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A cidade chega aos anos 1990 com vários problemas, entre os quais os extensos engarrafamentos provocados, entre outras coisas, pelo excesso de veículos particulares nas ruas (Crédito: revistadehistória.com.br)

A década de 1990 caracterizou-se por um lento processo de retomada do crescimento econômico e social da cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, seus moradores continuaram a enfrentar vários problemas, muitos deles construídos ao longo do tempo e cujo efeito ainda se constitui em desafios a vencer. Estudos nesse sentido abordam frequentemente a existência de inchaço populacional no Rio, como em outros grandes centros urbanos. No caso do rodoviarismo, apontam para um importante paradoxo: a maior parte das pistas não é ocupada pelos transportes de massa, e sim por veículos particulares.

Há outras questões de imensa importância que permeiam a época e ainda estão sem solução: moradia de qualidade para a população de baixa renda; aumento da malha ferroviária e metroviária; combate ao desmatamento das áreas florestadas e poluição dos corpos hídricos; e a garantia à população do direito de ir e vir com segurança. Tais fatos, que fazem parte do dia a dia, exigem uma atenção especial dos cariocas, que desejam viver em um Rio melhor.

Segundo palavras da arquiteta e urbanista Elisabete França, a “cidade contemporânea é complexa, multicultural, desafiadora e atrativa. Nela, não há espaço para os antigos conceitos conservadores do urbanismo formal dos séculos XIX e XX”. Dezenas de dificuldades pedem soluções particulares e diferenciadas. A cidade é um sistema espacial complexo, composto por uma multiplicidade de lugares; fragmentos urbanos carregados de mensagens e de símbolos que, geralmente, trazem impressões e informações sobre a sociedade que os criou, sobre sua história, sua cultura e suas realizações socioeconômicas. “No interior da grande cidade de todos está a pequena cidade em que realmente vivemos”, considera o escritor José Saramago.

Ao longo dos anos 1990, ao lado da ideia da sobrevivência, despontou a questão da cidadania, que cobrava moradia, serviços de saneamento, ruas pavimentadas e a organização do espaço urbano. São conceitos que permearam, na década, os variados tipos de intervenção na cidade. O resultado dessa consciência foi a adoção de novas formas de atuação das administrações, nas suas diferentes esferas, implantando políticas urbanas que objetivavam garantir um espaço público de qualidade.

O objetivo era (e continua sendo) substituir a ideia da distância, da separação e da solidão, e transformar o Rio em um local cada vez mais atrativo, receptivo e generoso, aberto à utilização dos seus habitantes, alcançando o que os estudiosos nomeiam como a desmaterialização da cidade. Nessa direção, no dizer do arquiteto e urbanista Augusto Ivan de Freitas Pinheiro, a cidade “resiste para se oferecer ao futuro”. Resiste através do casamento entre o mar e a montanha; persiste na capacidade de inventar e na criatividade de sua população; se perpetua no casario do entorno da Praça Quinze (que insiste em contar o tempo); mostra seus contrastes, mesmo ao longo da sua orla do Leme ao Pontal. E, acima de tudo, ela é carioca.