, como a Intrépida Trupe e os Parlapatões, são exemplos da permanência e da renovação da arte circense.
(Texto de Mércia Maria Leitão e Neide Duarte, extraído do fascículo Artes, Artistas e Arteiros, da MultiRio).