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Cena cotidiana da Rua da Ajuda no momento da troca de óleo do lampião. Gravura de 1816 (Crédito: Jean-Baptiste Debret)

A mudança da antiga realidade colonial no Rio de Janeiro – nova sede da monarquia portuguesa – prosseguia. Afinal, uma corte que se preze deve estar dotada de “distinção, grandeza e civilidade”, segundo palavras da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz. A cidade “deveria estar apta para cumprir o seu papel de sede da monarquia e cartão-postal do Império”, recebendo representantes diplomáticos dos países europeus e dos novos países americanos, como os Estados Unidos da América. Segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda, “a sociedade refinava-se”. Mudava a sua aparência, e o que era novo chegava à cidade pelas mãos dos viajantes europeus.

O número de habitantes do Rio de Janeiro passou de 50 mil para 100 mil durante o período em que D. João (1767-1826) esteve na cidade. Além dos novos moradores que acompanharam a família real, europeus de diversas nacionalidades vinham fazer negócios ou tentar outras oportunidades nas suas vidas. Diariamente, novidades alcançavam a antiga capital dos vice-reis em forma de mão de obra qualificada: modistas, ourives, sapateiros, cozinheiros, alfaiates, padeiros, vidraceiros, farmacêuticos, professores, médicos.

As moradias perdiam aquela face austera e modesta dos tempos anteriores. No seu interior, volta e meia aconteciam reuniões concorridas e bailes. Os mestres de dança ganhavam prestígio. As salas de música compunham o cenário dessas habitações, onde as mulheres, quando apareciam em público, deveriam adotar um comportamento bastante discreto, sendo notadas pela elegância das roupas e pelos gestos contidos à moda francesa. Costumes familiares mudavam. As damas mais abastadas, vestidas da cabeça aos pés seguindo a moda, passavam, aos poucos, a frequentar espaços públicos, como as ruas e os teatros, quebrando a reclusão do lar. Iam às lojas de modas, às joalherias, às igrejas, como sempre, acompanhadas.

Com o passar do tempo, funcionários mais graduados começaram a comprar chácaras ou quintas em locais próximos ao Centro, como a Rua Mata-Cavalos (atual Rua do Riachuelo), e em seus arredores: Catumbi ou São Cristóvão (onde ficava o Paço Real). No jogo do poder, repleto de interesses, estar próximo das augustas majestades, ser amigo do rei, resumia o sonho de consumo de incontáveis súditos, embora poucos desfrutassem de tal privilégio.