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A Disputa Política e o Problema Social em Pernambuco

Movimentava-se em Pernambuco, aos poucos, vindo das ruas, segundo Amaro Quintas, um "turbilhão popular", que não seria, contido, mesmo que alguns membros da cúpula praieira tivessem intuitos puramente políticos desejando, apenas, alcançar posições de mando. O embate em gestação, principiado na imprensa, evoluída para uma disputa política - mais tarde armada - acirrada.

Nas ruas, os versos populares instigam, provocando:

"Machado que corta lenha
Também corta mulungu
Praieiro que tem vergonha
Não fala com guabiru".

O problema social em Pernambuco preocupava extremamente todos aqueles que eram impelidos por razões humanitárias e idealistas e desejavam encontrar soluções para os problemas mais emergentes da sociedade da Província. Por isto Antônio Pedro de Figueiredo, imbuído deste espírito de reforma social, escrevia: "Que são as reformas políticas sem as reformas sociais? Uma máscara e nada mais".

Outros, do lado oposto, situacionistas, eram movidos, segundo o que se comentava, por interesses pessoais e eleitorais. Borges da Fonseca, que costumava declarar que "só tinha compromissos com o povo", prevenia a 23 de junho de 1848, em O Nazareno: "Não se iluda o povo. Há espertalhões que (...) querem uma oligarquia, onde só governem os brancos (...) A liberdade deve ser conquistada para todos (...), porque todos somos filhos de Deus."

A 2 de fevereiro de 1844 os liberais voltaram ao poder com a subida do gabinete chefiado por Almeida Torres, futuro Visconde de Macaé. Entretanto, em Pernambuco, não ocorreria uma mudança significativa e favorável à facção vitoriosa. Apesar do controle dos "guabirus", as eleições à Assembléia Geral tiveram como resultado uma bancada maciçamente praieira. No ano de 1845, foi nomeado para a presidência da Província o Desembargador Antônio Pinto Chichorro da Gama, liberal e pessoa de confiança dos praieiros.

Sua administração foi assinalada pelo desmonte da estrutura política herdada do período do domínio dos Cavalcanti. Abriu inquéritos, devassando engenhos onde chegou a encontrar inúmeros escravos roubados. Paralelamente, enfrentava agitação e inquietude provocada pelos antagonismos políticos.

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Em Recife, Chichorro enfrentou constantes motins e levantes como os "mata-mata" de 1847, quando portugueses foram atacados. Estes negociantes estrangeiros, vistos como inimigos, classe exploradora, "marotos", motivavam o canto que se ouvia por Recife afora:

"Corja de vis marotos,

Amigos das borracheiras

Dar-vos-emos a resposta

Nas pontas das lambedeiras".

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A cidade vivia em polvorosa prenunciando um movimento armado que se aproximava cada vez mais... Neste clima turbulento, a 2 de abril de 1848, o presidente Chichorro da Gama foi exonerado. No período de quase sete meses, cinco outros presidentes ocuparam o Governo da Província sem conseguir conter as agitações que se alastravam. A situação de Pernambuco ressoara no Rio de Janeiro, ocasionando a queda dos liberais no Governo do Império.

Para formar o novo Ministério conservador, D. Pedro II chamou em 29 de setembro de 1848 Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda, parente dos Cavalcanti. Quase ao mesmo tempo, na França, a reação burguesa contivera e abatera as transformações mais radicais iniciadas em fevereiro daquele ano. Isto mereceu uma observação de Nabuco, que percebendo os fatos declarara: "O efeito da Revolução de Fevereiro em França estava gasto."

    A Revolta Praeira