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Com o regresso de D. João VI a Lisboa e as tentativas recolonizadoras dos portuguesas, as forças políticas ficaram polarizadas no Brasil. Litografia, c. 1825. Domínio público, Biblioteca Nacional de Portugal

A partida de D. João VI acarretou a polarização das forças políticas no Rio de Janeiro. De um lado, o Partido Português, defendendo a recolonização, agrupava comerciantes e militares insatisfeitos com a autonomia da colônia. De outro, o Partido Brasileiro, que estava dividido em dois grupos: os democratas e os aristocratas, ambos com o mesmo interesse – a monarquia constitucional.

Havia ainda os absolutistas, que insistiam na defesa do poder absoluto do rei e eram contra as Cortes que desejavam uma monarquia constitucional. Apesar de serem chamados de partidos, eram na verdade grupos de pessoas que se uniam em defesa de seus interesses. A designação – Partido Português e Partido Brasileiro – não tinha sentido de nacionalidade, visto que brasileiros e portugueses eram encontrados em ambos os grupos.

O perigo da recolonização, mais forte a partir das ordens que exigiam o imediato regresso do príncipe D. Pedro, permitiu que absolutistas, democratas e aristocratas se unissem contra o inimigo comum – as Cortes portuguesas, representadas aqui pelo Partido Português. Afinal, apesar de suas diferenças, não podiam permitir que o príncipe se submetesse à política das Cortes. No entanto, democratas, aristocratas e absolutistas divergiam entre si.

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Joaquim Gonçalves Ledo, líder dos democratas. A estátua integra o conjunto do Monumento do Ipiranga, inaugurado em 1922 em homenagem ao centenário da Independência do Brasil. Foto Dornicke, Wikimedia Commons

Os democratas, liderados por Gonçalves Ledo, destacavam a importância do Poder Legislativo, defendendo a convocação de uma assembleia constituinte para o Brasil com representantes de todas as províncias, o que permitiria a igualdade de representação e a vontade da maioria da sociedade. Alegando que "quem governa com o Povo, governa com a força", propunham eleições diretas. No entanto, o Povo não significava a massa da população, "a plebe" e os escravos, mas tão somente a camada proprietária de escravos e de terras, branca e livre, essa sim a "maioria" da sociedade política.

Os aristocratas, por sua vez, orientados por José Bonifácio, eram favoráveis à formação de um Poder Executivo forte, capaz de manter a unidade territorial e política, evitando a fragmentação, como ocorrera na América espanhola. Consideravam "inaceitável" o predomínio do Poder Legislativo e adotavam uma posição hierarquizada, em que somente teriam representação os melhores da "maioria". Defendiam a eleição indireta, opondo-se às ideias de fundo republicano.

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José Bonifácio, líder dos aristocratas. Detalhe de gravura em cartão (13,4 x 9 cm) publicada pela Livraria J. G. de Azevedo, século XIX. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Até o final de 1821, aristocratas e democratas, membros do Partido Brasileiro, acreditavam que a fórmula ideal para fortalecer a autonomia do Brasil seria a manutenção do Reino Unido. Porém, com o passar do tempo, ante a pressão das Cortes, expressa por decretos recolonizadores e pela exigência do retorno imediato do príncipe D. Pedro, a separação passou a ser vista como a única solução possível.